Quem visita pela primeira vez o condomínio Vila do Pan, no Rio de Janeiro, se espanta com as grades dos prédios completamente tortas, algumas aparentando estarem soltas do solo, como se, com apenas um sopro, fossem cair. Ao andar mais um pouco em torno dos 17 edifícios, a situação se revela ainda mais preocupante: a rampa de acesso a um dos portões de garagem simplesmente afundou, caindo cerca de um metro de altura. O portão foi interditado, assim como aconteceu com um outro prédio deste condomínio da Barra da Tijuca, zona oeste da cidade. As paredes das garagens têm rachaduras. Na rua, mais problemas: o asfalto está afundando, o que causou desníveis que chegam a meio metro de altura entre uma faixa de rolamento e outra.
Os moradores da Vila, construída para abrigar os atletas que participaram dos Jogos Pan-Americanos de 2007, estão se armando para entrar em mais um embate. Pretendem impetrar uma ação judicial para obrigar, na Justiça, que os problemas dos condomínios sejam reparados pela prefeitura e por responsáveis pela construtora. A diferença é que desta vez a ação deve ser coletiva, em nome de todos os moradores. Para embasar o pedido ? que pode incluir cobrança de indenização por danos morais ? eles contrataram engenheiros da Fundação Coppetec para analisar o solo da região e produzir um laudo.
?Nós, moradores, fomos ludibriados. Mas não vamos deixar de nos movimentar?, diz Safira Lucas Sampaio, que até meados de março era síndica do Parque América do Sul, subdivisão da Vila do Pan que abrange sete prédios.
Quem mora na Vila do Pan diz estar cansado do ?jogo de empurra?. É que a prefeitura e a construtora responsável por erguer os edifícios jogam, uma para a outra, a responsabilidade por problemas de estabilização do solo. Os prédios foram construídos em uma área ?turfosa?, com baixa capacidade de suportar grandes edifícios. ?Esse terreno é ?fraco? para engenharia. Qualquer aterro em cima dele, faz com que ele seja comprimido e começa a haver um afundamento?, explica Antonio Eulalio Pedrosa Araújo, conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio (Crea-RJ).
No centro da discórdia está a colocação de estacas no subsolo da Rua Cláudio Besserman Vianna (onde está localizado o condomínio) e nas chamadas ?amebas?, que são os jardins localizados entre os prédios e as grades que separam a Vila do Pan da calçada. As ?amebas? incluem áreas de portões de garagem. O objetivo das estacas é evitar que o solo afunde. ?As áreas das amebas não receberam estacas e estão afundando. O problema nas amebas afeta a rua, assim como os problemas na rua afetam a ameba?, diz o presidente interino da Associação de Condomínios da Vila Pan-Americana (ACVPAN), Claudio Mecone.
Segundo ele, sempre que questionada sobre o afundamento dos jardins, a prefeitura afirma que ?do portão para dentro do condomínio? o problema é da construtora. E a construtora que ergueu os prédios, a Agenco, que está em situação de insolvência, diz que não tem condições financeiras de fazer os reparos.
No subcondomínio Grandes Lagos, uma das entradas da garagem está interditada desde novembro de 2013, quando a rampa de acesso afundou. ?No final do ano passado, choveu forte e esse terreno cedeu um pouco. Dois dias depois, desceu tudo. Queremos uma posição da prefeitura sobre quando isso será consertado?, diz o morador Joaquim Costa.
A Geo-Rio, órgão da prefeitura do Rio, afirma que quando construiu a Rua Claudio Besserman Vianna colocou estacas em quantidade e profundidade necessárias para o terreno. ?A Agenco, no entanto, não estaqueou as "amebas" e aterrou essas áreas sem a devida base de suporte. O que ocorreu foi que as deformações do aterro dessas "amebas" acabaram por romper as estacas da via que a prefeitura tinha executado?, afirmou a Geo-Rio, em nota.