Após prestar depoimento na delegacia, a dona do parque de diversões onde ocorreu um acidente, no domingo (14), em Vargem Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, disse, no início da noite desta terça-feira (16), que não teve culpa. Duas pessoas morreram e outras sete ficaram feridas.
"Eu não sou assassina, eu não tive culpa, foi um acidente", disse a dona do parque na saída da 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes). Além dela, o filho e outro sócio do parque de diversões também prestaram depoimento nesta terça-feira.
De acordo com a polícia, o acidente ocorreu durante uma festa agostina - uma celebração de São João no mês de agosto. Por volta das 3h, um carrinho do brinquedo chamado "tufão" se soltou e caiu do alto, atingindo várias pessoas que estavam numa fila. Alessandra da Silva Aguilar, de 17 anos, ainda segundo os agentes, morreu no local.
A delegada Adriana Belém da 42ª DP (Recreio), responsável pelo caso, informou que a dona do parque e o filho chegaram com um advogado ao local e afirmaram que só vão responder em juízo. Segundo a delegada, os dois foram indiciados nesta terça-feira por homicídio doloso, quando há intenção de matar.
?Eles agora vão responder por dois homicídios, cuja pena varia de 12 a 30 anos, e também por lesão corporal de seis vítimas. Os organizadores da festa, a representante da associação dos moradores e o engenheiro que deu a autorização ao parque vão responder por falsidade ideológica", afirmou a delegada Adriana Belém.
A delegada informou que eles se recusaram a falar sobre qualquer coisa e que nada colaboraram na investigação. Por causa da morte de mais uma vítima do acidente - o jovem Vitor Alcântara de Oliveira, de 16 anos - confirmada nesta terça-feira, a delegada informou que o processo vai ter um agravante, mas ela não deu detalhes.
Sócio diz que não andaria em brinquedos
Um terceiro sócio do parque também está na delegacia para prestar depoimento. De acordo com a delegada, o sócio, que é ex-marido da proprietária, disse que só faz parte da sociedade "para constar", mas que não tem gerência alguma sobre o parque. Ele disse que era barraqueiro, e que não andaria em nenhum dos brinquedos do parque.
Bombeiros e funcionários da prefeitura também prestaram depoimento, além de representantes da associação de moradores, segundo Adriana Belém. A delegada informou que não cabe ao Corpo de Bombeiros fiscalizar as instalações elétricas e os brinquedos. Os dois bombeiros verificaram as saídas de emergência, os extintores de incêndio e a capacidade do local.
Também prestou depoimento a jovem Pamela Beatriz Pereira, ferida no acidente, que foi à delegacia acompanhada da família. Com muitas lesões na face, ela não quis falar com a imprensa.
A delegada confirmou ainda que o engenheiro que deu a autorização para o parque funcionar e os organizadores da festa foram indiciados por falsidade ideológica.
A delegada disse que tem 30 dias para remeter o inquérito à Justiça. Ela vai aguardar a chegada dos laudos da perícia para anexar ao processo.
Mãe de jovem que morreu no domingo critica parque
"Aquilo não era um parque, era um depósito de ferro. Eles (dona do parque e filho) têm de pagar por isso. Ficarei mais satisfeita quando ela e o filho estiverem atrás das grades. O engenheiro também tem de pagar por isso. Como é que ele assina um coisa que não viu? Isso levou a vida do meu bebê que não vai voltar mais", desabafou Adriana Barreto, mãe de Alessandra Aguilar que morreu no domingo após ser atingida por brinquedo que se desprendeu.
Ela deixou a 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes), onde foi conversar com a delegada Adriana Belém. A mãe da vítima disse que ficou satisfeita de ver que a polícia está empenhada na investigação do caso.
"Quando acordei, já estava todo mundo no chão", diz vítima
Uma das vítimas do acidente foi à 42ª DP com a mãe para prestar depoimento. Ana Gabrielle Van Bellen, de 17 anos, disse que estava com um grupo de amigos, inclusive a Alessandra Aguilar que morreu.
Ela contou que o grupo já tinha andado no brinquedo tufão que se desprendeu. Os jovens estavam decidindo se iriam andar novamente no brinquedo quando ela falou que foi atingida.
"Quando acordei, já estava todo mundo no chão. Não sei muito bem o que aconteceu", disse Ana, que levou 12 pontos na cabeça.
Morte de funcionário em parque
Policiais da 42ª DP (Recreio) informaram, nesta terça-feira, que o funcionário Diogo Melo de Paiva, de 23 anos, que trabalhava no parque de diversões, em junho deste ano, morreu em um acidente causado por um brinquedo chamado surfe. O parque estava em Paty do Alferes, na Região Centro Sul Fluminense, durante a Festa do Tomate.
De acordo com a delegada Adriana Belém, também houve outros caso de acidente no ano passado. ?Já descobri, inclusive, a ocorrência de um homicídio culposo, em 2006, além de vários procedimentos de lesão corporal por acidentes ocorridos neste mesmo parque?, disse a delegada.
Em 2006, o parque ficava no bairro da Abolição, no subúrbio do Rio, e um adolescente, chamado Róbson da Costa, de 14 anos, morreu. Outras duas crianças ficaram feridas, em 2008. ?Com a constatação de que não havia a menor possibilidade de este parque estar funcionando, vamos mudar a tipificação?, afirmou a delegada, reiterando que vai mudar a tipificação do crime de homicídio culposo para homicídio doloso.
Feridos
De acordo com a Secretaria, Daiane Mesquita, de 17, outra jovem também ferida no acidente permanece internada Hospital municipal Miguel Couto, no Leblon, na Zona Sul, em estado gravíssimo. Ela está no Centro de Tratamento Intensivo (CTI), com traumatismo craniano.
Já a jovem Francine Januário Santana, de 20 anos, sofreu uma fratura na mandíbula e também está internada no Hospital Miguel Couto. Segundo a Secretaria municipal de Saúde, seu quadro é estável, mas não há previsão de alta.
Vistoria em parque na Baixada
O Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-RJ) fez uma vistoria em um parque na tarde desta terça-feira (16) em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. De acordo com o conselho, não foi encontrada nenhuma irregularidade no local, que ainda estava sendo montado. No entanto, nenhum engenheiro responsável acompanhava a montagem dos brinquedos.