Homem de poucas palavras e sorriso contido. Esse é o pai da judoca Sarah Menezes, José Rogério Menezes, um homem de 63 anos que, apesar de ser bastante reservado, quando o assunto é demonstrar suas emoções, não consegue esconder o orgulho e a felicidade diante da conquista da filha, nas Olimpíadas de Londres.
Mas quem pensa que ser pai de medalhista olímpica é algo fácil, está completamente enganado. Nesse Dia dos Pais, o patriarca da família Menezes abriu as portas de sua casa para a equipe do Jornal Meio Norte e contou um pouco dos sabores e dissabores de ser pai de atleta.
Segundo o Sr. Rogério, as emoções oscilam bem mais do que entre os extremos felicidade e tristeza, presentes nas vitórias e derrotas vividas pela filha.
A cada novo golpe dado ou sofrido durante cada luta a emoção cresce e o medo, a preocupação, a ansiedade e a felicidade são só algumas das emoções que andam lado a lado a cada vez que a filha sobe no tatame.
?Quando vejo a Sarah sendo golpeada por uma atleta, bate aquela sensação de medo. O esporte é agressivo, mas fico torcendo para que dê tudo certo?, comentou o pai.
E foram todas estas emoções juntas que fizeram companhia ao Sr. Rogério no dia 28 de julho no centro de treinamento Sarah Menezes, onde ele assistiu sua filha conseguir o feito histórico de ser a primeira mulher a conseguir medalha de ouro em Olimpíadas no judô.
?Nesse dia eu acordei cedo, chamei o Queiroz [Abdias Queiroz], que foi quem trouxe o judô para o Piauí, e quando chegou a última luta eu disse a ele: ?Fica atento, não vai demorar muito, ela vai ser ouro?. O meu coração já me dizia que vinha o ouro.
Nos últimos tempos nós já sabíamos que isso ia acontecer?, disse o pai de Sarah, que além de Queiroz, no dia da conquista do ouro da filha, teve também a companhia de dona Olindina, mãe de Sarah e sua esposa, e de muitos amigos.
E o ouro veio para provar que nem só de angústia, preocupação e ansiedade vive o pai de uma atleta do porte de Sarah Menezes. A judoca conseguiu o primeiro ouro das Olimpíadas 2012 para o Brasil. ?Na hora parecia que eu estava flutuando, uma sensação que nem sei explicar direito. Tentei segurar o choro, mas não pude conter as lágrimas?, afirmou.
Hoje, ele diz entre risos: ?O Rogério acabou, minha esposa me chama de ?bem? e as pessoas da rua me chamam de ?pai da Sarah Menezes??, disse, cheio de orgulho, o pai da nossa ?menina de ouro?.
"Não queria, no início, mas me acostumei"
Até se acostumar com a ideia de que sua filha era uma atleta de um esporte considerado por ele tão agressivo, foi um longo caminho a ser percorrido. Segundo o pai, foi tudo uma questão de aprender a conviver com o sonho da filha.
"Nós queríamos mesmo era que ela se dedicasse somente aos estudos, mas com o tempo fomos vendo que ela gostava muito do judô e há uns seis anos eu passei a ter certeza que ela iria muito longe e nós fomos aprendendo a conviver com a ideia e nos acostumando com o sonho dela", pontuou.
Como a vontade dos pais de Sarah de que ela não desviasse o foco dos estudos ia de encontro com os sonhos da menina de nove anos que se encantava com o judô a cada dia que se passava, a atleta conta que precisou negociar com eles as idas aos treinos.
"Eu me comprometi a estudar muito e em troca eles me deixavam ir ao judô. E quando não deixavam eu fugia de casa", conta a medalhista olímpica.
Segundo o Sr. Rogério, apesar de todas as dificuldades enfrentadas por eles e por Sarah, a sensação que ele tem hoje, ao olhar para trás, é que tudo valeu a pena e os sacrifícios todos foram recompensados.
"A Sarah começou a lutar por brincadeira, coisa de colégio, até o dia em que o Expedito soube do talento dela, veio procurá-la e aí começou toda a batalha até chegar ao ouro olímpico.
Ela sempre dizia que ia longe e eu ficava só ouvindo e, apesar de não querer muito, torcendo para que desse tudo certo para ela. Hoje essa conquista parece um sonho", disse.