O motorista de aplicativo banido da plataforma após supostamente assediar uma adolescente, de 17 anos, prestou depoimento, na tarde desta terça-feira (18), na Delegacia da Mulher de Viamão, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Na saída, André Lopes Machado falou com a imprensa.
"Eu não vejo cunho sexual nenhum no que eu disse".
"Ela, em momento algum, se mostrou irritada, desesperada. Pediu pra descer, não. O tempo todo rindo, brincando, conversa chegando. Ela perguntou minha idade, eu disse '43', dai ela disse 'mas tu tem idade para ser meu pai'. Eu ainda disse para ela no vídeo, vocês também podem confirmar isso, 'mas eu faria coisas que teu pai não faz'", disse.
Por meio de nota, a Uber informou que a conta do motorista foi banida do aplicativo. (Leia nota abaixo)
Segundo a delegada responsável pelo caso, Marina Dillenburg, André é investigado por perturbação da tranquilidade.
"Não tenho todas as provas para finalizar o inquérito policial. Muito provavelmente, sim, [vai ser responsabilizado] porque temos os vídeos que são uma prova bem forte em relação a isso, mas ainda há elementos a serem considerados. A princípio será responsabilizado por perturbação da tranquilidade. Se conseguirmos tipificar a conduta dele com outras vítimas e coisas mais graves, ele vai ser indiciado", explicou.
A jovem, que se deslocava para a casa de uma amiga, gravou o momento em que o motorista de carro de aplicativo a teria assediado.
"Ele começou a fazer elogios. Dizendo que eu era a passageira mais bonita que ele tinha pego, que geralmente só entrava gente feia", conta a jovem.
No vídeo, é possível ouvir o momento em que a jovem avisa ao motorista que é menor de idade, mas o ele rebate e diz que "não seria um problema". André continua: "seria problema se tivesse 13 anos, e acho que tu não tem 13 anos, 14 para cima tu já é responsável", disse.
"Ele nega que tenha assediado a menina. Ele comentou que está sendo injustiçado, que ele teve que deletar os perfis de mídia social, que está repercutindo muito forte na vida dele, mas ele nega e entende que não houve assédio", disse a delegada.
"Em hipótese alguma, em momento algum, eu agredi ela. Tanto que se vocês tiveram, e eu tenho certeza que vocês tiveram acesso ao vídeo, ela está sorrindo bem espalhada no banco, em posições que eu nem gostaria de citar aqui, pois eu não posso provar, afinal de contas ela não se filmou nesse sentido", disse o motorista.
"Mas ela estava com um short do 'tipo Anitta', uma mini blusa, com as pernas abertas no banco, me chamando atenção", completou André.
Depois de postar os vídeos em uma rede social, a jovem recebeu relatos de outras adolescentes dizendo que já conheciam o motorista e que também tinham passado pela mesma situação.
"Eu fiquei apavorada. Fiquei com medo de ser grossa com ele e ele acelerar o carro e fazer algo pior", contou.
De acordo com a delegada, não há denúncia de outros casos envolvendo o motorista.
"Foi a primeira vez que ele teve problema com uma passageira. Não recebemos formalmente nenhuma outra vítima, mas temos nomes e estamos indo atrás. Mas registro mais ninguém fez ainda", disse.
"Fiquei completamente indignada e com nojo do que ele falou para ela", disse a mãe da jovem.
"Eu fui ingênuo em dar sequência à conversa que não me dizia respeito. Eu fui muito errado em aceitar a corrida sem perguntar a idade dela, porque as diretrizes da Uber é não dar viagens para menores sozinhos, desacompanhados. Ela era tão alta e exuberante que eu jamais pensei que fosse menor. Depois da viagem, ela dizer que era menor, eu não poderia parar e dizer 'desce', seria mais errado da minha parte", explicou o motorista.
Confira nota da Uber na íntegra
A Uber considera inaceitável e repudia qualquer ato de violência contra mulheres. A empresa acredita na importância de combater, coibir e denunciar casos dessa natureza às autoridades competentes. A conta do motorista parceiro foi banida assim que a denúncia foi feita.
A empresa defende que as mulheres têm o direito de ir e vir da maneira que quiserem e têm o direito de fazer isso em um ambiente seguro. Todas as viagens com a plataforma são registradas por GPS. Isso permite que em caso de incidentes nossa equipe especializada possa dar o suporte necessário, sabendo quem foi o motorista parceiro e o usuário, seus históricos e qual o trajeto realizado.
Como parte do processo de cadastramento para utilizar o aplicativo da Uber, todos os motoristas passam por uma checagem de antecedentes criminais realizada por empresa especializada que, a partir dos documentos fornecidos pelo próprio motorista e com consentimento deste, consulta informações de diversos bancos de dados oficiais e públicos de todo o País em busca de apontamentos criminais, na forma da lei. A Uber também realiza rechecagens periódicas dos motoristas já aprovados pelo menos uma vez a cada 12 meses.
Desde 2018 a Uber tem um compromisso público para enfrentamento à violência contra a mulher no Brasil, materializado no investimento em projetos elaborados em parceria com entidades que são referência no assunto, que inclui campanhas contra o assédio e podcast para motoristas parceiros sobre violência contra a mulher, entre outras ações. Em novembro, a Uber anunciou um investimento de R$ 5 milhões para continuidade desse compromisso ao longo dos próximos anos.