A tropa despertou ao som de trovões naquela quarta-feira. Frio e chuva cobriam a paulista Campinas, onde o Duster começava a revelar se honraria o nome de ?fazedor? de poeira. Em poucos instantes, uma comitiva formada com o novo modelo da Renault iria levantar acampamento, rumo a São José dos Pinhais, no Paraná, querência do modelo. Por vias secundárias e alguns trechos sem asfalto, reconstituiria parte do trajeto histórico que ligou o Rio Grande do Sul a São Paulo na época em que os muares, mulas e burros substituíram os escravos na jornada. Acompanhe Autoesporte na ?rota dos tropeiros? a bordo do Duster.
Antes, voltemos à ensolarada tarde de terça-feira. Ainda por bandas campineiras, a versão 4x4 encarou a primeira provação: uma pista off-road na Fazenda Capoeira Grande. O percurso iniciava em uma subida escorregadia de terra, a deixa para o instrutor sugerir o uso da função Lock, ativada por um botão na parte inferior central do painel. Estiquei o braço e virei o seletor, que saiu do modo 2WD, passou pelo ?Auto? e parou na posição indicada. A partir de então, o sistema distribuiu igualmente o torque entre as rodas dianteiras e traseiras ? função que fica ativa até 80 km/h.
O Duster não se abateu ante o aclive. Compensou a falta de aderência e prosseguiu. No topo, encontrou terreno arenoso, com um degrau razoável e uma rampa. Os ângulos de ataque e saída (30 e 35 graus, respectivamente) permitiram que ele passasse sem nenhum raspão ? no rival EcoSport, os ângulos são de 28 e 34 graus. O bom vão livre de 21 cm também garantiu tranquilidade. Para efeito de comparação, a distância do solo é igual à do Freelander, 1 cm mais alta que a do Eco e 1,5 cm além da oferecida pelo Tucson.
Guilber Hidaka
O Brasil é o primeiro país a receber uma versão do Duster com desenho e componentes modificados em relação ao europeu. As mudanças feitas no utilitário podem ser adotadas na Europa quando o carro tiver seu primeiro facelift
O percurso incluiu erosões e vários obstáculos. O sistema de tração respondeu bem, assim como a suspensão, que, apesar do curso reduzido, não bateu. No trecho final, a descida íngreme mostrou outro recurso: a primeira marcha (bem) reduzida. Com ela e o Lock em ação, o modelo encarou a ladeira sem exigir pressão no freio. É verdade que o trajeto também pôde ser cumprido no modo 2WD. Mas, então, foi preciso rodar com o motor mais cheio e controlar melhor embreagem, frenagem e aceleração.
De volta à ?rota?
As tropas que cruzaram o sul do país foram vitais para a economia nacional e o desenvolvimento de cidades nas paragens ao longo do caminho. Nosso destino era uma fazenda usada por tropeiros de 1700 até 1959, a Santa Gil, em Sengés (PR) ? última fronteira a ser cruzada antes de as marchas entrarem em São Paulo.
A chuva acompanhou boa parte do itinerário. Mas o bom asfalto impediu que o aguaceiro atrapalhasse a ?puxada? da tropa, que seguiu sempre a 110 e 120 km/h. De novo, o ?muar? era a versão 4WD, com motor 2.0 16V da família Mégane com evoluções. A Renault diz que ele recebeu 44 peças novas, entre elas, central eletrônica, válvulas e cabeçote, além de um quinto bico injetor, para a partida a frio. A taxa de compressão subiu de 9,8:1 para 11,0:1. Assim, o 2.0 impulsiona com disposição os 1.353 kg do modelo e vai bem até em baixas rotações. O trabalho com o câmbio de seis marchas é harmonioso. A transmissão é da mesma família do Fluence, mas também ganhou nova relação ? aliás curta demais. Em sexta marcha, a 120 km/h, o motor gira macio a 3.000 rpm. Mas, dependendo da condição, é preciso voltar à quinta para que o utilitário tenha mais ânimo nas ultrapassagens.
Na tropeada, o Duster bebeu gasolina. Até a hora do almoço, após 346 km rodados, a média de consumo no computador de bordo era de 10,9 km/l. Quando o modelo veio para a redação cumprir o ritual de testes, fez 7,8 km/l, com etanol, e acelerou de 0 a 100 km/h em 11,1 s. A unidade avaliada na viagem apresentou problemas no indicador de nível do combustível, falha que se repetiu no modelo que foi para a pista depois.
As modificações do propulsor integram o ?pacote? de adaptações ao mercado nacional. O Duster paranaense tem 774 peças diferentes das usadas na versão europeia: 30% delas ligadas à parte mecânica (motor, câmbio e suspensão), de 15% a 20% à redução de ruídos, e o restante, à aparência. O trabalho para ?abafar? os barulhos incluiu a adoção de materiais isolantes na parte inferior do painel e de borrachas duplas nas portas. O efeito é perceptível.