?Depois de tanto sofrimento, quero levar minhas meninas para casa. É só nisso que penso?, esse é o único desejo de Luzinete Oliveira, grávida das gêmeas siamesas Isadora e Isabeli que dividem o mesmo coração e estão unidas pela face e pelo tórax. A merendeira de 36 anos, moradora da Serra, na Grande Vitória, está no final do sétimo mês de gestação e luta todos os dias para ter em seus braços as duas filhas.
Desde a última quinta-feira (21), a gestante está internada em um hospital de Vitória para que uma equipe médica possa acompanhar os últimos dois meses da gestação. O obstetra que acompanha a merendeira disse que esse caso é muito preocupante para a saúde do Espírito Santo e que a qualquer hora as meninas podem nascer.
Luzinete Oliveira já tem três filhas e chegou a ter um menino, mas ele morreu em um acidente de carro, em novembro de 2010, com menos de dois anos de idade. A merendeira e o marido, o pedreiro Valter Oliveira de 38 anos, pegaram carona com um amigo, após saír de uma agência da Serra com a carteira de trabalho de Luzinete assinada. Ela começaria a trabalhar nos dias seguintes. Mas, no meio do caminho, eles foram atingidos por um carro em alta velocidade. O filho do casal, que estava no colo da mãe, morreu na hora.
?Um ano depois, descobri que estava grávida. Não sabia se ficava feliz ou triste. O ano anterior tinha sido o pior de toda a minha vida, mas a gravidez era a oportunidade de ter um filho, seria a chance de ter motivo para ser feliz. Mas no quarto mês de gestação descobri que eram duas meninas e que inspiravam muitos cuidados. Precisei ser forte mais uma vez?, contou Luzinete.
A merendeira e o pedreiro contaram que buscaram no amor dos dois e das outras três filhas forças para superar mais uma dificuldade. De família humilde, eles moram em uma casa cedida por amigos e não pagam aluguel. Com o dinheiro da indenização do acidente em que o filho morreu, o casal comprou materiais de construção, mas tiveram que vender para pagar as consultas médicas.
Dificuldade com exames
Valter Oliveira procurou a Secretaria de Estado de Saúde (Sesa) para conseguir os exames de ultrassonografia mais indicados para o caso da gestação da esposa, mas não conseguiu. ?As ultrassonografias que ela fez foram doadas por clínica médica particular. O doutor ficou sensibilizado com a situação e não nos cobrou pelos últimos quatro exames. Se não fosse isso, não saberíamos como estão as gêmeas?, relatou.
A Sesa disse que uma equipe médica do Hospital Estadual Infantil e Maternidade de Vila Velha (Himaba) está em contato com a equipe médica do Hospital das Clínicas para acompanhar o caso. Disse ainda que o Himaba já disponibilizou exames para o acompanhamento das gêmeas e que, por enquanto, não sabe a complexidade do tratamento. A Sesa informou que só poderá afirmar se há ou não recursos para recebê-las após avaliação dos exames.
Obstetra
O médico que acompanha Luzinete disse que o caso da paciente exige muitos cuidados. ?Esse é um caso raríssimo e uma grande equipe médica integrada está acompanhado essa gestação. Os bebês estão em um quadro de risco de vida. Essa não é uma situação simples, não sabemos exatamente como as crianças estão ligadas. As ultrassonografias não apresentam alguns detalhes?, explicou o obstetra Cleverson Gomes.
O obstetra contou que o Hucam é o hospital mais bem equipado do estado e está preparado para receber as gêmeas. Luzinete vai ficar internada por tempo indeterminado para fazer uma bateria de exames. E a partir daí, os médicos podem traçar os próximos passos. Se houver necessidade, conforme o resultado dos exames, a gestante pode ser transferida para o Hospital Universitário de Goiânia.
?Ela está internada justamente para ter mais condições de saúde para ela e para as bebês. Não vamos colocá-la em nenhum procedimento arriscado. Nos últimos 10 anos não tivemos casos tão preocupantes?, disse Gomes.