O crime mais chocante do século 21: dois Van Gogh furtados em 3 minutos

Eram quase 8 horas da manhã do dia 7 de dezembro de 2002, um sábado. Estava frio, apenas 2°C, e quase não havia ninguém nas ruas do centro da capital holandesa

O crime mais chocante do século 21: dois Van Gogh furtados em 3 minutos | Ascom
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Eram quase 8 horas da manhã do dia 7 de dezembro de 2002, um sábado. Estava frio, apenas 2°C, e quase não havia ninguém nas ruas do centro da capital holandesa. As informações são da BBC Brasil News.

No bairro dos Museus, uma van parou. Dois homens descarregaram uma escada e colocaram algumas ferramentas em uma bolsa. Pareciam dois trabalhadores comuns.

Eles encostaram a escada na parede, colocaram suas balaclavas e começaram a escalar um dos edifícios culturais mais conhecidos de Amsterdã, o Museu Van Gogh.

Escondidos atrás de uma parede, eles usaram um par de marretas para abrir um buraco em uma das janelas de segurança reforçada da galeria, disparando o primeiro de uma série de alarmes.

Um dos quadros roubados - Foto: Getty Images

Lá dentro, eles rapidamente olharam para as paredes e pegaram duas pinturas que estavam perto do buraco por onde haviam entrado, uma paisagem marinha e uma imagem de uma igreja, ambas do período inicial do pintor holandês Vincent van Gogh (1853-90), um dos artistas mais importantes da história. 

Isso acionou mais dois alarmes, enquanto o sistema interno de câmeras de vigilância os filmava.

Um dos seguranças do museu entrou em contato com a polícia, mas ela chegou, estava de mãos atadas porque os regulamentos do museu não permitiam que ela enfrentasse os ladrões.

Os assaltantes então colocaram as pinturas, ainda em suas molduras, em sua bolsa de ferramentas e escaparam por meio de uma corda que amarraram no início do assalto a um mastro na frente do prédio.

Quando a polícia chegou, eles voltaram a se disfarçar de trabalhadores comuns e fugiram. Toda a operação durou apenas 3 minutos e 40 segundos.

Mas por que furtar obras de um dos artistas mais famosos do mundo? A quem poderiam ser vendidas, sendo bens praticamente não comercializáveis? Por que alguém as compraria, se elas teriam que ser escondidas para sempre?

Como as obras-primas podem ser salvas antes de serem perdidas para sempre?

Qual foi a verdadeira história por trás do roubo de duas das pinturas mais pessoais e queridas de Van Gogh?

O ladrão

Em Amsterdã, no assalto de 2002, logo teve início uma corrida para rastrear as pinturas roubadas do Museu Van Gogh antes que elas desaparecessem para sempre em alguma coleção privada.

A polícia holandesa colocou um de seus principais detetives no caso: Bob Schagen. Seu instinto lhe disse que o furto tinha sido obra de ladrões profissionais.

Mas os assaltantes, mesmo que o fossem, cometeram um erro crucial. Entre os restos da janela quebrada havia um boné, e abaixo, junto à corda, outro.

"Havia DNA neles", relata Schagen.

A análise de DNA levou ao principal suspeito, Octave "Occy" Durham, um ladrão profissional. "Ele era conhecido por ser um ladrão muito bom. Sabíamos que ele era especializado em grandes roubos, então seguimos seu rastro."

Depois de fugir para a Espanha, Occy Durham foi finalmente preso em dezembro de 2003 e levado de volta à Holanda. Não havia dúvida de que ele havia sido um dos ladrões das pinturas, mas ele se recusava a revelar onde as obras estavam.

Uma das poucas maneiras de rastrear as obras era descobrir se os suspeitos de repente estavam com muito dinheiro e, em caso positivo, descobrir de onde ele tinha vindo.

"Escutas telefônicas apontaram sinais de que eles venderam as pinturas rapidamente", disse o promotor holandês Willem Nijkerk. "Há uma intervenção telefónica datada de março de 2003, quando se fala num montante de 50 mil euros. E isso era apenas metade do que eles esperavam receber."

Além disso, a polícia descobriu que eles estavam comprando relógios, carros, faziam viagens à cidade de Nova York, ao parque de diversões Disneyland Paris.

"Pinóquio"

Há evidências em uma escuta policial feita antes de Occy Durham ser preso, descrevendo a época em que ele vendeu as pinturas. Ele recebeu o dinheiro de um homem misterioso que se apresentava como Pinóquio em um clube famoso no centro da região de Old Amsterdam.

Mas as autoridades não conseguiram encontrar ninguém com o pseudônimo "Pinóquio".

Em maio de 2004, Occy Durham foi levado a julgamento pelo furto dos dois quadros. A amostra de DNA e as escutas telefônicas foram suficientes para sentenciá-lo a quatro anos e meio de prisão, além de uma indenização de 350 mil euros (quase R$ 3 milhões em valores atuais) ao Museu Van Gogh. Mas ele ainda se recusava a revelar quem estava com as obras.

O juiz que emitiu sua sentença descreveu seu furto como um crime contra o patrimônio cultural holandês, referindo-se à arte como parte da alma da nação.

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