O papa Bento XVI presidiu na noite desta sexta-feira, no Coliseu de Roma, a tradicional Via Crucis que relembra o calvário de Cristo até sua crucificação, um evento que este ano foi marcado pelos escândalos envolvendo padres pedófilos.
Desde 2008, Bento XVI, que completará 83 anos em 16 de abril, não faz a pé o percurso das 14 estações que lembram o suplício e a morte de Cristo, e se limita a carregar a cruz de madeira no trecho final.
A celebração, de duas horas de duração, teve início às 21h15 locais (16h15, horário de Brasília). A maior parte da cerimônia foi celebrada pelo cardeal italiano Agostino Vallini, vigário de Roma, com transmissão ao vivo pela TV a vários países do mundo.
A cruz foi carregada nas várias estações por dois haitianos, dois iraquianos, dois religiosos franciscanos vindos da Terra Santa, por representantes de associações de enfermos e por uma família romana.
Bento XVI se uniu à cerimônia ao final da procissão, quando fez uma meditação conclusiva sobre o que representa para os católicos a paixão e a morte de Cristo.
"É preciso converter nosso coração vivendo a cada dia o amor, a única força capaz de mudar o mundo". "Nossos fracassos, decepções e amarguras, que parecem o fim do mundo, estão iluminados pela esperança", disse o Santo Padre.
"A Ressurreição tudo transforma: da traição pode nascer a amizade, do ódio o amor, e do repúdio o perdão".
Em cada estação da Via Crucis foram lidas reflexões escritas pelo ex-presidente da conferência episcopal italiana, cardeal italiano Camillo Ruini, sobre os "pecados e o mal que vive dentro de cada um de nós e que, com frequência, ignoramos".
Mais cedo, em declarações à Rádio Vaticano, o cardeal Ruini admitiu que a Igreja Católica "atravessa um período de sofrimento pelas faltas cometidas pelos filhos da Igreja, em particular os sacerdotes, e pela vontade de atacar a Igreja".
O religioso denunciou "ataques externos que podem extirpar a fé em Deus do coração dos homens".
"É o momento mais difícil desde a publicação da encíclica Humanae vitae (contra a contracepção) de Paulo VI em 1968", afirmou à AFP o vaticanista Bruno Bartoloni.
Para ele, "na época a crise foi muito forte, com ataques pessoais contra o Papa e a Igreja em geral".
Desta vez o escândalo atinge Bento XVI, acusado de ter escondido as ações de padres pedófilos. Algumas pessoas pedem até sua renúncia.
"Não é uma novidade. Já fizeram pedidos de renúncia de Paulo VI pela encíclica, como contra João Paulo II, mas porque estava cansado e enfermo", recorda Bartoloni.
Diante da crise profunda na época em que a Igreja celebra a morte e ressurreição de Cristo, o Vaticano e muitos religiosos saíram em defesa da instituição e do chefe.
"Foram cometidos erros, mas não em Roma", afirmou Jerome E. Listecki, arcebispo de Milwaukee, norte dos Estados Unidos, onde Bento XVI foi objeto de duras críticas, sobretudo nas páginas do jornal New York Times. Um advogado também entrou na justiça para pedir que o Sumo Pontífice preste depoimento, e sob juramento.
Esta Sexta-feira Santa coincidiu, ainda, com o quinto aniversário de morte do carismático papa João Paulo II, lembrado com uma missa solene, celebrada na segunda-feira.
Na noite de sábado, o Papa voltará à basília de São Pedro para a Vigília Pascal, antes da missa de domingo de Páscoa e da tradicional bênção "urbi et orbi" (à cidade e ao mundo).