Já passa das cinco horas da tarde e entre as árvores do Parque Ambiental Beira Rio o sol já começa a se pôr. O movimento das cordas usadas por jovens praticantes de rapel na Ponte Estaiada Mestre João Isidoro França, no entanto, ainda continua intenso. Entre eles, está o promotor de vendas Pedro Guedes, que há seis meses pratica o esporte incentivado pelo tio instrutor. ?A primeira vez que fiz rapel foi aqui. A criação desta área de lazer foi muito importante para a cidade?, disse Pedro, preparando-se para mais um salto.
Mais sedentário que Pedro Guedes e pela segunda vez no Complexo da Ponte Estaiada, o advogado Bertran Alcântara, de 41 anos, acredita que o ponto turístico resgata o orgulho de ser teresinense. ?Não temos praia, mas agora possuímos a Ponte Estaiada?, comemora. Segundo ele, ?as pessoas não precisam só de saúde física, mas também mental e olhando essa paisagem nós temos isso?, falou Bertran observando o descer das águas do Poti. Rio que, entretanto, recebe dejetos sem tratamento de bocas de esgotos localizadas no parque, área de preservação ambiental.
De acordo com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Turismo (Semdec), já há um levantamento junto com a Secretaria de Meio Ambiente para que o problema das bocas de esgotos seja solucionado, bem como a revisão do piso e dos banheiros químicos. ?Eu acho um absurdo esses dejetos em uma área turística. O desenvolvimento precisa vim acompanhado de preservação, pois sem ela não existe crescimento?, testemunhou o funcionário público Marcos Avelino, enquanto se alongava para mais uma caminhada na região.
O secretário Municipal de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Deocleciano Guedes, se diz envergonhado com a estrutura de esgotamento sanitário de Teresina. Segundo ele, apenas 22% dos esgotos são tratados o que afeta o desenvolvimento do turismo nos moldes da sustentabilidade. ?Quando as pessoas sabem dos problemas de saneamento temem visitar a cidade e contrair doenças. Isso dificulta a divulgação de Teresina como cidade turística?, assegura o gestor.
O biólogo e pesquisador em biodiversidade e utilização sustentável dos recursos naturais Ribamar Rocha também critica o despejamento de esgoto sem tratamento no Beira Rio. ?Os dejetos irão degradar o rio, prejudicando a vida aquática e também as pessoas que mantiverem contato com essa água, como a população ribeirinha?, esclareceu.
No que se refere ao lixo produzido pelos frequentadores do parque, a Superintendência de Desenvolvimento Urbano da Zona Leste informou que ?não tem como mensurar? a quantidade recolhida no local. No complexo, existem lixeiras para cada tipo de detrito, mas eles são misturados no instante da coleta, impossibilitando a reciclagem. ?Se o lixo acumular e não for recolhido com uma chuva ele pode cair no rio, poluindo-o mais ainda?, acrescentou Ribamar Rocha.
O parque possui ainda outros problemas. Um deles é um gerador de alta tensão elétrica muito próximo a brinquedos. ?O risco existe, mas acredito que as grades o diminuem?, respondeu Brena Dantas, coordenadora da Semdec responsável pelo parque. Outra questão a ser resolvida são os anúncios colocados ilegalmente ao longo da área de preservação ambiental. Segundo Brena, ?existe uma fiscalização e quando constatadas as placas são retiradas?. Uma delas anunciava aulas de yoga e permaneceu no parque até a edição desta reportagem.
A publicidade não é a única pressão da iniciativa privada sobre a área de preservação ambiental. Apenas eventos de interesse público podem ser feitos no local. A lei 12.651 sancionada pela presidenta Dilma Rousseff e publicada em 25 de maio deste ano especifica o que seriam essas atividades, entre elas, ?implantação de infraestrutura pública destinada a esportes, lazer e atividades educacionais e culturais ao ar livre, atividades eventuais ou de baixo impacto ambiental e atividades que comprovadamente proporcionem melhorias na proteção das funções ambientais?.
