Moradora de Nova Friburgo cava há três dias para recuperar pertences

“Esperança a gente tem que ter, porque a gente precisa viver“, disse ela

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Há três dias, a moradora de Córrego Dantas, um bairro de Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio, Matilde, de 56 anos, não para de cavar. Segundo ela, a história de toda a sua família foi enterrada no local do deslizamento. ?A história toda da minha família tá aqui. Eu estou querendo achar os retratos das crianças, meus documentos que estavam na cômoda, eu sei onde está tudo?, disse a moradora, incansável, apontando para um quarto destruído ao longe. "É lá que eu preciso cavar".

Além de um pequeno pedaço de madeira, ela usa as mãos para tentar resgatar seus objetos e sua dignidade. ?Depois de trinta anos de luta pra conseguir fazer alguma coisa, um segundo destrói tudo?, lamentou Matilde, depois de encontrar um colchão e algumas roupas da neta.

A moradora, no entanto, não esmorece. ?Esperança a gente tem que ter, porque a gente precisa viver, mas é muito difícil?, disse Matilde, chorando.

Décimo dia

O trabalho de busca de corpos e de limpeza das ruas atingidas pela forte chuva que arrasou pelo menos sete cidades da Região entra pelo décimo dia. Segundo o Ministério Público, cerca de 400 pessoas estão desaparecidas na região. A previsão é de que os trabalhos de busca avancem mais rapidamente, uma vez que não chove nesta sexta-feira (21), o que facilita a ação de bombeiros, policiais e voluntários.

De acordo com as prefeituras das cidades atingidas pelo temporal do dia 11, o número de corpos resgatados chega a 771 e o número de desabrigados e desalojados gira em torno de 20 mil pessoas. Pelos últimos levantamentos dos municípios, ao todo são 373 em Nova Friburgo, 304 em Teresópolis, 65 em Petrópolis, 22 em Sumidouro, 6 em São José do Vale do Rio Preto e 1 em Bom Jardim.

Segundo o boletim da Polícia Civil divulgado às 11h45 desta sexta-feira (21), 765 corpos já foram identificados: 309, em Teresópolis; 367, em Friburgo; 1, em Bom Jardim; 63, em Petrópolis; 21, em Sumidouro e 4, em São José do Vale do Rio Preto.

Petrópolis e São José do Vale do Rio Preto

Em Petrópolis, a vida começa a voltar ao normal, segundo o coordenador de Ações Emergenciais da prefeitura, Luiz Eduardo Peixoto. Os trabalhos de resgate foram intensificados. Uma equipe de assistentes sociais faz o cadastramento de famílias atingidas pela chuva para que possam integrar os programas sociais. No hospital de campanha, são feitos diariamente cerca de 300 atendimentos.

Em São José do Vale do Rio Preto, começam a ser montadas nesta sexta-feira (21) tendas para abrigar vítimas das chuvas no município. Cerca de 70 barracas devem ser montadas no ginásio municipal, em Águas Claras.

Já a cidade de Bom Jardim permanece isolada por causa de destruição de pontes. A expectativa é que homens do Exército comecem a montar as novas pontes neste fim de semana.

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