Viver com um câncer é um desafio e correr para tratá-lo pode ser um sofrimento para muitos pacientes. Com 224 municípios no Piauí, apenas Teresina e Parnaíba têm hospitais habilitados para tratar o câncer no Estado. O ideal deveria ser de 6 unidades de saúde para suprir pacientes oncológicos.
Atualmente, os estados do Nordeste devem ter, por parâmetro, um hospital de câncer para cada 500 mil habitantes. Os dados estão relacionadas à Política Nacional de Prevenção e Combate ao Câncer no Brasil. No Piauí, com 3,195 milhões habitantes, isso implica uma necessidade maior no número de hospitais. Contudo, apenas o Hospital Universitário (HU), em Teresina, e dois hospitais da rede privada, um em Teresina e outro em Parnaíba, fazem parte da rede credenciada de atenção ao Sistema Único de Saúde (SUS) no tratamento oncológico.
Para Elizabeth Monteiro, coordenadora da Rede de Atenção com Pessoas com Doenças Crônicas (Rapidc) da Secretaria de Saúde (Sesapi), a descentralização do atendimento é reflexo de melhoras baseadas na Portaria Nº 140/2014, do Ministério da Saúde, que buscou uma reestruturação do sistema.
“O Estado, atento a isso, criou um plano estadual de oncologia aprovado em 2015 e priorizou a descentralização do serviço de oncologia. Os diagnósticos de oncologia são dados pelos médicos da atenção básica que encaminham os pacientes para um hospital de média complexidade, onde será observado se há necessidade de cirurgia e tratamento, e só depois o paciente será direcionado à rede hospitalar credenciada para químio ou radioterapia”, acentua a coordenadora.
Conforme ela analisa, toda a alta complexidade estava concentrada a uma só rede e é necessário criar polos de atendimento contra o câncer no Estado. “Temos no plano a abertura de mais uma rede credenciada na região de Picos ou Floriano em 2019”, traçou.
Atendimento
De acordo com as normas impostas pelo SUS, é necessário que o paciente apresente uma série de documentos para a realização dos tratamentos de quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia, iodoterapia e cirurgia.
“O paciente com diagnóstico de câncer é encaminhado pela Secretaria Municipal de Saúde de Teresina. Os casos de câncer diagnosticados no Estado inteiro são encaminhados para Secretaria Municipal de Saúde, e a própria secretaria direciona esse paciente para um dos hospitais que prestam atendimento. A rede privada credenciada ao SUS trata 97,9% dos casos de câncer na população adulta e 100% dos casos de câncer da criança e adolescência dos pacientes do SUS”, esclarece Dr. Marcelo Martins, diretor médico de um dos hospitais privados da rede credenciada.
Quase todos os atendimentos dos casos de câncer são feitos em Teresina. Os pacientes vêm de estados como Amazonas, Pará, Tocantins e Maranhão. Como a demanda de pacientes de outros estados em busca de tratamento no Piauí, isso reflete na espera pelo tratamento. As consequências do dimensionamento ineficiente e da centralização dos atendimentos na capital geram fatalmente numa sobrecarga de pacientes, que ficam fragilizados quando trocam de municípios, isso porque os tratamentos são contínuos.
Piauí não tem hospital público para tratamento
Das três redes credenciadas, nenhum é gerido pelo Estado ou município. Os demais são privados ou filantrópicos, cujos contratos com o Ministério da Saúde são feitos por meio da Fundação Municipal de Saúde; e um federal, vinculado à Universidade Federal do Piauí (UFPI). Dos hospitais, todos oferecem do diagnóstico ao tratamento de quimioterapia. O HU dispõe de tratamento para cinco tipos de câncer. O tratamento do câncer também está disponível na rede privada, outras seis clínicas têm o serviço e apenas uma delas com radioterapia.
Por mês, 300 novos casos de câncer são notificados no Estado. Hoje, quase em sua totalidade, todos os pacientes com câncer são encaminhados apenas para uma rede credenciada ao SUS. O hospital privado de Teresina é o único do Estado que atende todos os tipos de câncer. Por vez, este que possui os dois únicos aparelhos de radioterapia no Piauí, e funcionam em regime de 24h para atender toda a demanda de pacientes do SUS.
“O tratamento de radioterapia em outros estados demora mais de seis meses para iniciar. Isso não acontece aqui em Teresina. Nossas duas máquinas já não dão conta da demanda, por isso estamos adquirindo uma terceira máquina de radioterapia para dar conta dos tratamentos. Vamos buscar o paciente em casa e retornamos com ele do mesmo jeito com segurança, inclusive à noite”, esclarece Dr. Marcelo Martins.
Recursos
A habilitação de novas unidades para ofertar tratamento oncológico é feita pelo Ministério da Saúde, mas depende de sinalização das secretarias locais para acontecer. O Ministério da Saúde garante a maior parte dos recursos no que diz respeito à assistência oncológica, mas os estados e municípios devem reforçar sua rede de atendimento.
Deficiência
O problema na ampliação dos atendimentos está no congelamento dos reajustes na saúde. Serviços oncológicos são extremamente caros e estão com a tabela defasada, o que faz com que hospitais privados se neguem a sobrecarregar suas estruturas pelos reajustes pagas pela tabela do SUS.
As direções dos hospitais foram procuradas na reportagem e afirmaram que “o Estado deve ampliar a rede de atendimento e que a população não ficará desassistida.