Parques do Piauí ganham apoio da Polícia Ambiental

Serras da Capivara e das Confusões serão fiscalizadas pela primeira Companhia de Polícia Ambiental do interior piauiense, que atuará de forma preventiva e repressiva no intuito de inibir os crimes ambientais na região

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Num momento em que as florestas da Amazônia estão chamuscadas pela fumaça do retrocesso ambiental, os parques nacionais do interior do Piauí, ao contrário, ganham o apoio e a proteção da primeira Companhia de Polícia Ambiental do interior do Estado. Inaugurado no último dia 23 de agosto, na zona rural do município de São Raimundo Nonato (525 km de Teresina), a Base de Policiamento Ambiental do 11º Batalhão da Polícia Militar do Piauí é a primeira instituição policial voltada para a defesa do meio ambiente na Caatinga.

Sob a coordenação do capitão Odair Paes Landim Ribeiro, os parques nacionais da Serra da Capivara e da Serra das Confusões serão atendidos prioritariamente pela Polícia Ambiental, mas a área de atuação da nova Companhia é extensa e inclui dezenas de municípios da microrregião. "A Companhia Ambiental atuará de forma preventiva e repressiva no intuito de inibir os crimes ambientais na região, somando-se a isso, ações de conscientização da comunidade local, com visitas às comunidades e palestras em escolas, entre outras ações", explica o subcomandante e também capitão Igor Moreira Sousa.

Crédito: André Pessoa

A caça de animais silvestres sempre foi, desde a criação do Parque Nacional da Serra da Capivara, em 1979, um dos seus maiores problemas. Para a chefe da unidade, a arqueóloga Marian Rodrigues, esse é um momento ímpar. "O parque e todo o seu entorno imediato terão um apoio significativo no combate aos crimes ambientais". 

Ela explica que, no ano de 2017, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)     assinou um acordo de cooperação técnica com a Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e o Governo do Piauí. "Dentre as obrigações do Estado do Piauí, estava a implantação do policiamento ambiental na região", esclarece.

Crédito: André Pessoa

O trabalho será realizado em forma de parceria com o órgão federal. Uma espécie de cooperação mútua para a realização de ações voltadas à proteção do patrimônio natural e cultural, além do apoio à segurança dos visitantes, servidores e funcionários dos parques e reservas ambientais. "Na Serra da Capivara, em especial, realizaremos em conjunto com a fiscalização um intensivo trabalho de educação ambiental em todas as comunidades da zona de entorno do parque", garantiu Marian Rodrigues.  

Ainda durante o treinamento dos policiais que fazem parte da Polícia Ambiental, uma grande operação,     denominada de "Pedra Furada", fez a apreensão de uma centena de animais silvestres, grande parte deles aves criadas em cativeiro. Também foram apreendidas armas, munição e cerca de 15 quilos de carne de animais silvestres já abatidos. Em outra ação, num dos municípios da microrregião, um desmatamento foi embargado e uma motosserra sem documentação também foi apreendida.

Crédito: André Pessoa

Para a integrante do Conselho Consultivo do Parque Nacional da Serra da Capivara, a empreendedora Socorro Macêdo, 64 anos, que é filha de São Raimundo Nonato, e desde a sua infância se encanta com as paisagens e pinturas da região, a chegada da Polícia Ambiental foi uma ação positiva. "Além do apoio para as pesquisas da Niède Guidon, todas as pessoas que se identificam e amam esse patrimônio, que é a Serra da Capivara e a nossa Caatinga, ficaram felizes com o apoio para a proteção da natureza". Ela explica ainda que a Companhia Ambiental conta com o apoio de todas as pessoas que entendem que a conservação ambiental e tudo que o parque gera de benefícios para região é positivo. "Esse parque é um divisor de águas, ele movimenta a nossa economia através do turismo, gera cultura e só traz benefícios", finaliza Socorro Macêdo.

