O Piauí está vivendo uma revolução, ainda sem visibilidade, promovida por uma legião de médicos, farmacêuticos, biólogos, botânicos, enfermeiros, nutricionistas piauienses que estão em seus laboratórios e em suas pesquisas para dissertações de mestrado e teses de doutorado, de uso da biodiversidade da região em medicamentos revolucionários, descobertas de novas propriedades terapêuticas e medicinais de plantas a que os piauienses estão acostumados.
Uma das novas descobertas foi feita pelo cientista Marcelo Bezerra Mendes, que constatou o efeito hipotensor, que provoca a queda da pressão arterial, e anti-hipertensivo do óleo essencial da almecegueira ou breu branco (Protium heptaphyllum), uma árvore frutífera de copa densa, pertencente à família Burseraceae, cuja casca destila uma resina aromática que é usada para fins medicinais ou como incenso de igreja.
Crédito: Agência Fapeam
O breu branco é uma árvore que pode ser encontrada em todo o Brasil, com maior concentração nas florestas tropicais e costeiras. Seus frutos servem de alimento para diversas espécies de aves e outros animais, isso faz dela uma espécie muito importante para o reflorestamento.
As descobertas de Marcelo Bezerra Mendes estão em sua pesquisa “Avaliação do Potencial Toxicológico e Cardiovascular do Óleo Essencial de Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand Livre e Complexado com B-Ciclodextrina”, que serviu de base de sua tese de doutorado, apresentada este ano no Programa de Pós-graduação em Biotecnologia da Rede Nordeste de Biotecnologia (RENORBIO) - Piauí, para obtenção de seu título de Doutor em Biotecnologia em Recursos Naturais.
Sistema de aferição da pressão arterial e frequência cardíaca - Crédito: Arquivo Pessoal
O pesquisador realizou estudo para avaliar os efeitos toxicológicos e cardiovasculares do óleo essencial de Protium heptaphyllum (OEPh) livre e do complexo com β-ciclodextrina (OEPh-βCD), que são um tipo de carboidratos complexos e compostos de ... α -ciclodextrina em ratos normotensos e hipertensos.
“O óleo essencial está entre os diversos constituintes que as plantas produzem e acumulam em estruturas secretoras específicas, tendo importância no uso terapêutico, cosmético, alimentício e religião. Muitos fatores podem afetar a química dos óleos essenciais, incluindo crescimento em ambientes variados, nutrição, secagem, armazenamento pós-colheita e variação genética. São metabólitos secundários presentes em quantidades menores em várias partes da planta. O método de sua extração pode ser feito por destilação, prensagem, hidrodestilação ou extração com solvente. Os óleos essenciais são considerados mais potentes do que os seus constituintes isolados, por possuir várias moléculas ativas que podem atuar de maneira sinérgica ou antagônica, portanto, afetam múltiplos alvos em uma célula, podendo exercer efeitos citotóxicos nas células eucarióticas”, explica o cientista.
De acordo com o cientista, a pesquisa concluiu que o óleo essencial do breu branco tem potencial para reduzir a pressão arterial, “porém, outros estudos são necessários para que possa caracterizar seus efeitos cardiovasculares e colaterais, bem como segurança no seu uso para fins terapêuticos, o que desperta o interesse para realização de novos estudos tecnológicos para uma nova formulação para administração”.
Matéria-prima para cosméticos e produção de velas e incensos
Ele afirma que a almecegueira (ou breu branco) é utilizada popularmente como analgésico, cicatrizante, e contém uma resina no caule composta de uma mistura de terpenos (compostos que integram uma diversificada classe de substâncias naturais, ou metabólitos secundários de origem vegetal, especialmente das coníferas), porém não encontrado na literatura científica a utilização da mesma como anti-hipertensiva.
Crédito: André Pinto - ambientecult.blogspot.com
Segundo Marcelo Bezerra Mendes, a alta diversidade de terpenos na resina aromática do breu branco proporciona uma defesa eficaz contra patógenos e herbívoros. A resina destilada do caule é fonte de matéria-prima para produzir medicamentos, cosméticos, produtos de higiene, perfumaria, repelentes, vernizes, incenso e velas.
Do breu branco se extrai o óleo-resina amorfa, com múltiplos usos pela indústrias. Pode ser utilizada para a fabricação de vernizes e tinta, calafetagem de canoas, combustor de fogo, cosméticos e repelentes de insetos.
O seu óleo essencial é usado pela Aromaterapia por ser cicatrizante e expectorante, anti-inflamatório e antimicrobiano. É também empregado para a limpeza física e energética.
Na medicina popular, gomas de óleo de resina desta planta são usadas para diversos fins, como, por exemplo, estimulante, analgésico, utilizado nas obstruções das vias respiratórias, bronquite, tosse e dor de cabeça. O óleo essencial comercializado com o nome de breu preto se refere à mesma espécie.
Resinas foram adquiridas no Mercado Central de Teresina
As amostras de resina de breu branco, utilizadas pelo cientista Marcelo Bezerra Mendes, em sua pesquisa, foram adquiridas no Mercado Central da Teresina. Ele as manteve sob refrigeração até o momento da extração. A identificação das espécies ocorreu no Herbário Graziela Barroso, na Universidade Federal do Piauí (UFPI).
A resina foi submetida à hidrodestilação em aparelho tipo Clevenger modificado, e as frações foram coletadas logo após três horas de extração. O óleo extraído foi acondicionado em recipiente de vidro lacrado por tampa envolvida por papel alumínio e mantida sob refrigeração com temperatura menor que 5 °Celsius.