O encontro no fim de semana de alguns corpos e destroços do avião da Air France que fazia o voo 447 já deve contribuir com a investigação das causas do acidente, mas dificilmente de forma conclusiva.
Saber se, com a queda do Airbus, sobraram muitos pedaços grandes ou muitos corpos intactos, por exemplo, poderá ajudar a descartar hipóteses --como a de explosão no ar.
No entanto, será necessário localizar a caixa-preta e outras peças da aeronave para que haja conclusões mais precisas, afirmam os especialistas.
"O que for localizado é sempre valioso. O legista vai poder apontar, por exemplo, se os corpos apresentam lesão por pressão, se houve colapso no tórax. Mas, se não acharem muito mais, a investigação tende a ficar inconclusiva", diz Moacyr Duarte, analista de acidentes ligado à Coppe/UFRJ.
Segundo ele, a hipótese de uma eventual explosão no ar a cada dia perde força. "Se tivesse ocorrido isso, a aeronave não teria transmitido a informação de sua velocidade vertical."
"Quando há uma explosão muito forte, a tendência é não sobrar quase nada inteiro. É diferente de quando um avião é despedaçado", afirma José Ulisses Fontenelle, que tem formação de investigador de acidentes aeronáuticos.
Especialista em segurança de voo pelo Cenipa (órgão que investiga acidentes aéreos), Jorge Barros afirma que corpos encontrados totalmente vestidos dão a entender que eles caíram dentro do avião --ou seja, que a aeronave caiu "inteira". Se estiverem sem roupa, diz, é sinal de que foram atirados e que a força do vento as destruiu -ou seja, que houve ruptura no ar.
Se o avião tiver passado por uma forte chuva de granizo, haverá provavelmente perfurações "parecidas com uma rajada" de tiros no parabrisa e na estrutura metálica, diz Barros.
Ele afirma que, mesmo que as caixas-pretas não sejam achadas, a "remontagem" ajuda a cercar as principais hipóteses de causa do acidente, o que pode servir para aperfeiçoar tecnologias de segurança de voo.
Os investigadores franceses confiam na descoberta das duas caixas-pretas para obter respostas sobre as causas do acidente. Mas a coleta dos destroços é um avanço, diz Pascal Guerin, vice-presidente da Associação Francesa de Pilotos.
Guerin afirma que as 24 mensagens automáticas enviadas pelo Airbus em seus minutos finais não são suficientes para mostrar o que houve, pois são parte do sistema de manutenção. Por isso, dão uma ideia incompleta do que ocorria.
Ele deu um exemplo: "Uma das mensagens foi a do desligamento do piloto automático. Se o piloto volta a ser ligado, nenhuma mensagem é enviada."