O funcionário público Paulo Francisco, de 56 anos, fez um protesto na porta do hospital Santa Casa de Misericórdia, em Goiânia, na quarta-feira (12). Após ter uma cirurgia pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desmarcada pela terceira vez, o paciente saiu direto do centro cirúrgico para a porta da unidade. Ele estava com touca, protetor de pé e segurava um soro já com acesso à veia.
"Eu já estava pelado e o médico falou que não, que eu não podia fazer, não [a cirurgia], que eu procurasse o Ministério Público", afirmou.
Para fazer o procedimento, o funcionário público percorreu 350 km de Nova Iguaçu de Goiás até a capital. Ele disse que passou mais de 24 horas sem comer, sentindo fraqueza e dores de cólica renal. Indignado, Paulo contou que nenhum funcionário do hospital lhe ofereceu auxílio.
"Não, só veio [alguém] para me calar a boca, porque eles acham que o escândalo foi muito grande", lamentou.
No receituário, o urologista que faria a cirurgia apontou que o funcionário público tem obstrução renal por cálculo, o que compromete o funcionamento dos rins. Inicialmente, o médico disse que havia recebido a informação da diretoria da Santa Casa de que o aparelho necessário para a cirurgia já havia sido comprado e estava liberado para uso.
Mas, no momento da operação, o profissional foi informado pela enfermeira-chefe do centro cirúrgico que o aparelho não poderia ser utilizado. No documento, o urologista finalizou: "Portanto, estou impossibilitado de resolver a doença desse paciente, que se trata de uma urgência".
Segundo a direção do hospital, o aparelho necessita passar por uma esterilização antes de ser usado. "O problema é que foi marcada uma cirurgia para ser feita, uma ureterostomia, e no momento da cirurgia foi solicitado o equipamento para realizá-la. Esse aparelho realmente chegou à Santa Casa, mas ele ainda não está preparado para ser utilizado, não passou por desinfecção e não foi liberado ainda", afirmou a superintendente técnica da Santa Casa, Irani Ribeiro.
Revolta
Várias pessoas que estavam no hospital se solidarizaram com o drama do paciente. Indignadas, elas também cobravam soluções para Paulo.
"É um descaso. Esse homem estava em uma mesa de cirurgia e depois simplesmente dizem: "Não, não foi autorizado, vá ao Ministério Público". Então a situação dele não conta? Então o que conta? O que significa o ser humano? O que significa a saúde?", questionou uma das pessoas que acompanharam o protesto do paciente.
"[Ele] É ser humano igual a nós e eu tenho certeza de que ele já trabalhou, já pagou todos os impostos que tinha de pagar na vida, para ter esse direito que ele está precisando agora, e não tem ninguém para apoiá-lo", disse uma lojista, revoltada.
Sensibilizada, ela chegou a acionar o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu). O objetivo era que a ambulância pudesse levar Paulo até a sede do Ministério Público de Goiás, onde cobraria seu direito de fazer a cirurgia. Porém, os socorristas afirmaram que não poderiam fazer o transporte do homem. Apenas no fim da tarde de quarta-feira, ele foi convencido a retornar para o interior do hospital.
A superintendente técnica do hospital afirmou que a cirurgia foi remarcada para esta quinta-feira (13). Como o equipamento ainda não poderá ser usado, o procedimento será feito de forma tradicional e mais invasiva para o paciente.