Por: Waldelúcio Barbosa
Em meio à pandemia da covid-19, boa parte da população sente que está havendo um sentimento de tédio social generalizado nas relações seja com amigos, parceiros ou familiares. As redes sociais acabam por evidenciar que o fenômeno é ainda maior. É como se depois da pandemia as pessoas acabaram se decepcionando com a sociedade e se acostumaram com o isolamento e a falta de relações interpessoais.
“O tédio não chega a ser uma doença, mas pode apresentar sinais como sentimentos de vazio, desânimo, desgaste mediante a rotina que estamos vivendo na pandemia e vai se instalando justamente quando a vida vai deixando de ser interessante. Foi tudo isso que o isolamento provocou e tem provocado em todos nós. É preciso aprender a se reinventar. Como que eu posso me reinventar naquilo que está sendo possível na minha rotina, para que eu possa sair um pouco desse tédio, para que eu possa resgatar a beleza da vida? Existem muitas coisas que nós precisamos conhecer, que a dinâmica do corre-corre da vida, não nos oportuniza de experienciar, então a gente precisa se reinventar para poder administrar o tédio provocado pelo isolamento social”, explica a psicóloga clínica parental Soraya Albuquerque.
De acordo com a profissional, a pandemia convocou a sociedade a parar e fazer movimentos que não estavam acostumados, movimentos que supostamente levavam a acreditar que gerava alegria, felicidade e prazer, porém, o excesso ocasiona um desgaste muito grande, então, com isolamento, as pessoas ficaram se sentido com muito tempo para se dedicar a casa, família e atividades individuais.
“No início foi aquele sentimento de uma certa euforia, mesmo as pessoas com medo, sem compreender o que estava acontecendo, tinha algo novo na vida delas e elas foram administrando, até porque tinha um prazo para que tudo isso pudesse acabar, e, infelizmente, isso não aconteceu. Isso foi gerando indefinição, insegurança e aquilo que era novo começou a se tornar repetitivo e nós temos um prazo, a gente se acostuma e esse se acostumar acaba gerando um tédio, porque o tédio passa justamente por esse desânimo por esse desgaste, mediante essa rotina que começa a ficar enfadada de uma espera que você não sabe quando vai acabar ou quando vai chegar”, reflete Soraya.
Confinamento mudou a forma de enxergar a vida
A psicóloga Soraya Albuquerque destaca que o confinamento pode ter mudado a forma de enxergar a vida de muitas pessoas, fazendo com que elas se acostumarem com o pouco contato social e gerando sentimentos que fazem com que não tenham mais vontade de sair de casa, desânimo e vivenciando o tédio social.
“As pesquisas falam que após três meses de um determinado padrão de comportamento, as nossas células nervosas elas se adaptam, elas se acostumam a esse novo estímulo, então, muitas pessoas já estão muito tempo dentro de casa, umas já voltaram para esse novo normal, com as restrições, seguindo os protocolos, mas outras não, então é necessário, é importante, um esforço para que a gente possa está resgatando, está reinventando a nossa vida para que a gente possa resgatar o prazer, possa resgatar tudo que tem de bom para viver mesmo mediante a pandemia”, recomenda.
A psicóloga destaca ainda que é possível sim, mesmo diante do caos gerado pela pandemia, exercitar e trabalhar empatia para poder promover todo um acolhimento que a sociedade precisa nesse momento.
Escuta qualificada e profissional
A especialista acrescenta que a pandemia trouxe uma maior fragilidade e um aumento das emoções. O isolamento, as medidas restritivas, o ambiente de polarização e a sensação de desgaste individual marcaram a forma de comunicação e entendimento entre as pessoas que passaram a ser mal-entendidas e interpretadas, por isso, é preciso ficar atento a alguns sinais de alerta e buscar uma escuta qualificada.
“A partir do momento que você começar a perceber sinais dentro da sua rotina como desânimo, desinteresse por algumas atividades que você tinha antes e não está tendo mais falta de concentração, falta de concentração, falta de foco, cansaço, fadiga, sono prejudicado, enfim muitos sinais que você percebe que são novos dentro da sua rotina, deve se procurar uma escuta, um acolhimento profissional para as devidas orientações”, pontua a profissional.
Saúde mental e emocional
Ainda segundo a especialista, agora que as vacinas estão chegando para proteger a saúde física é um bom momento para abordar e cuidar mais da saúde mental e emocional. “A saúde mental precisa ser abordada da mesma forma que abordamos a saúde física. Infelizmente, houve essa separação como se mente e corpo fossem duas coisas distintas, infelizmente, não. Nós não conseguimos olhar para saúde mental da mesma forma que olhamos para saúde do corpo. Com o coronavírus, com a pandemia, tudo isso ficou muito exacerbado. A saúde mental está adoecendo de uma forma muito agressiva, está provocando muito desconhecimento e as pessoas estão bastante assustadas. Precisamos treinar a mente, gerenciar nossas emoções, fortalecer a nossa cognição para poder trazer o equilíbrio do corpo e mente. Essa mente tem que estar em harmonia e equilibrada com o corpo”, finaliza.