?Nunca pensei que iria querer ser mãe um dia. Já estava casada há mais de dez anos, com trabalho estável em uma empresa de petróleo e tinha certeza de que não conseguiria conciliar filho e carreira. Quando fiz 35 anos, meu pai faleceu repentinamente de meningite. Foi quando percebi que dessa vida nada se leva... Minha visão do mundo mudou e decidi que era hora de engravidar. Meu marido Fábio e eu tentamos o resultado positivo por um ano, sem sucesso.
Então, fizemos alguns exames e descobrimos que poderíamos demorar para conseguir engravidar de maneira natural. Para não perder mais tempo, resolvemos partir para o tratamento de fertilização, que durou 30 dias. A gente queria duas crianças e, como eu não pretendia passar pela gravidez duas vezes, principalmente por conta da idade, o médico sugeriu colocarmos três embriões. Mas, na hora, o Fábio preferiu implantar quatro. Aceitei, com medo de não conseguir engravidar de primeira. A fertilização foi um sucesso. Na primeira consulta, o médico viu a dilatação do útero e disse que era difícil ser apenas um bebê. ?Devem ser dois. Três é improvável, quatro é impossível.? Ficamos superfelizes!
No dia do primeiro ultrassom, a surpresa: eram quatro bebês! Assim que soube disso, quis todos na mesma hora, mas tive muito medo de perder algum. Sou baixa, tenho apenas 1,57 metro de altura. Tinha receio de que nascessem muito prematuros e com problemas de saúde.
Felizmente, a gestação estava correndo bem. Na 22ª semana, fui fazer o pré-natal em uma clínica no Rio de Janeiro, como de costume. O exame consistia em escutar os bebês e medir o colo uterino. Só que, em sete dias, meu colo diminuiu pela metade, o que levou à conclusão da necessidade de uma cerclagem (cirurgia que ?costura? o colo do útero) ? seguida de internação.
Quando ouvi: ?Agora você só sai daqui com seus filhos nos braços?, fiquei desesperada! Não tinha comprado enxoval nem montado o quarto das crianças! A ordem era repouso absoluto. Fiquei dez semanas em uma maca, sem poder levantar nem para tomar banho, que era dado na cama. Mas mantive o foco na saúde dos bebês e comecei a estabelecer metas. A primeira era chegar a 24 semanas. Depois, a 27 ? e os médicos já acharam um milagre!
Com 31 semanas, no entanto, minha pressão começou a baixar muito. Os médicos falaram que não dava mais para esperar e me convenceram que era hora dos meus filhos nascerem. Então, juntaram duas salas de parto e 23 pessoas. Entre elas, quatro pediatras, quatro assistentes, dois anestesistas e dois obstetras, além dos enfermeiros. Antes da cesárea, as meninas da clínica em que eu estava internada fizeram meu cabelo, me maquiaram e cheguei à sala de parto toda empolgada. Eu estava muito bem, sempre confiei que daria tudo certo.
Tomei anestesia raquidiana e fiquei consciente o tempo todo. Lembro de ver o lençol verde e logo nasceu o primeiro bebê: a Vitória. Ela demorou um pouco para chorar, mas, assim que a tiraram da minha barriga, eu voltei a respirar ? não tinha percebido, mas estava há algum tempo prendendo a respiração. A segunda que veio foi a Gabriela, depois o Pedro Henrique e, por último, a Beatriz, todos com dois minutos de diferença. O pai fez questão de cortar todos os cordões umbilicais. Quando colocaram os quatro em cima da gente, foi aquela batelada de fotos.
Todos os pediatras quiseram fotografar com os bebês, porque o sucesso do procedimento era um troféu para eles também. Acho que ninguém botava fé que ia dar tudo certo, por serem quatro e por eu ter sido internada com 22 semanas. Mas deu. Eles nasceram bem, ficaram apenas uma semana na encubadora, mas sem precisar de oxigênio.
Hoje meus filhos têm 2 anos e são muito saudáveis. Ninguém diz que são gêmeos, porque são superdiferentes. E enormes. Puxaram o pai, que tem 1,83 m. O pediatra até hoje vibra tanto quanto a gente, foi uma vitória enorme para todos nós.?
Mais bebês, mais cuidados
A gravidez de múltiplos aumenta os riscos de complicações como pressão alta, diabetes gestacional e parto prematuro, além de baixo peso do bebê ao nascer e dificuldades respiratórias. Por isso, o acompanhamento deve ser cuidadoso. A quantidade de ultrassons pode ser o dobro (seis ou mais), mas alguns médicos pedem o exame a cada 15 dias. Na hora de agendá-lo, avise sobre a gravidez de gêmeos. Isso porque a condição exige mais tempo e cautela no procedimento.
As visitas de pré-natal também precisam ser mais frequentes. O desconforto da gestante (dificuldade para ir ao banheiro, enjoo, azia...) é grande, já que a produção de hormônios é maior. Na maioria dos casos, os especialistas aconselham repouso em casa por volta da 28ª semana para aumentar a chance de os bebês nascerem no tempo certo. Uma das justificativas é que os hormônios produzidos pelo estresse do dia a dia podem estimular as contrações.
A executiva Taís Watanabe Alvim, 38 anos, internada durante a gestação
Acima, Taís cinco dias antes do parto dosquadrigêmeos
A família unida, quando os bebês tinham 9 meses