Novo laser para glaucoma pode dispensar colírios

O método se chama trabeculoplastia seletiva a laser, ou TSL

|
Siga-nos no Seguir MeioNews no Google News

Clínicas brasileiras estão oferecendo um novo tratamento para glaucoma que pode substituir ou diminuir o uso de colírios. Trata-se de um laser que age na região que drena o líquido dentro do olho, que, quando entupida, pode levar ao aumento da pressão intra-ocular --sinal de glaucoma.

A doença afeta de 2% a 4% da população com mais de 50 anos no país e é a principal causa de cegueira não reversível. "É uma doença silenciosa, que compromete a visão sem que a pessoa perceba", diz o oftalmologista Ricardo Guimarães, coordenador do laboratório de pesquisa aplicada à neurovisão da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

O método se chama trabeculoplastia seletiva a laser, ou TSL, e acaba de ser incorporado a um novo consenso da Sociedade Brasileira de Glaucoma, que deve ser publicado no fim do ano. Ele é indicado para pacientes com glaucoma primário de ângulo aberto --o tipo menos grave, mas responsável por 80% a 90% dos casos.

Já existe um tratamento com outro tipo de laser, de argônio, mas ele tem a desvantagem de queimar a região que drena o líquido do olho e, por isso, não pode ser repetido após o fim do seu efeito, que ocorre em cerca de seis a oito meses.

A TSL também tem efeito temporário, mas pode ser reaplicada. "A técnica nova não é mais eficaz do que a tradicional para reduzir a pressão. Mas é mais vantajosa por poder ser reaplicada", afirma Luiz Alberto de Melo Jr., membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Glaucoma.

Segundo Rodrigo Brant, oftalmologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e coordenador do setor de glaucoma da clínica Cerpo, outro problema é que, depois que a pessoa é submetida ao laser de argônio, os colírios não funcionam mais tão bem. "Por causa disso tudo, esse tipo do laser vem sendo abandonado."

O novo laser é disparado por um tempo muito curto, de três nanossegundos (a bilionésima parte de um segundo). "Ele não queima e não tem efeitos colaterais. Pode ser repetido, teoricamente, infinitas vezes", diz.

A TSL pode ser uma alternativa para a falta de aderência ao tratamento com colírios, muito comum. "O tratamento é para o resto da vida e só serve para não perder mais visão, o paciente não sente melhora. É difícil convencê-lo a usar. Não pode passar do horário e muitas vezes usa-se mais de um colírio. A cada novo colírio acrescentado, a aderência diminui de 20% a 30%", diz Brant.

O preço desse tipo de medicamento também é um problema. Apesar de o primeiro colírio indicado pelos médicos poder sair por R$ 10 mensais, o terceiro sai por R$ 150. E muitas pessoas usam mais de um colírio. "Antes dessa alta recente do ouro, um litro de colírio custava mais do que um quilo de ouro. A maior parte da população não tem condições de usar uma medicação com esse custo", diz Guimarães.

De acordo com estudos estrangeiros, o procedimento com laser pode sair mais barato, a médio prazo, do que o uso de colírios. No Brasil, o preço dele varia -há clínicas que cobram R$ 600 e outras que cobram R$ 2.000.

Um estudo mostrou que 60% dos pacientes usavam colírio de forma errada. Outro problema são os efeitos colaterais do medicamento, como irritação e escurecimento da região.

"Quando o paciente é sensível ao tratamento com laser, se ele usava um colírio é quase certo que vai abandoná-lo. Se usava mais, vai diminuir o número de colírios", diz Marcelo Mendonça, oftalmologista de São José do Rio Preto. Segundo ele, nos EUA há uma tendência à diminuição da indicação do colírio e ao aumento da do laser como tratamento de primeira escolha para glaucoma.

Veja Também
Tópicos
SEÇÕES