Quando a aposentada Eny Rodrigues, 58 anos, foi diagnosticada pela segunda vez com câncer de mama, em 2007, ela ouviu do médico que poderia rodar o mundo, mas não encontraria nada que poderia combater a doença. O câncer já havia se espalhado para o fígado e pelos ossos da paulista e o único tratamento disponível naquele momento era a quimioterapia, que lhe daria apenas alguns meses de vida.
Com a sentença de morte nas mãos, Eny decidiu se agarrar a única esperança que apareceu em seu caminho: participar de um estudo com novas drogas que estava começando no Hospital Pérola Byington, em São Paulo, onde ela já se tratava. O tratamento surtiu tanto efeito em seu organismo que, hoje, oito anos depois, ela revela com tamanha alegria que está curada do câncer.
A recuperação impressionante de Eny ocorreu com a ajuda de uma terapia que usa medicamentos específicos para o câncer de mama do tipo Her2 positivo, que atinge cerca de 20% das pacientes e que esteja em fase metastática (espalhada para outros órgãos do corpo), segundo explica o oncologista clínico e diretor científico do Instituto Oncoguia, Rafael Kaliks.
“O trastuzumabe, o pertuzumabe, o lapatinibe e T-DM1 podem ser acrescidas à quimioterapia e atuam como um “tratamento-alvo” para esse tipo de câncer. Se você acrescentar apenas uma dessas terapias, isso já dá um salto de sobrevida muito importante, passando de 22 meses [se fosse usada apenas quimioterapia] para 40 meses. Se você conseguir dar duas terapias, a sobrevida passa a 56 meses, em média.”
Hoje, o trastuzumabe é oferecido pelo SUS (Sistema Único de Saúde) apenas para pacientes que estão na fase inicial da doença. Já as mulheres que, como Eny, descobrem a doença em fase metastática, têm direito apenas à quimioterapia.
“Eu tive sorte de estar no lugar no lugar certo e conseguir esse tratamento, mas é triste saber que, mesmo tendo passado tantos anos, nem todas as mulheres têm acesso a ele. Você poder viver mais não tem preço.”
O Ministério da Saúde declarou, em nota, que a Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS) “avaliou que a relação entre os benefícios e os riscos do seu uso é desfavorável e, por esse motivo, sua incorporação não foi recomendada” para a fase metastática da doença.