O Brasil é conhecido como o paraíso das cirurgias plásticas. Tanto que muitas mulheres viajam para o país em busca da silhueta ou do rosto perfeito. Dados da Sociedade Internacional da Cirurgia Plástica confirmam isso, colocando o Brasil no segundo lugar do ranking internacional de campeões em plásticas.
As mulheres da chamada meia idade são o principal público dos procedimentos. Elas respondem por 86,3% dos procedimentos cirúrgicos com finalidade estética. Ao todo, foram 1.306.962 cirurgias realizadas em 2020, sendo que mais de 112.186 foram abdominoplastias, para "afinar" a cintura.
Emocional
Diante destes dados, um questionamento: por que as mulheres brasileiras têm tanto pânico, preconceito e vergonha de envelhecer? Em meio aos estereótipos do corpo perfeito, existe uma eterna luta emocional para manter a autoestima em dia. Muitas mulheres sofrem do chamado "terror da meia idade".
E esse terror começa cedo. Mulheres de 30 anos já se sentem envelhecidas. Por outro lado, outras comemoram a maturidade com um sorriso no rosto e praticando o autocuidado. É o caso da professora Socorro Alencar, que brindou os 40 anos no auge da própria beleza.
Pressão social que chega com a idade
Para Socorro Alencar, o maior desafio de chegar aos 40 foi a pressão social. "Precisamos estar casadas, com filhos, ter estabilidade profissional e financeira e ainda estar belas. Equilibrar todas essas áreas e as emoções próprias dessa fase é desafiador", revela.
A solução é encarar o passar dos anos de forma natural. "Nunca me senti tão bonita", dispara. "A maturidade nos faz compreender que cada época tem seu encanto, as inseguranças da juventude vão sendo substituídas pela certeza de que carregamos uma beleza singular, única", acrescenta.
Maturidade
O autoconhecimento e o amor próprio são a chave para a completude. "Com a maturidade não esperamos ser encontradas por alguém que nos completará, mas esperamos ser amadas por quem somos, seres completos, cheias de amor-próprio", avalia.
Socorro Alencar afirma que nunca se sentiu tão plena.
"Aos 40 fiz as pazes com meu corpo, não trocaria pelo visual que tinha aos 20 ou 30 porque entendi que a beleza externa reflete a essência que a gente carrega. Que venham os próximos anos porque eu quero é ser feliz", considera.
Autoconhecimento para ser feliz consigo mesma
Para Sara Damasceno, psicóloga, as mulheres são educadas para que a estética e a beleza sejam os principais valores.
"A mulher que perde a beleza perde o 'valor'. Então a vaidade termina sendo algo central. Precisamos nos cuidar e estar sempre bem apresentáveis dentro de um padrão de beleza. Então é um processo difícil", explica.
A psicóloga explica que as mulheres são ensinadas a serem bonitas para ter um bom casamento, por exemplo. "Passa por isso, sempre. Tem um lado positivo nesse aspecto: as mulheres vivem mais que os homens. Por mais que elas tenham dificuldade de envelhecer, elas se cuidam mais, vão mais ao médico", considera.
Primeiro passo
O autoconhecimento é o primeiro passo.
"É preciso entender que o processo de envelhecimento tem muito valor. Sabedoria, experiências que foram vividas. Essa maturidade é positiva para as mulheres. Ressignificar a crença que o envelhecimento é ruim. Ele não é. A vida tem fases, e seremos idosos um dia", lembra Sara.
É preciso ter um olhar ampliado ao não apego a fases da vida. "Assim, de forma assertiva e cuidadosa, somos livres para ser autênticas. Não é para ficar na fase sempre jovem e não envelhecer. É preciso olhar mais para dentro, de forma central. Não é querer que a sociedade me valorize", conta.
Mulheres que envelhecem muito bem terminam sendo inspirações, mas também podem acender ansiedades para ser igual.
"Existem fatores genéticos, de mentalidade. A Claudia Raia, com 55 anos, grávida, tem um cuidado com o corpo de anos para ter uma gravidez saudável nessa idade. Por isso o autoconhecimento é importantíssimo para usar esses exemplos de forma positiva, não para mais cobranças", finaliza.