Quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou estado de pandemia, a ONG Presente de Alegria, que promovia oficinas de alfabetização e reforço escolar para comunidades em situação de vulnerabilidade social, além de visitas a instituições para levar alegria por meio da palhaçaria, foi obrigada a paralisar suas atividades.
Porém, as portas não ficaram fechadas por muito tempo e rapidamente a ONG se adaptou à necessidade que se impôs: a fome. "Moradores da comunidade Vila Oratório, que fica perto da nossa sede, em São Paulo, começaram a bater em nossa porta pedindo ajuda para ter comida. Então, pela primeira vez na história do Presente de Alegria, decidimos pedir doações e dinheiro para ajudar com cestas básicas e produtos de higiene pessoal", explica o engenheiro Ricardo Cabral, um dos fundadores.
A primeira entrega de kits foi em abril de 2020 e contemplou 50 famílias. Desde então, o número de assistidos cresceu e Cabral destaca sua surpresa com a confiança e solidariedade das pessoas. "Muita gente atendeu ao nosso pedido e as doações não pararam. Até contratamos uma pessoa no final do ano passado para ser a responsável por receber e montar os kits que são entregues para 220 famílias uma vez por mês."
Antes da pandemia, os próprios voluntários do Presente de Alegria ministravam as aulas nas oficinas culturais gratuitamente na sede. No momento essas atividades estão suspensas, mas aos poucos a ONG vai retomando as visitas presenciais às instituições assistidas. Desde setembro algumas já aconteceram obedecendo os protocolos da pandemia, e outras estão programadas para ocorrer até dezembro. Mesmo abaixo do que era antes, Cabral considera importante a retomada.
Para 2022, o grupo pretende voltar com todas as oficinas. Mas diante da nova realidade brasileira, com o crescimento da população em situação de insegurança alimentar, Cabral diz que a ONG pretende seguir com a distribuição de comida para a comunidade Vila Oratório.
No entanto, o grupo quer ir além do assistencialismo e atrelar o recebimento da cesta básica e itens de higiene à participação das famílias nos cursos e oficinas que irá organizar, de maneira online e presencial, para que possam ter autonomia. "Nosso objetivo, além de matar a fome dessas famílias, é desenvolver o seu lado humano e profissional", destaca o engenheiro.
História
A ONG Presente de Alegria atua há 15 anos em asilos, orfanatos, abrigos e hospitais. Tudo isso começou em 2006. Cabral estava no aniversário do filho de um amigo e virou alvo do palhaço contratado para a festa. As crianças gostaram do show e, como forma de agradecimento pela colaboração, o engenheiro recebeu de presente um nariz de palhaço do próprio palhaço.
Algum tempo depois, preso no engarrafamento de São Paulo, Cabral lembrou que o nariz estava no console do carro e o colocou para brincar com os outros motoristas, pessoas dentro dos veículos e com algumas crianças que estavam no farol.
Ao perceber que as pessoas gostavam de suas apresentações, ele virou o Dr. Cabralito, se especializou na arte da palhaçaria, tendo como referências Patch Adams e Charlie Chaplin, e decidiu transformar a ação em algo permanente e profissional, auxiliando outros que gostariam de realizar algo semelhante.
Atualmente, são 1700 palhaços voluntários no Presente de Alegria em células presentes em 15 cidades espalhadas por cinco estados (SP, RJ, MG, SC e AM) mais o Distrito Federal. Até a parada das atividades pela pandemia, cerca de 300 palhaços eram formados por ano nas oficinas realizadas pela ONG. Ao todo, 67 instituições são contempladas com as visitas e ações dos voluntários.