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Pedágio automático revolta moradores de bairro em Sorocaba

Sistema “free flow” instalado na Raposo Tavares pode obrigar moradores a pagar para sair de casa

Exemplo de pedágio free flow na Rodovia dos Tamoios | Foto: Reprodução
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A instalação de um pedágio no modelo “free flow” no km 86 da rodovia Raposo Tavares, em Sorocaba (SP), vem gerando indignação entre os moradores do bairro Genebra. Isolada geograficamente e com acesso único pela rodovia, a comunidade teme ter que pagar toda vez que entrar ou sair de casa.

A cobrança está prevista para começar em abril de 2026, após aprovação do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), mas ainda sem valores divulgados. Embora o Governo do Estado afirme que os moradores não serão cobrados, até o momento não há detalhes sobre como a isenção será operacionalizada, o que aumenta a insegurança da população local.

"Pagar para viver"

Com precária infraestrutura e transporte público limitado, os moradores do bairro, muitos deles trabalhadores autônomos ou aposentados, afirmam que dependem do carro para todas as atividades do dia a dia. Para Vivian Munhoz, 40, mãe de três filhos, dois deles autistas, a instalação do pedágio é um golpe no orçamento familiar:

“Se custar o valor mínimo, serão ao menos R$ 100 por mês só com os deslocamentos essenciais”, lamenta.

Maria Zenilda Cardoso, 53, que trabalha com entregas e atendimento domiciliar, teme não conseguir manter sua rotina:

“Entro e saio do bairro várias vezes ao dia. Imagina o quanto isso vai custar. Vou ter que tirar da comida para pagar pedágio?”, questiona.

Comerciantes também temem prejuízo

Para os comerciantes locais, como Cleiton Aparecido Alves, 44, o impacto será sentido na ponta: com o aumento nos custos de entrega e deslocamento, os preços dos produtos devem subir.

“Tudo será repassado para o consumidor. O bairro é humilde, tem muito aposentado, gente que vive com um salário mínimo. Isso vai afetar todo mundo”, alerta.

Isolamento geográfico e abandono

O bairro Genebra pertence simultaneamente aos municípios de Sorocaba e Alumínio e só possui uma escola de ensino fundamental. Segundo os moradores, para evitar o pedágio, a única alternativa seria uma estrada de terra mais longa e em péssimas condições.

“É pagar para sair de casa ou arriscar pela estrada ruim”, resume um morador.

Respostas oficiais

A prefeitura de Sorocaba afirmou, em nota, que a responsabilidade pelo pedágio é do Governo do Estado, mas que está “pronta a colaborar para melhorar a vida da população”. Alegou ainda que a água já está disponível, mas que o esgoto ainda está em fase de estudos. Também prometeu melhorias na iluminação pública.

O Governo do Estado, por meio da Artesp, disse que “não haverá cobrança de tarifa para os moradores do bairro Genebra”, mas não explicou como será feito o controle para garantir essa isenção. A nota destaca que o contrato prevê melhorias como duplicações, ciclovias, socorro mecânico e câmeras de segurança.

A prefeitura de Alumínio não respondeu à reportagem.

Como funciona o pedágio "free flow"

O sistema “free flow” permite a passagem de veículos sem parar, graças a sensores e câmeras que identificam placas e calculam automaticamente o valor proporcional ao trecho percorrido. O pagamento pode ser feito por tag, site ou aplicativo da concessionária, com prazo de 30 dias. Caso contrário, o motorista pode ser multado em R$ 195,23.

Para a população do bairro Genebra, resta a apreensão: sem um plano claro de isenção, a sensação é de abandono e injustiça. Como define Zenilda, “não é justo pagar só para viver”.

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