Sonho de Niède Guidon é proteger a Caatinga

Em 2020, será comemorada a data simbólica dos 50 anos da chegada da pesquisadora paulista Niède Guidon ao interior do Piauí, em meados de 1970. Foi em busca das pinturas rupestres que lhe foram mostradas, no começo da década de 1960, no Museu do Ipiranga, pelo engenheiro Luis Augusto Fernandes (1931-2016), na época prefeito de Petrolina (PE), que toda a riqueza cultural da Serra da Capivara virou o foco das pesquisas da famosa arqueóloga, colocando o Piauí no mapa mundial das descobertas científicas da pré-história americana.

Crédito: André Pessoa

Logo que começou a trabalhar no Piauí, Niède e sua equipe perceberam que, para proteger o grande patrimônio cultural representado pelas pinturas e gravuras rupestres, seria necessário preservar a Caatinga com seus animais e plantas. No entanto, sem poder de polícia e como integrante de uma instituição científica, os pesquisadores tinham dificuldades em manter a integridade da região.

A caça de animais silvestres, e mesmo a criação de caprinos e bovinos soltos, ou ainda os desmatamentos ou produção do cal, sempre fizeram parte do cotidiano das populações locais, quase algo cultural e que persistiu ao longo dos anos. Essa dificuldade em preservar o parque levou Niède a enfrentar caçadores ou políticos poderosos, nem sempre com resultados satisfatórios.

Mas como ela nunca desistiu, aos poucos sua instituição foi formando guardas-parque, geralmente ex-caçadores que repassavam seus conhecimentos para tentar proteger a região. A dificuldade era a falta de recursos, e mesmo os empecilhos judiciais, já que a FUMDHAM não tem poder de polícia. Agora, com 86 anos, Niède Guidon se mostra aliviada com a chegada da Polícia Ambiental na região, afinal esse sempre foi um dos objetivos dela: garantir a integridade natural e cultural dessa joia da nossa natureza. 

Serra das Confusões será fiscalizada

O imenso, isolado e belo Parque Nacional da Serra das Confusões, com 825 mil hectares localizados entre os municípios de Caracol, Morro Cabeça no Tempo, Bom Jesus e Guaribas, entre outros, finalmente terá seu patrimônio natural e cultural sob a proteção da Polícia Ambiental do Piauí.

Crédito: André Pessoa

Desde a sua criação, o parque enfrenta problemas para combater a caça de animais silvestres e os desmatamentos. A unidade de conservação é gigantesca e, infelizmente, não tem funcionários suficientes para cobrir todo o seu perímetro.

Com o apoio da Polícia Ambiental, o parque deve receber uma série de operações repressivas e também de conscientização ambiental e legislação para combater as infrações que comprometem seu patrimônio. (AP).

Parceria entre diversos órgãos permitiu a chegada da Polícia Ambiental ao interior 

Foi a conjunção de uma série de fatores que viabilizou a chegada da Companhia Ambiental na região de São Raimundo Nonato. Os Ministérios Públicos, Estadual e Federal, tiveram papel preponderante na sensibilização das autoridades governamentais esclarecendo as prerrogativas de cada órgão e a necessidade do trabalho em parceria.

A decisão política foi tomada pelo governador Wellington Dias, com o objetivo de colaborar na preservação da Caatinga, em especial do Parque Nacional da Serra da Capivara, que é Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, e que sempre esteve muito suscetível a uma série de crimes ambientais, principalmente a caça de animais silvestres.

Para a efetiva instalação da Polícia Ambiental, no sertão piauiense, uma verdadeira cooperativa de parcerias foi criada. A Fundação Museu do Homem Americano, entidade científica de renome internacional, fez a cessão de uma antiga escola da instituição no povoado da Serra Vermelha, para ser a base física da Companhia de Policiamento Ambiental do 11º Batalhão.

O projeto também contou com o apoio da Prefeitura Municipal de São Raimundo Nonato, Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Semar) e, principalmente, do ICMBio, que é o órgão responsável pelas unidades de conservação federal.

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