O Dia das Mães para a jornalista Edna Nunes da Silva, de Toledo, no oeste do Paraná, tem um significado especial. Hoje com 30 anos, ela lembra quando precisou se tornar mãe de duas meninas adotivas ainda na juventude. ?Fui mãe por acaso?, conta.
Edna começou a cuidar da irmã adotiva, Elis, quando ainda era menor de idade, logo após a morte da mãe. Nesta época a menina tinha três anos, e o pai, mesmo abalado com a morte da esposa, ajudava nos cuidados. ?Eu pensava, se estou perdendo a minha mãe e está doendo tanto, imagina o que vai ser dessa criança a vida inteira sem ter uma referência materna?, diz.
Apesar de que a primeira coisa que Edna pensou foi em não poderia abandonar Elis, ela jamais imaginou assumir a maternidade da criança. Segundo ela, assim que a mãe morreu, Elis começou a transferir a referência de mãe a ela. ?Aquilo, de certa forma, me assustou um pouco, mas eu também precisava de alguém para amar. A partir daquele momento eu não podia desistir. Percebi que teria que encarar minha dor, porque eu tinha um compromisso com ela?, lembra. Edna conseguiu a guarda da Elis aos 18 anos de idade.
Como no início a jornalista tinha uma babá para cuidar da menina, ela pôde continuar a trabalhar e estudar. A irmã, que havia se tornado filha, também ficava com o pai de Edna por boa parte do tempo. ?Ela tinha uma babá, mas eu sempre levei ao médico, sempre troquei a fralda, sempre banhei. Assumi como se fosse minha?, afirma.
Nova filha
Três anos depois, Edna descobriu que a mãe biológica de Elis havia engravidado novamente. A mulher não tinha condições para cuidar dessa nova menina, que recebeu o nome de Heloisa. Edna, então, começou a lutar pela guarda da outra criança. ?Eu não planejava ter outro filho, mas pensei: ela [Elis] nunca vai ter o privilégio de conviver com um irmão. Então, eu vou aproximar as duas?, conta.
O processo para conseguir a guarda de Heloisa demorou cerca de cinco anos. Quando a menina pôde ficar definitivamente ao lado de Elis, aconteceu algo que marcou a convivência da família. Heloisa começou a pedir o peito da mãe adotiva para amamentá-la.
Inicialmente, Edna não entendeu a situação e precisou fazer terapia para conseguir ajuda. O terapeuta propôs que, então, amamentasse a filha adotiva, mesmo sem ter leite. Passados 15 dias, a jornalista percebeu alterações no organismo e o leite começou a descer. ?Ela sugava mais do que o peito. Ela sugava carinho, atenção. Ela não tinha necessidade fisiológica de ser amamentada?, acredita.
?A importância dessa história são os laços que ela criou, porque quando ela decidiu que não queria mais procurar o meu peito, ela disse assim: ?agora você é minha mãe??, relembra a jornalista. Para Edna, a atitude de ter oferecido o peito à criança foi determinante para assumir a condição de maternidade.
Como elas cresceram ao meu lado, elas têm muitas características minhas. O físico para mim, é o que menos importa"
A loucura de ser mãe
Ela lembra que muita gente achou uma loucura uma garota tão nova assumir a maternidade de duas meninas. ?Elas [as pessoas] olhavam para mim e diziam: ?como você vai se casar, ser mãe solteira de filhos que nem são seus??. Mas eu as assumi como filhas. Então, eu sabia que não dependeria de ninguém para fazer isso, somente de mim?, afirma.
Edna casou há quatro anos. Assim como previram os amigos, ela teve dificuldade para arrumar um namorado que viesse a se tornar marido. Pelo fato de ter duas filhas, ainda que adotivas, precisava de uma pessoa que suprisse a carência de pai das meninas. ?Quando eu me casei, foi mais importante casar com um bom pai do que casar com um bom marido. Graças a Deus, eu consegui arranjar um homem legal, companheiro, que estava disposto a amá-las?, conta.
Embora o plano do casal, desde o namoro, tenha sido de ter dois filhos, após o casamento eles perceberam que já tinham alcançado esse objetivo. Ela se sente satisfeita, ainda que tenha optado por não ter filhos biológicos. ?Como cresceram do meu lado, elas têm muitas características minhas. O físico, para mim, é o que menos importa. Uma loura, uma morena, não faz diferença?.
Sem arrependimento
Edna afirma que não se arrependeu de encarar a maternidade tão cedo. ?Eu não considero que perdi minha juventude. Tive escolhas, e não prejuízos. Creio que eu tive paciência e inteligência de saber que eu poderia viver isso?, diz.
Logo que perdeu a mãe, a jornalista pensou que não comemoraria mais o Dia das Mães. Porém, essa data novamente se tornou especial quando uma das meninas a entregou um cartão. ?Eu até me emociono em dizer, mas aquilo reconstituiu o Dia das Mães. A partir daquele dia, eu não teria uma mãe, eu seria uma mãe?, completa.