As contrações começaram a se intensificar por volta das 5h. Em função das dores e prevendo que o parto da segunda filha estava próximo a acontecer, a dona de casa Jehnny Rychaerlly, 18 anos, decidiu chamar um motorista por aplicativo de telefone para ir ao Hospital da Mulher do Recife (HMR). Era dia 12 de janeiro deste ano quando ela saiu de casa acompanhada do marido, Thiago Magno, 26, sem saber que os dois viveriam uma experiência inusitada poucos minutos depois. A caminho da maternidade, Jehnny sentiu uma dor intensa e gritou. Quando viu, o corpo da pequena Phyetra estava saindo. Ela deu à luz dentro do carro do desconhecido que havia acabado de conhecer.
Mãe, pai e o motorista João Paulo Nascimento, 25, ainda não acreditam ao relembrar o que aconteceu. Fazia 10 minutos que a família tinha saído de casa. Pela experiência do primeiro filho, Jehnny jamais imaginava que a filha pudesse nascer tão rápido e nem considerou a possibilidade de não chegar a tempo do parto no hospital. “A gente estava passando nas imediações do Jardim Botânico quando senti uma dor forte e gritei. De repente, vi a cabeça da minha filha. Depois, veio outra dor muito forte e logo o corpo dela estava para fora. Fiquei sem reação, sem saber o que fazer”, contou Jehnny.
“Ai, meu Deus do céu. Me ajuda moço!”, gritou Thiago Magno, sem saber o que fazer ao ver a filha no banco do veículo, um Onix preto que circula pela empresa 99pop. “Eu fiquei morrendo de medo. Já tive um filho que morreu aos dois anos, então fiquei pensando que eu ia perder outro filho e a minha mulher de uma só vez”, lembra ele. Ao escutar os gritos, o motorista João Paulo conta que olhou para trás e, de repente, viu a criança. “Parei no acostamento. Demorou uns sete segundos, a menina começou a chorar. Tentei manter a calma, vi que a mulher tava meio aérea e comecei a dirigir em direção ao hospital”, contou o motorista.
No meio do caminho, o grupo encontrou uma viatura policial. João Paulo saiu e, de tão apressado, acabou quebrando a sandália e derrubando o telefone celular no chão. Ele conseguiu avisar do parto aos policiais e seguiu em direção ao hospital. “Precisei ter muita prudência, mas tentei correr ao mesmo tempo. Foi tão rápido que a viatura só chegou tempos depois”, diz. Ao chegar à unidade, foi cortado o cordão umbilical ainda no veículo e, em seguida, mãe e filha foram encaminhadas para atendimento. “Ainda bem que deu tudo certo. Meu medo era ela pegar alguma bactéria”, lembra Jehnny.
João Paulo, que trabalha no serviço de aplicativo há dois anos para obter uma renda complementar ao trabalho de DJ, diz que nunca havia passado por situação semelhante. “A gente acumula muita história. Já cheguei a socorrer três pessoas, inclusive duas mulheres com contrações, mas essa foi a mais inusitada. É tanto que, quando cheguei no lava-jato para deixar o carro, a primeira pergunta que ouvi foi se tinha morrido alguém dentro do carro”, detalhou.
Jehnny e Thiago pegaram o contato do motorista para agradecer o que acabou se transformando num grande favor. Passado o susto, já com Phyetra Valentina em casa e no colo, o casal decidiu retribuir o cuidado do motorista convidando ele e a esposa para serem padrinhos da criança. “Minha vontade mesmo era poder ajudar a família, conseguir um trabalho para Thiago”, afirmou o motorista e DJ, em retribuição.