Pais cuidam da educação dos filhos somente pelo telefone

O tempo corrido do cotidiano não permite que os pais acompanhem de perto o crescimento e os afazeres dos filhos

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A falta de tempo está presente no cotidiano da vida moderna, o trabalho ocupa grande parte do dia a dia dos homens e mulheres contemporâneos, que passam boa parte da semana fora de casa, com pouco tempo para outras atividades. Para os pais, esta realidade vem acompanhada da culpa, pois além de não estar sempre presente na vida dos filhos, não sobra tempo para acompanhar a educação dos mesmos.

Apesar da vida atarefada, os chefes de família devem reservar um tempo para acompanhar a vida escolar das crianças, que não é de responsabilidade apenas da escola. Mesmo cansado, perguntar se ele está com alguma dificuldade, sugerir leituras ou reservar um tempo para ler com eles, mostra para as crianças que os pais têm interesse pelos assuntos escolares.

Segundo a psicopedagoga Amparo Holanda, o papel deles é fundamental na educação dos pequenos, e não podem deixar de lado esta tarefa, que mesmo com a correria do dia a dia, ainda é de responsabilidade deles. ?O acompanhamento é essencial para uma boa educação. Os filhos precisam sentir que o pai está interessado nos assuntos escolares deles. Como os pais já são ausentes durante o dia, é essencial, mesmo que cansados, dedicar um tempo para as crianças?, explicou.

Mesmo deixando outras pessoas responsáveis pelo acompanhamento durante o dia, como professores de reforço, pedagogos, ou qualquer outra pessoa de confiança, nada substitui a atenção dos pais. A psicopedagoga afirma ainda que os pais ausentes devem procurar outras formas de demonstrar que, apesar de trabalhar muito, os filhos ainda são as pessoas mais importantes na vida deles.

?Os filhos sentem bastante a ausência dos pais, e muitas vezes procuram maneiras de chamar a atenção, como não querer ir à escola, tirar notas baixas, brigar com os colegas de classe. Tudo isso para atraí-los para seu mundo, pois notam que é a única forma de ter os pais por perto, mesmo que negativamente?, alertou a psicopedagoga.

Quando o trabalho não permite ligar durante o dia, os pais devem procurar abrir mão de algumas atividades nos dias de folga para dar mais atenção aos pequenos. Deixar de sair com os amigos, não marcar compromisso para o feriado, fazer programa com os filhos, tudo isso é importante para eles, que já sentem muito a ausência deles no dia a dia.

Amparo Holanda também faz um alerta para aqueles pais que tentam compensar a ausência com presentes, além de atender todas as vontades, ela explica que não há nada de positivo nesta ação, pois nenhum presente substitui a falta que sentem, além de deseducá-los, já que percebem que podem ter tudo que querem.

?Dar presentes como forma de compensação não é bom, pelo contrário, prejudica a educação deles. Comprar um celular melhor, encher o filho de brinquedo, interfere negativamente na educação, pois não adianta ter um quarto lotado de presente, sem o pai e mãe em casa para conversar, educar, deixando-os também totalmente mimados?, disse.

Almoçar em casa, chegar mais cedo para colocá-los para dormir, ligar durante o dia para saber o que estão fazendo, e perguntar como foi o dia na escola, são outras alternativas dos pais modernos. As crianças necessitam deste acompanhamento para se sentirem importantes na vida dos pais, até para entender que estes não estão presentes porque precisam trabalhar para dar uma boa educação aos filhos.

Quando a criança tem entre 3 a 7 anos, estas alternativas devem ser adotadas, pois é a fase que estão iniciando os estudos, e o apoio dos pais é imprescindível neste momento. ?Os primeiros anos na escola são os mais difíceis. Estão vivendo uma realidade totalmente nova, convivendo com outras pessoas e adquirindo responsabilidades. Sentir que os pais estão presentes é fundamental nesta nova fase de suas vidas?, alertou Amparo.

Pais estão cuidando da educação dos filhos somente pelo telefone

Com muitas oportunidades no mercado de trabalho, anos se dedicando a qualificação e o aumento no custo de vida, são fatores que influenciam profissionais a buscarem construir uma carreira, sendo esta a responsável por ocupar boa parte do tempo de muitos profissionais. Antes as mulheres ficavam encarregadas da educação dos filhos, mas hoje ocupam vários setores no mundo dos negócios, e não abrem mão de trabalhar e ajudar na renda familiar.

A culpa é ainda maior para as mães, que têm que deixar o filho em casa com a babá, mas não deixam de ligar durante o dia para saber como foi a escola, se estão fazendo o dever de casa. A secretária Eudilene Memória conhece bem esta realidade, com três filhos, de 16, 14 e 09 anos, o telefone é seu maior aliado no acompanhamento da educação dos filhos.

?Tenho uma pessoa que cuida deles durante a semana, pois só posso participar da rotina dos meus filhos no final de semana. Durante o dia ligo pra casa para saber como foi a escola, se já fizeram o dever de casa, e à noite verifico se está tudo correto. Sei que sou ausente durante a semana, porém procuro mostrar a importância dos estudos, e que não podem abrir mão da escola?, conta a secretária.

Uma alternativa adotada por ela é assistir filmes que tratam do tema, além de conversar sobre como o mercado de trabalho está exigente hoje, e estudar é imprescindível para um futuro melhor. ?Procuro ter muito diálogo com meus filhos. Não passo a mão na cabeça deles quando tiram nota baixa, coloco de castigo, corto o que gostam de fazer, não abro mão de uma educação de qualidade?, disse.

Ainda, segundo a secretária, muitos pais compram presentes para compensar a falta no cotidiano dos filhos, mas esta não é a alternativa para ela, e sempre aproveita os dias de folga para fazer programas em família e compensar a falta dela durante a semana.

?Já deixei de sair com alguns amigos para me dedicar aos meus filhos. Eu sinto muita culpa por não dar a devida atenção, mas sempre que posso assistimos filme juntos, saímos em família, corrijo a lição de casa, e mostro para eles que o trabalho não é mais importante na minha vida, porém é necessário para dar uma vida melhor para eles?, concluiu Eudilene.

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