Banquinhas que comercializam o artesanato local e gêneros alimentícios são encontradas no Beira Rio. Segundo a Semdec, a escolha foi feita por via de licitação. Vânia Oliveira é uma dessas microempresárias e aponta o local como um ponto estratégico para vendas e considera que a vinda de um novo shopping vai valorizar mais a região.
Para o secretário municipal de Meio Ambiente, a maior dificuldade é disciplinar os vendedores ambulantes de pontos turísticos da cidade, pois é produzida uma grande quantidade de lixo e a Prefeitura ainda não possui condições de tratar adequadamente.
Já a Semdec afirma, na sua página na internet, que sua missão é ?promover o desenvolvimento do turismo sustentável no município?. Mas Brena Dantas admite que o órgão atualmente não conta com nenhum projeto de educação ou turismo ambiental, exceto a construção de trilhas, no Complexo da Ponte Estaiada, mas pondera: ?Várias entidades da sociedade civil realizam atividades de caráter educativo e de saúde no local como, por exemplo, medição de pressão arterial?.
De acordo com a coordenadora, a secretaria está desenvolvendo um projeto para levar artistas locais para realizarem shows no complexo durante os finais de semana, ?incentivando a cultura piauiense e servindo como atrativo para os turistas?. O biólogo Ribamar Rocha, todavia, alerta para os riscos que atividades como essas podem causar em uma área de preservação ambiental. ?Um projeto como este deve ser bem planejado. Imagine, por exemplo, se não forem colocados banheiros suficientes. As pessoas irão urinar na vegetação, causando um impacto na região. O poder público também precisa sinalizar o ambiente para que os visitantes saibam que ali há restrições. Mesmo assim, uma multidão pisando nessa área sem dúvida causará degradação?.
Além disso, Ribamar Rocha acentua que a substituição de vegetação nativa por plantas ornamentais, por exemplo, como verificado no Beira Rio, ajuda na deterioração do ambiente. ?Nós temos que aprender a apreciar as plantas locais, típicas de nossa região. Temos que descobrir nossas riquezas?, opinou. A prática é proibida pela lei 12.651.
O Parque Ambiental João Mendes Olímpio de Melo (Parque da Cidade) vive um momento oposto ao Complexo da Ponte Estaiada no que se refere à movimentação turística. As portas estão abertas, mas a recepção não é das melhores. Um painel antigo e apagado orienta o visitante. Os guias que acompanhariam os trilheiros não foram localizados no dia da reportagem (22 de junho) e a equipe inicia a trilha sozinha.
Um copo descartável, material não apropriado para uma área de preservação ambiental foi encontrado. A origem é desconhecida, mas o secretario de Municipal de Meio Ambiente afirma que já existem projetos para barrar a prática. Um deles recebe o nome de ?Quem ama cuida? e propõe conscientização ecológica a respeito de temas como o lixo e o combate ao mosquito da dengue.
?Fizemos esse projeto para chamar a atenção de moradores do Bairro Risoleta Neves (próximo à área) com relação ao parque. Eles têm que se sentir parte daquele espaço. Muitos jogavam sacos plásticos e papéis nesta área de preservação. Fizemos cursos de reciclagem e falamos do privilégio deles de morar perto de uma área verde?, declara Deocleciano.
Júlio Cesar Araújo Silva e sua Mãe, Maria da Luz Silva moram próximo ao Parque da Cidade, mas preferiram visitar o Complexo Cultural Ponte Estaiada. Eles não visitam o Parque da Cidade com frequência e afirmam que não conhecem muito sobre as práticas realizadas no local.?Sei que de vez em quando são feitas umas campanhas de vacinação lá, mas não conheço muito. Eles não fazem muita divulgação do que o parque tem?, cita Júlio Cesar.