De asfalto quente a água fria: após morte, aluno relata excessos de PMs

O aluno não relata se algum recruta precisou de atendimento médico.

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O recruta da PM Paulo Aparecido Santos de Lima morreu na última sexta-feira, dez dias após passar mal durante um treino na semana de adaptação do curso do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cfap). Alunos da 5ª Companhia Alfa denunciaram que um capitão e três tenentes obrigaram a turma a sentar no asfalto quente e jogaram água gelada e areia em alguns alunos. Os relatos envolvendo excessos de oficiais, entretanto, não são novidade no Cfap: dois meses antes do treino que terminou com a morte do recruta, outro aluno denunciou, em documento arquivado na 3ª Companhia obtido, a ordem de um oficial para que a turma ficasse sentada no asfalto quente como punição.

O relato faz parte de um documento de razões de defesa (DRD) produzido no dia 11 de setembro pelo recruta para justificar o fato de ter saído do treinamento para ir ao banheiro sem autorização. O aluno afirma que, após uma hora e meia de treinamento para a formatura do curso ? que aconteceria na mesma semana ? pediu para ir ao banheiro. O oficial negou o pedido. Minutos depois, recruta saiu ?desesperado? de forma. Quando voltou do banheiro, a turma recebeu, ?como forma de punição, a determinação do oficial para se sentar no chão quente?. Ao todo, o pelotão de cem concludentes do curso ficou dez minutos sentado no pátio, ?sob o intenso calor do sol da tarde?. O aluno não relata se algum recruta precisou de atendimento médico. Já no dia 12 de novembro, 33 alunos foram atendidos, sendo que 18 tiveram queimaduras nas nádegas ou nas mãos.

No fim do relato, o aluno protesta contra a prática: ?Não faz parte do treinamento para a formatura de PMs, tampouco integra o rol das sanções previstas no Regimento a exigência de ?sentar no chão quente? ou ?sentar no chão sob forte calor do sol??.

Procurada, a PM não se posicionou sobre o caso nem informou se o treinamento será investigado. Em entrevista no dia 18 de novembro, quando foi diagnosticada a morte cerebral do recruta, o comandante do Cfap, coronel Nélio Monteiro, afirmou que não tinha conhecimentos de outros casos de excessos.

? Já formei mais de 7 mil alunos do Cfap. Até hoje, nunca houve relatos de excessos. O dia 12 foi atípico.

Um outro caso de suposto excesso por parte de oficiais no Cfap está sendo investigado pela Auditoria de Justiça Militar do Ministério Público estadual. Na tarde de 31 de janeiro de 2011, Alessandra Vasconcellos, então aluna da 4ª Companhia, lesionou a cabeça e a coluna num dos exercícios do primeiro dia de adaptação do curso. De acordo com investigação da própria unidade, Alessandra recebeu a seguinte ordem do tenente Eugênio de Freitas Soares: ?Pula, Fem!?. ?Mergulhei no lago e bati a cabeça em uma pedra?, disse ela, em depoimento.

O oficial afirmou que, ?para os alunos que não alcançassem as metas, era ordenado que entrassem no laguinho?. O tenente disse que o exercício era uma ?forma de adestramento e também aliviava o calor do dia?. Alunos que testemunharam a cena contaram que tinham conhecimento de que o lago era sujo.

No dia 9 de outubro, a promotoria pediu informações sobre o estado de saúde da soldado.

Outras unidades também são investigadas por excessos: em depoimento na 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar, o sargento Sergio Luziet Crescencio afirmou que, durante treinamento do curso de formação do Batalhão de Choque (BPChq), em maio de 2012, foi asfixiado por um tenente. Sergio não chegou a concluir o curso:

? Temi pela minha vida ? disse.

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