Não é à toa que o Piauí ocupa o 4º lugar no ranking de queimadas, pois não é uma tarefa difícil encontrar um foco de incêndio no Estado. Basta percorrer algumas estradas que dão acesso ao interior ou ate mesmo permanecer na Teresina, que a fumaça já pode ser vista.
De acordo com números do Ibama, do início do ano até agora, 4.636 focos de incêndio foram registrados. Até a manhã de ontem, o número de registro de focos era 1.412, dado referente apenas ao mês de agosto.
Francisco Celso de Medeiros, coordenador estadual do Prevfogo, afirma que a situação do Estado deve se agravar ainda mais. Ele explica que os meses de outubro e novembro é o período de maior incidência de queimadas. ?Não chegamos ainda no período que geralmente apresenta uma maior incidência. Nesse sentido, a expectativa é que a situação se agrave?, relata o coordenador.
Neste ano, até o mês de agosto, 4.636 focos de incêndios foram registrados. Isso representa 2.502 focos a mais do que foi contabilizado nesse mesmo período de 2011, quando o registro de focos foi de 2.134. ?Em 2011, só no mês de agosto, o número de focos foi de 650, já este ano, nesse mesmo mês, o número é 1.412. Isso é um aumento muito grande e por isso a situação é considerada crítica?, pontua o coordenador.
Segundo o Corpo de Bombeiros, somente até julho deste ano, 594 ocorrências foram atendidas. Um total de 320 foram chamados em fogo no mato e 274 em terrenos baldios. Em relação a 2011, as ocorrências atendidas durante todo o ano foram de 474 de fogo no mato e 576 em terrenos baldios. Por conta da grande demanda, o Corpo de Bombeiros não tem como atender todos os chamados. Os quartéis localizados nas cidades de Picos, Floriano, Parnaíba e Teresina atendem a sede e as adjacências para tentar levar o serviço onde exista necessidade.
Os municípios do sul do Estado, como Santa Filomena, Uruçuí e Baixa Grande do Ribeiro, aparecem como as cidades com condições mais complicadas. Para amenizar a situação, as brigadas do IBAMA atuam em sete cidades (consideradas críticas) e trabalham na proteção das unidades de conservação e de ecossistemas preservados.
Corrente, Bom Jesus, Alvorada do Gurgueia, Canto do Buriti, Uruçuí, Baixa Grande do Ribeiro e Piracuruca são os municípios atendidos. Agricultores devem ter autorização da Semar.
Queimada deixa solo empobrecido
Na agricultura, queimar é a maneira mais barata para limpar uma área, por isso é bastante utilizada. Segundo o engenheiro agrônomo e vice-presidente do Crea, Ulisses Filho, por conta da condição financeira, os agricultores acabam optando pela prática das queimadas. Ele aponta que essa já é uma questão cultural e que a solução é que exista um acompanhamento técnico dessas ações. ?Os agricultores não possuem essa postura à toa, a maioria deles não possuem tecnologias e por isso podem ser colocados na área de segurança alimentar. Como eles vão plantar e como vão sobreviver se não for dessa maneira? O que realmente deve acontecer é um controle mais efetivo para que estas atividades não se tornem um problema ainda maior?, esclarece o engenheiro agrônomo.
Ao realizar a queimada, ocorre a degradação do solo, alterando características físicas, químicas e biológicas de todo o ecossistema. O empobrecimento do solo causado pela eliminação dos microorganismos essenciais para a fertilização através da queimada altera os nutrientes, como o cálcio, enxofre e potássio. ?Toda atividade microbiológica do solo é perdida após a queimada. A quantidade de nutrientes presente na terra diminui?, finaliza Ulisses Filho
Fumaça e resíduos causam alergias e infecções respiratórias
A queimada é um fator agravante de problemas respiratórios tanto para adultos quanto para crianças. Por conta da fumaça tóxica e de pequenos resíduos que são transportados pelo ar, vários problemas respiratórios vêm sendo causados. De acordo com o otorrinolaringologista Vitor Campelo, as complicações na saúde vão desde alergias até infecções respiratórias. ?A fumaça é um agente irritante e causa efeito em quem tem alergia.
Asma, rinite e outa séries de doenças são geradas em pessoas que se expõem constantemente à fumaça das queimadas. Ainda por conta dessa prática, o número de pessoas internadas nos hospitais vem crescendo?, comenta o otorrinolaringologista.
Para minimizar os efeitos maléficos que vão desde a sensação de ressecamento nasal até efeitos mais graves, o médico orienta que as pessoas se hidratem e que deixem o ambiente mais úmido, seja com o uso de um umidificador ou até mesmo uma bacia d?água.
?A hidratação é uma importante aliada nessa época. Lavar o nariz com soro fisiológico, fazer a hidratação oral e usar umidificadores de ar são algumas das estratégias?, recomenda Vitor Campelo.