A pandemia do novo coronavírus foi cruel com humanidade. Além das milhares de vidas perdidas, os empresários sofreram com a dura recessão causada pelo novo contexto. Neste panorama, o Grupo de Pesquisa “Estado, Direito e Sociedade – Democracia e Desenvolvimento Econômico”, sob a coordenação do Prof. Dr. Willame Mazza (UESPI), analisou os impactos da pandemia nas atividades econômicas no Estado.
Os empreendedores mais afetados foram os de menor porte. Segundo o estudo, em março observa-se que as micro e pequenas empresas sofreram uma queda nas vendas de 74% e no faturamento de 86%. No mês de abril, 100% das empresas, responderam que pediram empréstimos e/ou solicitaram créditos e a grande maioria não teve o pedido deferido por já́ se encontrar negativada, isto é, em atraso.
Muitas empresas encontram-se endividadas, sendo que 59% delas responderam que o seu maior custo é com dívidas e empréstimos. “Quando analisados os microempresários individuais [MEI] e microempreendedores [ME] concluímos que os segmentos mais atingidos foram varejo e construção civil, sendo os setores mais vulneráveis comércio, seguido por serviço e indústria. Insta salientar que o serviço ocupa 78,5% do PIB piauiense, sendo um setor essencial na economia local. Já nas empresas de pequeno porte [EPP] os segmentos mais atingidos foram construção civil, seguido do varejo e saúde, sendo os setores mais vulneráveis comércio, serviço e indústria”, explica Willame Mazza.
O professor explica que o mundo passa pela maior crise financeira de todos os tempos. “As consequências da crise financeira estão sendo desastrosas para os estados, as atividades econômicas e para a população de uma maneira geral. Dessa forma, decidimos escolher esse tema a fim de aproximar a pesquisa científica com a sociedade e contribuir com seus resultados para a tomada de decisão pelos gestores, empresas e a sociedade com o objetivo de minimizar os impactos da pandemia”, pondera.
A principal importância da pesquisa é levantar e demonstrar os impactos da pandemia nas atividades econômicas do Piauí, nas questões do emprego, vulnerabilidade das atividades econômicas, arrecadação, faturamento e gastos do Estado. “Dessa forma, será possível verificar e identificar as fragilidades do Estado do Piauí diante da pandemia e contribuir para medidas apropriadas para revertê-las.
Nesse sentido fizemos um levantamento de dados sobre o desemprego, desocupação, faturamento, vulnerabilidade de segmentos econômicos, medidas tomadas por empresas e demais consequências nas atividades empresariais, assim como da arrecadação e gastos, em função dos impactos da pandemia no Estado do Piauí. Tais dados foram levantados, entre outras fontes, no Sebrae, Sefaz, Confaz, Ministério da Economia/Secretaria do Trabalho, TCE-PI, Pnad-IBGE e na IFI [Instituição Fiscal Independente]”, acrescenta Mazza.
Resultados mostram queda na receita e diminuição de empregados.
Os principais resultados demonstram a diminuição dos empregados nas empresas, principalmente nos setores de serviços, comércio e construção. Além da queda do faturamento das empresas, a vulnerabilidade dos segmentos econômicos, a perda na arrecadação e muitos gastos para conter a pandemia.
No total, ao final do mês de maio foi registrado um saldo negativo acumulado de 8.554 postos de trabalho formais perdidos no Piauí “Verificamos uma queda no faturamento principalmente em setores como varejo, combustível e indústria, mormente nos meses de maio e abril, que também foram os piores meses para a arrecadação, na qual teve uma queda de 39,97% em abril e 25,02% em maio, em relação a 2019, sendo que nos outros meses, até junho, teve um saldo positivo”, contabiliza Willame Mazza.
O varejo foi o mais atingido, tendo sua maior queda no faturamento em abril (32%) e maio, com uma leve melhora em junho. “Em termos de segmentos econômicos, os mais impactados, em junho, foram informática, couros, calçados, bares, hotéis e restaurantes. Por outro lado, cresceram os setores econômicos agropecuários, alimentos, supermercados e medicamentos”, enumera.
O que fazer para contornar a situação?
Enquanto alguns reclamam dos prejuízos, outros colocam a mão na massa. É o caso de Júlio Victor Viana, microempreendedor de 26 anos. Ele iniciou, em plena crise, uma pequena hamburgueria, fazendo entregas para toda a cidade. Desempregado, ele viu na cozinha uma oportunidade de prosperar. “A pandemia trouxe junto dela o desempregado. Diante disso eu me vi obrigado a achar uma forma de me sustentar. Então a pandemia não foi só um incentivo, mas também foi o fator decisivo para eu sair da informalidade e me tornar microempreendedor”, aponta.Ele está contente com o próprio trabalho. “Os resultados têm sido bem positivos, mas eu tenho procurado alcançar outros níveis e continuar crescendo. A crise pode, sim, ser uma oportunidade. Mas isso é algo muito variável. Eu tive condições que me favoreceram. No meu caso, sim, consegui tirar proveito da crise, mas só foi possível graças ao apoio que recebi por parte de minha mãe e irmã”, considera.
Além da criatividade e jogo de cintura de Júlio Victor Viana, o professor Willame Mazza, por outro lado, defende uma maior intervenção da União. “Verificamos a necessidade de políticas públicas no âmbito econômico e social por parte do Estado para minimizar os efeitos da crise econômica, assim como o controle da pandemia, a fim de conter a crise sanitária, principal causa da estagnação econômica. Não se resolve a crise financeira sem controlar a crise na saúde. Assim, é essencial recursos da União para os Estados, como também medidas de gastos e políticas tributárias para controlar os impactos da pandemia no mercado e para os cidadãos”, analisa.
Mazza defende que é papel da União amparar os empresários pois é a principal detentora dos recursos. “É essencial a gestão desses recursos para estados e municípios, que detém a maior competência na área de saúde. É necessário também a concessão e facilitação de linhas de créditos para as empresas, a fim de custear a queda de faturamento e a inércia de suas atividades. Ademais, a liberação de recursos, como o auxílio emergencial para os mais vulneráveis é extremamente útil na redução da pobreza e no aquecimento da economia, o que ajuda diretamente a recuperação de setores econômicos. Salienta-se que as empresas devem se modelar e se adaptarem a nova forma de mercado, com uso de tecnologia, informática, vendas on-line e treinamentos”, reforça.
No entanto, o professor universitário reconhece que queda na atividade econômica é inevitável. “O que se busca nesse cenário é a minimização de seus efeitos. Assim, nesse momento de crise, sanitária e econômica, o papel do Estado se torna imprescindível e essencial para a sobrevivência da empresa, mercado e do cidadão”, conclui.