A população de Erechim se assustou com a notícia de que a primeira morte causada pela gripe suína no país havia ocorrido justamente na cidade, em junho passado. Máscaras cirúrgicas passaram a ser item obrigatório entre os erechinenses e embalagens de álcool gel desapareciam rapidamente das prateleiras das farmácias do município gaúcho.
Este cenário de quase pânico inspirou o cineasta Osnei de Lima a produzir o filme ?Pra onde eu irei??, que conta a história de um grupo de sobreviventes tentando escapar do vírus da ?gripe fatal? que dizima toda uma cidade. O longa, estrelado por atores amadores e com um orçamento em torno dos R$ 800, está em fase de edição e deve ser lançado em DVD no dia 1º de setembro.
?A trama pode parecer fatalista, mas a intenção é justamente contrária. O filme passa uma mensagem de fé, de que não devemos perder a esperança, por pior que sejam as circunstâncias?, explica Lima, autor de outros quatro longas de baixo orçamento, entre eles ?A verdadeira história do Come-Gente? (2005), com traz a atriz Bárbara Paz no elenco.
A seleção dos atores foi feita no salão de uma igreja evangélica e causou alvoroço entre os moradores, que se inscreveram mesmo sabendo que não receberiam cachê. ?Concorri com mais de 100 candidatos?, diz o contador Edgar Radeski, que protagoniza a história na pele de um pai que tenta salvar os filhos e a esposa da epidemia.
?Eu nem estava tão empolgado, mas quando vi o entusiasmo da minha mulher em atuar, acho que fui contaminado?, brinca.
A ?contaminação? deu certo e Edgar e sua esposa, a consultora de beleza Ana Aloísa Radeski, foram aprovados para os principais papéis. Além deles e das crianças que vivem os filhos do casal sobrevivente, há 64 figurantes que interpretam os mortos pela gripe.
Roteiro em uma noite, filmagem em duas
O processo de composição de ?Pra onde eu irei?? foi tão rápido quanto a ação do vírus da ?gripe fatal? que assombra os personagens da trama.
?Escrevi o roteiro em uma noite. Filmamos em duas?, revela Lima, que teve a ajuda de câmeras e assistentes ? todos amadores, como o elenco da produção. ?Expliquei mais ou menos como se manipulava o equipamento e todo mundo abraçou a causa?.
A rapidez das filmagens ? que aconteceu nos dias 14 e 15 deste mês ? foi necessária. A prefeitura local permitiu o fechamento de algumas ruas e avenidas para a gravação das cenas em um prazo curtíssimo.
?Foi uma corrida contra o tempo. Demos sorte, pois nos dias anteriores a temperatura estava extremamente baixa e nas noites em que filmamos, o tempo estava bem agradável, jogou a favor?, recorda Lima. ?Ali ninguém corria o risco de pegar uma gripe?.
Além dos atores e assistentes de produção, quem também cooperou para a realização do filme foram duas esteticistas que trabalham em salões de Erechim. ?Foram elas que fizeram a maquiagem dos cadáveres que aparecem nas cenas. Ficou bem realista?, elogia o diretor.
Sacrifício pelo personagem
Em suas estreias como atores, Edgar e Ana Radeski tiveram que fazer ?sacrifícios em nome da arte?. ?Eles passaram por uma rígida dieta para emagrecer. Tinham que aparentar o desgaste causado pela epidemia?, explica Lima.
O casal protagonista ? que emprestou seus nomes aos personagens ? ficou empolgado com a ?magia de atuar?. ?Acho que nos saímos bem. Não digo que abandonarei meu emprego para virar ator, mas se pintasse um novo convite para o cinema, eu faria. E feliz?, diz o contador e neoator gaúcho.
Ambicioso, o diretor espera que o filme seja visto por 1 milhão de espectadores em todo o Brasil, até setembro de 2010. ?Hoje temos a internet, que é uma importante aliada na divulgação. Vamos fazer uma grande première em Gramado?, adianta Lima.
?Até o final do ano, quero conseguir fazer a dublagem para o espanhol e o inglês. Esse filme, até pelo tema da gripe, tem potencial para atingir o mercado internacional. Você não acha??, indaga o diretor, já de olho em Hollywood.