Uma grande fábrica da Hyundai em Ellabell, uma tranquila comunidade do sudeste da Geórgia, foi o epicentro na quinta-feira (04/09) de uma das operações de imigração mais extensas da história recente dos Estados Unidos, resultando em 475 prisões, a maioria de nacionais sul-coreanos. A ação foi fruto de meses de planejamento e envolveu múltiplas agências federais e estaduais.
Enquanto policiais estaduais bloqueavam as estradas de acesso à fábrica e montavam perímetros de segurança, cerca de 500 agentes federais, estaduais e locais entraram na instalação de produção de baterias, ainda em construção. Os trabalhadores foram rapidamente alinhados contra as paredes, e alguns tentaram fugir, correndo para um lago de esgoto ou se escondendo em dutos de ar.
Os agentes verificaram a situação de cada trabalhador, liberando aqueles legalmente nos EUA e levando sob custódia os demais para o Centro de Processamento do ICE, em Folkston, Geórgia. Por volta das 20h, a operação estava concluída.
ENTENDA
Trabalhadores descreveram a cena como caótica. Um funcionário, que preferiu não se identificar, relatou: “Eles mandaram todo mundo encostar na parede. Ficamos lá cerca de uma hora, depois fomos levados para outra área para aguardar, e depois processados em outro prédio”. Outro trabalhador contou à Univision que se escondeu em um duto de ar para escapar da captura, enfrentando calor intenso. Durante a operação, alguns tentaram fugir para um lago de esgoto, sendo resgatados por agentes com barco.
De acordo com Steven Schrank, agente especial responsável pela investigação de Segurança Interna, todos os 475 detidos estavam ilegalmente nos EUA, alguns entraram ilegalmente, outros tinham visto válido apenas para turismo ou negócios, mas proibido para trabalho, e alguns haviam ultrapassado o prazo do visto. A maioria era sul-coreana, totalizando mais de 300 pessoas, conforme informações do ministro das Relações Exteriores da Coreia do Sul, Cho Hyun.
Em resposta, o presidente sul-coreano Lee Jae Myung ordenou que fossem tomadas “todas as medidas necessárias” para apoiar os nacionais sul-coreanos, e diplomatas foram enviados ao local para proteger seus direitos e as atividades econômicas de empresas sul-coreanas nos EUA.
A Hyundai afirmou que não acredita que os detidos fossem funcionários diretos da empresa. “Estamos revisando nossos processos para garantir que todas as partes que trabalham em nossos projetos mantenham os mesmos altos padrões de conformidade legal que exigimos de nós mesmos”, disse a empresa, reforçando que adota tolerância zero para quem não segue a lei.
A operação ocorreu em um contexto de críticas da administração Trump ao sistema federal E-Verify, usado por empregadores para verificar a elegibilidade legal de novos contratados. Segundo especialistas, estar em situação irregular nos EUA é geralmente uma infração civil, e não um crime, mas a ação mostra a intensidade da atual repressão a trabalhadores em situação irregular em locais de trabalho.