No Dia das Crianças, o melhor presente é a presença dos pais

O melhor que você pode dar aos seus filhos é a sua presença; crianças educadas com recompensas podem ter seu desenvolvimento prejudicado, com a falta de clareza sobre seus limites, obrigações e valores

| Reprodução internet
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Mais um Dia das Crianças chegando, e, como sempre, a data tão esperada é quase sempre lembrada por promover a alegria e diversão. Apesar de ser um dia leve e colorido, em que famílias inteiras se preparam para brincar e presentear, a data também é momento para falar de assunto sério: a importância dos pais na formação educacional das crianças.

A família desempenha um papel insubstituível no desenvolvimento infantil, afinal, é por meio dela, que se constroem adultos fortes, com autoestima elevada, preparados para enfrentar desafios, assumir responsabilidades e aprender a lidar com as derrotas e frustrações da vida. Mas será que existe um jeito certo ou caminho fácil de preparar os pequenos para a vida adulta, protegendo-os do sofrimento? Não há fórmula pronta, nem manual de instrução a ser seguido. Mas uma coisa é certa: não há como ser uma boa mãe e um bom pai esperando apenas ser amado pelos filhos.

Na espera de que o amor do filho seja tão incondicional quanto o seu, muitos pais se desdobram para atender (a qualquer custo) os desejos de seus rebentos. Sob alegação de falta de tempo, em função da rotina agitada e do estresse provocado pela vida profissional, muitos tentam compensar a ausência com presentes.

Pai que mima filho castra potencialidades

Na educação tradicional, a criança era tratada desde cedo sem muito direito a desejos e vontades. Já a geração atual de pais se excede no sentido inverso, criando verdadeiros ‘reizinhos no trono’. Uma verdadeira inversão na ordem hierárquica entre pais e filhos.

“E quando essa situação acontece, os pais deixam de cumprir sua função básica de educar e as crianças crescem sem orientação, sem limites, sem identificação, pois lhes falta um modelo forte, seguro e afetivo que possam seguir, respeitar e admirar”, afirma Flora Victoria, mestre em Psicologia Positiva Aplicada, pela Universidade da Pensilvânia.

A especialista alerta ainda sobre um comportamento preocupante da geração atual de jovens, que pensa na sociedade como a continuação de suas casas, onde professores, chefes e colegas de trabalho se comportarão como seu pai ou mãe, de forma condescendente e permissiva. “Como foram criados assim, superprotegidos, acreditam ser o centro das atenções e, por isso, merecem ter tudo que desejam, com pouco ou nenhum esforço ou merecimento. E se algo não sai do jeito que planejaram, sentem-se injustiçados por não entenderem a lei do esforço e da conquista”, reforça Flora.

Não há florescimento humano sem esforço

Esse perfil de jovens é fruto de uma geração de pais que, dentro de casa, só consegue dizer sim, criando uma redoma protetora entre seus filhos e o mundo externo, sob o pretexto de evitar o sofrimento a qualquer preço. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não, e por isso é importante que, desde cedo, eles aprendam a lidar com as contrariedades da vida, a não culpar os outros pelos seus erros, a enfrentar a dor e, principalmente, a resolver sozinhos seus próprios dilemas.

“A psicologia positiva, com suas bases sólidas e recentes descobertas, são um importante instrumento de auxílio a pais e educadores nesta jornada. Quanto mais estudo o relacionamento entre pais e filhos, mais certeza tenho da relevância desta ciência como importante ferramenta para que crianças e jovens aprendam a encontrar significado e propósito em todas as suas ações, seja dentro ou fora de casa, valorizando as emoções positivas que impactam positivamente todas as esferas da vida delas”, reforça Flora Victoria.

Psicologia positiva: conceitos básicos otimizam a relação entre pais e filhos

Criada nos anos 1990 por uma corrente de psicólogos, como Martin Seligman, considerado pai dessa ciência, a psicologia positiva tem como objetivo fazer com que o indivíduo construa competências para lidar com o meio e intervir nele de forma favorável. “É daí que provém a relevância das qualidades, virtudes e forças pessoais, fatores que contribuem para um ambiente mais saudável”, conta Flora.

O cultivo das virtudes capitais de sabedoria, coragem, humanidade, justiça, temperança e transcendência são pilares fundamentais para o desenvolvimento do bem-estar subjetivo e da resiliência – a habilidade de manter-se firme frente às adversidades, suportando-as por meio da firmeza de caráter.

Nesse processo, estão envolvidas as emoções positivas, cujo desenvolvimento amplia nossa percepção, capacidade de raciocínio e recursos internos para lidar com situações de frustração e estresse.

A escola como parceira na educação

A escola é uma grande aliada dos pais na missão de educar de forma positiva. Ela não é somente uma transmissora de conhecimento, mas, sobretudo tem o papel de desenvolver competências que ajudem os alunos a conhecerem seus limites e potencialidades.

“Pais e educadores precisam incentivar as crianças e jovens a utilizarem diferentes linguagens e plataformas para se expressar, compartilhar ideias, experiências e sentimentos. Assim, desenvolverão cada vez mais a capacidade para construir argumentos e opiniões de maneira qualificada, além de saber defender as próprias ideias e pontos de vista,” destaca a presidente da SBCoaching, Flora Victoria.

A partir do próximo ano, as escolas brasileiras precisarão incluir as habilidades socioemocionais em seus currículos, conforme prevê a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC). E contar com uma metodologia sistematizada, cujo propósito é formar indivíduos com valores mais sólidos e emocionalmente fortes, é um grande progresso. “Especialmente, o educador precisará se preparar para esse novo cenário. Ele deve estar apto a trabalhar essas competências no dia a dia dos alunos. Será fundamental formar não somente bons profissionais, mas grandes seres humanos”, pontua Flora. E completa: “quanto mais cedo a criança compreender suas potencialidades e conhecimentos, mais preparada ela estará para encarar os desafios da vida e ser tão feliz, quanto bem-sucedida”, finaliza a especialista.

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