A paraense Norma Coelli publicou um relato emocionante na sua página no Facebook sobre a transformação do seu filho. Quebrando tabus e preconceitos, ela divide com todos a história de José Bernardo, pedindo que amigos e família entendam e respeitem a escolha do garoto.
José Bernardo, hoje com 18 anos, nasceu Letícia, mas Norma conta que sempre achou que tinha algo de diferente com o filho. Preferiu ignorar, acreditando que era apenas uma ‘garotinha marrenta que adorava jogar futebol’.
Ela ainda conta que, por medo do que seu filho poderia sofrer caso assumisse sua verdadeira identidade, costumava incentivá-lo a usar roupas cor de rosa e a fazer aulas de balé. Mas quando Bernardo fez 12 anos, decidiu conversar com a mãe e expor seus sentimentos. Norma o apoiou imediatamente, além de incentivar o filho a ir em frente, passando por um longo caminho de transformação, até finalmente se tornar José Bernardo.
Confira o depoimento na íntegra:
“Família e amigos, primeiramente quero avisar que é textão. Provavelmente o mais longo que já escrevi aqui. E é importante, de verdade, que vocês o leiam até o fim; mas o que vai importar no final é a reflexão que ele vai causar (eu espero que sim, por isso fiz questão de marcá-los aqui).
Vamos lá. Precisamos falar sobre o Bernardo.
Isso mesmo. José Bernardo, meu filho caçula, que praticamente todos conhecem há 18 anos. Ou pensam que conhecem. Afinal de contas, o que viram esse tempo todo foi uma garotinha marrenta e que adorava jogar futebol. E essa verdade era a que eu, covardemente, também tentava acreditar. Covardemente, pois sabia o quão complicada seria a vida do meu filho se o que eu via realmente acontecesse de fato. Bem, didaticamente vou falar como tudo começou, pra ficar mais fácil a todos: desde que Letícia nasceu, eu percebi que “ela” era diferente. Sabe o instinto de mãe? Pois é… Eu olhava aquela garotinha de bochechas rosadas no meu colo e não era ela que eu via! Isso é muito estranho pra mim até hoje, mas a pura verdade. Eu sabia, desde sempre, que a minha filha não era uma menininha!!! Então o que fiz? Mascarei isso o mais profundo que eu podia!!! Muitos lacinhos, babados, bonecas e afins! Depois aulas de balé pra aprender a ser “mocinha”… Daí vieram as sapatilhas, frufrus e o lindo mundo cor-de-rosa!!! E, por alguns anos, eu também acreditei no meu próprio “mundinho mágico” e achei que tudo era imaginação boba de mãe. Mas não era. Na verdade, eu apenas torturei minha “garotinha” por anos a fio!!! Sim, torturei. Esse é o termo. Mesmo na inocência da infância, Letícia não entendia o porquê de não poder se vestir como o irmão. “Ela” pegava as roupas dele escondido e saía pra brincar no condomínio, porque era assim que “ela” se via: igual ao irmão mais velho…
Na puberdade a coisa desandou… Pois começou a inevitável guerra hormonal, e “ela” se viu olhando meninas com outros olhos… E sendo amiga dos rapazes na mesma proporção!! Imaginem o drama na cabecinha pré-adolescente com isso!! Até que, aos 12 anos, “ela” me revelou o óbvio: que gostava de meninas. Então começam os rótulos que a sociedade impõe: minha ” menina” era o quê? Lésbica? Gay? Homossexual? Bissexual? Eu sabia que o buraco era mais embaixo… Eu sabia desde o princípio! Então, gradativamente, “ela” começou a se libertar dos invólucros estéticos e começou a assumir seu verdadeiro eu; cortou os longos cabelos cacheados, passou a usar roupas de “menino” e várias outras coisas… E sabem o que aconteceu desde então? Eu vi, pela primeira vez, a essência verdadeira do meu filho!!! Enxerguei com todas as cores aquela pessoinha brilhando, feliz, liberta e confiante!!!
A verdade então, meus queridos, é que tenho um lindo e abençoado rapaz transgênero na minha vida!!! Muito amado por mim, por seu pai e seu irmão mais velho. Querido e respeitado por todos que o cercam, por ser uma pessoa inteligente, bom caratér e com um coração enorme!!! E que eu tenho muito orgulho de ter sido escolhida por Deus para o gerar, criar e educar. Sei o quanto ele é especial e o quanto vai fazer diferença no mundo daqui para a frente… Não vou me prender a explicações técnicas sobre a transgenia. Peço que leiam e se informem mais em sites idôneos, pois é uma questão clínica. E peço que divulguem esse texto, pois sei que muitos jovens sofrem imensamente com o descaso das famílias, e é importantíssimo saberem que não estão sozinhos no mundo. Sempre haverá alguém pra lhes apoiar e dar amor. Sempre.
Agora, família e amigos, o pedido mais importante de todos: comecem a tratar o meu pequeno rapaz pelo o que ele é: um rapaz!!! Um lindo, saudável e grande homem que, ao escolher o nome que vai carregar pela vida, não pensou duas vezes: JOSÉ, em homenagem ao seu amado avô, seu anjo da guarda agora, e BERNARDO, que significa “força de urso”. E é isso que esse rapazinho lindo da mãe tem: uma imensurável força de urso!!!! Então, oficialmente, seja bem vindo ao mundo meu príncipe lindo José Bernardo Oliveira de Souza!!!! Estarei contigo por essa e pela vida eterna…. Amo-te!!!! Amo-te e amo-te mais ainda!!!”