Vinícius de Moraes e Gerson Conrad são os compositores da canção que embalou uma das primeiras apresentações do Cordão Grupo de Dança, denominado de “A Rosa”. Ao som de Rosa de Hiroshima, no ano de 2004, o grupo retratou, através de um trabalho coreográfico, as consequências da II Guerra Mundial. Os movimentos bem definidos e a expressão dos artistas chamaram atenção de toda a equipe escolar. Eles perceberam que era possível trabalhar a dança como uma linguagem educativa dentro do processo de ensino aprendizagem.
Após um ano de experiências com dança, trabalhadas nas aulas de Educação Física, em 2005 o grupo foi oficialmente instituído e chamado Cordão Grupo de Dança, em alusão ao nome da Escola Municipal Professor João Porfírio Cordão, localizada no bairro Renascença III, zona Sudeste de Teresina. Desde a criação, até março do ano passado, a estimativa é que foram 187 apresentações feitas e uma média de público de 595.300, com base nos registros do grupo.
Com foco no ambiente escolar, no mesmo ano em que foi instituído, o grupo apresentou a coreografia “Que aula é essa?”, que foi premiada em 3º lugar no IX Festival de Dança de Teresina e foi o pontapé inicial para o primeiro espetáculo do grupo, “Entrelinhas”, baseado nas práticas pedagógicas.
Tendo a dança como um potencial meio educativo, Roberto Freitas, coordenador do grupo, afirma que a ideia inicial era promover uma maior consciência corporal. “O objetivo era que os alunos começassem a estudar linguagem não verbal, entender que o corpo se comunica muito mais do que a fala”, explica Roberto, que também é produtor e coreógrafo do grupo.
Atualmente 25 alunos e ex-alunos compõem o grupo, mas desde o primeiro ano, cerca de 155 dançarinos passaram pelo Cordão Grupo de Dança. A maioria deles teve o mesmo tipo de teste. Segundo Roberto Freitas, os interessados começavam a frequentar as aulas e eles mesmos decidiam se queriam participar ou não.
“Não escolhia por capacidade física e nem por um dia de teste, as pessoas que querem participar, inclusive os alunos da escola, começam a frequentar as aulas, começam a ver como a gente trabalha, qual o pensamento de dança, e eles mesmos se selecionam”, disse.
Trabalho une arte, educação e inclusão
O foco principal do grupo é a dança contemporânea, mas passeia por ou-tras áreas. Os participantes têm aula de técnica clássica como treinamento físico e alguns dos meninos têm aula de pilates.
“Nosso trabalho alia três objetivos fortes: o artístico, o educativo e o trabalho de inclusão. Desde o início do grupo tivemos alunos especiais, com deficiência física, por exemplo. Com isso, terminamos mostrando que o menino que não tem as pernas dança melhor do que muita gente que tem as duas pernas”, relata o produtor, ao destacar que objetivo maior é o desenvolvimento da dança enquanto linguagem educativa para auxiliar o currículo escolar e formar cidadãos.
Robson Plácido faz parte do grupo há 7 anos. A convite do professor Roberto, teve sua vida modificada, como ele mesmo conta. “Nunca tinha dançado antes, mas vim e me adaptei. A dança engloba minha vida inteira. É uma profissão, vivo melhor e tenho saúde”, conta Robson, que possui má formação na parte inferior do corpo, mas não tem limitações enquanto está dançando. “No começo achei que não daria certo. Mas quando os meninos fazem a perna, eu faço braço”, diz.
Grupo de dança coleciona prêmios
Em 10 anos de existência, o grupo foi se desenvolvendo e alcançando reconhecimento.
O Cordão já levou aos palcos mais de 50 coreografias, dentre estas, dois grandes espetáculos: “Entrelinhas” e “Pessoas”. A maioria dos trabalhos tem assinatura do diretor e coreógrafo Roberto Freitas ou de alguns integrantes do grupo. Hoje, eles colecionam 52 prêmios conquistados em Festivais de Dança no Brasil, sendo 9 em nível Norte-Nordeste e 4 em nível internacional.
“Só não temos mais prêmios de nível internacional porque nós não temos muito apoio para sair”, lamenta Roberto Freitas. Mesmo com essa carência, a Secretaria Municipal de Educação (Semec) é uma grande aliada do grupo. Através desta parceria, o grupo pode seguir trabalhando, não somente pegando crianças do ensino fundamental e ensinando dança para elas. Estamos ensinando, principalmente, cidadania, e que eles podem ser pessoas bem sucedidas através das artes. Temos pessoas que só fizeram dança aqui que estão passando em testes de companhias profissionais. Olha que sonho, que uma criança do Renascença III ou do Monte Horebe, pode sonhar em ser um profissional da arte em todo o mundo”, ressalta.
Agdayana Nascimento tem 20 anos e há 9 faz parte do grupo. Assim como a maioria dos componentes, ela tem o grupo como sua outra família. “Já danço há 9 anos aqui e não tenho interesse de sair. Enquanto eu puder ficar, me profissionalizar, vou continuar, porque as oportunidades vêm aparecendo para mim e estou só agarrando”, comenta Agdayana. O grupo tem aulas durante 6 dias na semana com 3 horas de quando estão no período de criação de novos trabalhos, estas horas aumentam, já que o processo criativo não pode ser estancado de repente.
Estação Cordão de Cultura capacita integrantes
A partir do sétimo ano do grupo, com o elenco mais adulto, Roberto Freitas percebeu a necessidade de uma formação maior para os integrantes. “Eu, sozinho, não daria conta de fazer isso, porque é impossível uma companhia trabalhar perfeita ou bem se só uma pessoa tiver que dar conta de dar aula, coreografar, dirigir, produzir, pensar figurino e muitas outras coisas”, relata.
Através de convênio firmado entre a Associação dos Amigos do Balé da Cidade de Tere-
sina (AABCT) e a Secretaria Municipal da Juventude (Semjuv) foi lançada, em fevereiro de 2014, a “Estação Cordão de Cultura, contando ainda com apoio da Semec e da Associação dos Amigos do Cordão Grupo de Dança (ACORDA).
Funcionando na própria escola, a Estação é um projeto que oferta, gratuitamente, aulas de dança, canto e teatro a jovens da comunidade, com foco no lazer e ainda na profissionalização. Em 2014, por meio da Estação, participaram de 15 oficinas de 40 horas aula cada.
“Todo artista tem a necessidade de saber um pouco de canto, estudar teatro e estudar música, porque tudo isto está ligado com o fazer artístico. Graças a Deus tive a felicidade de ter a Semjuv no meu caminho, e nestes últimos dois anos ela tem se tornado uma parceira valiosa”, afirma o coreógrafo do grupo ao frisar que, neste ano, as aulas na Estação serão ampliadas para fotografia e vídeo.
“No ano passado, eles fizeram cursos de profissionalização em dança, um em metodologia do ensino da dança e de criação em dança. Com estes cursos, alguns dos integrantes já estão trabalhando e montando grupos em outras escolas dentro de projetos e multiplicando o conhecimento”, finaliza.
O dançarino Robson Plácido fez curso de criação de dança pela Estação e já se prepara para participar dos cursos que devem ser ofertados este ano. Após as capacitações,
Agdayana Nascimento já dá aula na própria Escola Municipal Professor João Porfírio Cordão, também ministrou aula de balé durante dois anos e deu aulas de dança livre pelo projeto Estação. “Todos nós não imaginávamos que chegaríamos tão longe, até mesmo porque começamos nas aulas de educação física”, recorda a dançarina.
Fotos: Kelson Fontinele