Hoje, dia 27 de julho, é o Dia Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho. A data talvez não signifique nada para quem nunca se deparou com casos de acidente no ambiente de trabalho, mas quem já passou por alguma situação dessas é difícil não lembrar o dia. Instituída há 42 anos, a data foi criada depois de o Brasil tornar-se o 1º país a ter um serviço obrigatório de segurança e medicina do trabalho em empresas com mais de 100 trabalhadores.
Mesmo com esse tipo de exigência, onde cabia as empresas fornecerem equipamentos e condições seguras de trabalho para seus funcionários, o número de acidentes é elevado em todo o país. A maior parte dos acidentes de trabalho acontecem na área da construção civil e são originados por quedas. Dados divulgados no primeiro semestre pelo Ministério da Previdência Social revelam que, no Brasil, a cada dois dias, sete pessoas morrem, em média, em decorrência de acidentes de trabalho. O levantamento do Ministério da Previdência Social refere-se ao cumulativo do exercício de 2012 em todo País.
No cenário nacional, o Piauí é o segundo estado com maior índice de acidentes de trabalho. Números do Ministério do Trabalho e Emprego apontam ainda que, somente no ano de 2013, foram 16 acidentes com vítimas fatais, dos quais, 10 são no setor da construção civil.
Fernando ferreira de Sousa, de 31 anos, não esquece nenhum detalhe do acidente de trabalho que mudou totalmente sua vida. Há cinco anos, ao ser convidado para trabalhar em um serviço de desmanche de supermercado, não exitou e logo aceitou a proposta. Sem poder prever o que aconteceria, iniciou o trabalho junto com outros três colegas.
Ao chegar na parte do desmanche de caibros, já que ele optou por deixar os companheiros nos serviços mais baixos e estava na parte mais alta do local, o pior aconteceu.
?Estava finalizando o serviço. Estava tirando o último caibro, mas quando o retirei e fui procurar algo para segurar, cai?, lembra Fernando ao acrescentar que no chão haviam restos de construção e ele despencou em cima de um pedaço de concreto. ?Foi esse pedaço de concreto que me fez ficar em cadeira de rodas. Beti forte a coluna em cima dele?, lamenta.
Logo depois da queda, Fernando desmaiou e ao recuperar a consciência, já não sentia mais as pernas. Ele conta que uma das principais dificuldades foi a espera pela cirurgia. Foram 16 dias na espera para ser transferido do Hospital de Urgência de Teresina (HUT) para o Hospital Getúlio Vargas (HGV). ?No HGV ainda passei 10 dias para fazer a cirurgia?, declara lamentando, que acredita que caso tivesse feito a cirurgia mais cedo, as consequências não teriam sido tão graves?, declara.
Fernando não recebeu nenhum tipo de reparação por conta do acidente. Ele revela que 30 dias após o acidente o dono do local em que o acidente ocorreu faleceu e ninguém apareceu para, ao menos, conversar sobre a sua situação. ?Não tinha como ir atrás. Estava preocupado era com minha recuperação e também indignado por saber que as pessoas trabalhando se acidentam, enquanto que tem outras que pulam de lugares altos para roubar e não sofrem nada?, reclama.
Em busca do 100%
Passada a cirurgia, Fernando foi informado que a única coisa que não poderia faltar para sua recuperação era paciência, já que sua melhora poderia ser em um período longo ou muito longo. Mas, além da paciência, ele pôde contar com atenção da equipe do Centro Integrado de Reabilitação (CEIR).
Hoje, ela está com 4 anos de Ceir e revela que foi uma das melhores coisas que lhe aconteceu e que lá é o único local para onde vai. ?Se eu estava 100% ruim, com ajuda do Ceir hoje estou 50%. 100% ficarei quando conseguir voltar a caminhar?, destaca ao elogiar todo o acompanhamento que recebe do Centro nas três vezes por semana que frequenta o local.
?Quando as pessoas me viam elas diziam que eu não passava de um mês, porque estava muito debilitado. Quando cheguei ao Ceir, recebi atendimento de todas as áreas, foi mais de um ano só com avaliação de especialistas até eu ter atendimento com o fisioterapeuta?, diz.
Mesmo com essa força de vontade, Fernando ainda tem que enfrentar outros problemas, relacionados a adaptação.
Ele morava sozinho e teve que retornar para casa de sua mãe Rosimare Ferreira de Sousa, de 52 anos. É ela quem cuida do filho e o auxilia quando precisa se locomover.
Além disso, a família se mantém com o benefício que ele recebe. Ele tem garantido 10 anos de benefício, dos quais já se foram 5 anos. Caso ele chegue aos 10 sem uma completa recuperação, será feita uma perícia para que continue com o auxilio.
Mas Fernando nem pensa nessa hipótese. Sua intenção é conseguir ficar em pé, seja de muletas ou com auxílio de andador e conseguir um emprego, mesmo que seja atrás de um balcão. ?Antes do acidente estava trabalhando, fazia o 2º ano do Ensino Médio, e tinha namorada. Tudo isso foi interrompido. E o meu desejo é ter tudo de volta?, finaliza.