O senador Renan Calheiros j? presidiu mais de dez sess?es do Senado desde que veio a p?blico a revela??o de suas rela?es prom?scuas com um lobista de empreiteira. Nenhuma delas, por?m, foi t?o devastadora quanto a sess?o de ter?a-feira passada. Durante duas horas e cinq?enta minutos, dezessete senadores pediram a palavra ? e quinze exortaram Renan Calheiros a se afastar da presid?ncia do Senado. Os pedidos em s?rie come?aram depois que o l?der do PSDB, senador Arthur Virg?lio, informou que seu partido decidira pedir o afastamento de Calheiros, tornando-se assim o quarto partido no Senado a faz?-lo.
"A posi??o decidida pelo PSDB ? sugerir, e desta vez olhando nos seus olhos, que se afaste da presid?ncia do Senado at? o momento final das investiga?es", disse Arthur Virg?lio, dirigindo-se a Renan Calheiros. Da? em diante, outros senadores, de sete partidos diferentes, engrossaram o coro. Sentado ? cadeira de presidente, com o semblante constrangido mas simulando frieza, Calheiros falou duas vezes na sess?o. Em ambas, disse que n?o arredaria p? do cargo e chegou a afirmar que n?o sabia nem do que era acusado.
"? de quebra de decoro", gritou, do plen?rio, o senador Demostenes Torres, do DEM de Goi?s. Rememorando: Calheiros ? suspeito de pedir a Cl?udio Gontijo, lobista da Mendes J?nior, para pagar a pens?o e o aluguel da jornalista M?nica Veloso, com quem tem uma filha de 3 anos. Para defender-se da suspeita, o senador apresentou um calhama?o de documentos dizendo que lucrara 1,9 milh?o de reais nos ?ltimos quatros anos.
Com isso, queria provar que tinha dinheiro para pagar ? jornalista. Os documentos, por?m, eram inconsistentes e acabaram mostrando a excepcional evolu??o do seu patrim?nio ? estimado hoje em 10 milh?es de reais. A papelada revelou que o senador n?o tinha fazenda nem gado at? 2002 e, nos ?ltimos quatro anos, subitamente se mostrou um not?vel sucesso como pecuarista. Na semana passada, VEJA encontrou outro neg?cio no qual os Calheiros merecem medalha de ouro.
Trata-se de uma f?brica de tuba?na, constru?da em 2003, que, nas avalia?es mais otimistas, vale menos de 10 milh?es de reais. Em maio do ano passado, por?m, os Calheiros conseguiram vend?-la ? Schincariol, a segunda maior cervejaria do pa?s, por 27 milh?es de reais. Um neg?cio estupendo.
Em 2003, o deputado Olavo Calheiros, irm?o do senador, resolveu abrir a Conny Ind?stria e Com?rcio de Sucos e Refrigerantes, em Murici, no interior de Alagoas, terra natal dos Calheiros. Ganhou, de gra?a, um terreno de 45.000 metros quadrados, avaliado em 750.000 reais. O doador foi a prefeitura de Murici, na ?poca comandada por Remi Calheiros, irm?o de Olavo e Renan. A prefeitura tamb?m deu ? f?brica isen??o por tr?s anos no pagamento de ?gua, insumo essencial para uma f?brica de refrigerantes. Com terreno e ?gua de gra?a, Olavo bateu ? porta do Banco do Nordeste, o BNB, e conversou com o gerente Jos? Expedito Neiva Santos, que fez gest?es junto ao BNDES para conceder ao deputado um empr?stimo de 6 milh?es de reais, com vencimento em vinte anos. O gerente Expedito Santos aceitou, como garantia do empr?stimo, a escritura de uma fazenda que o Minist?rio P?blico suspeita ser falsificada. Conclu?do o empr?stimo, o gerente, por indica??o de Renan Calheiros, foi promovido a superintendente estadual do BNB em Alagoas.
Com f?brica instalada, ?gua e terreno de gra?a e dinheiro para pagar em duas d?cadas, a Conny, ainda assim, foi um completo fracasso. Tr?s anos depois, s? vendia refrigerantes na regi?o de Murici. Tinha apenas 0,1% do mercado nordestino. Devia 150.000 reais em contas de luz, n?o pagava o empr?stimo e j? devia 9,9 milh?es de reais ao BNDES. A situa??o era t?o lament?vel que a f?brica recorria contra d?vidas irris?rias. Entrou com a??o judicial para n?o pagar a anuidade de 1.600 reais ao Conselho Regional de Qu?mica.
Tamb?m foi ? Justi?a para n?o pagar 3.600 reais por ano de taxa de fiscaliza??o ao Ibama, o ?rg?o que cuida do meio ambiente. Sofria