Durante a vida, Chico Xavier sempre esteve envolvido em mistérios. Na morte, não foi diferente. Admiradores e seguidores do médium divergem sobre uma senha que ele teria combinado com três pessoas para autenticar mensagens que enviaria do outro lado. A senha só foi passada a três pessoas: seu médico, Eurípedes Tahan, a amiga Kátia Maria e o amigo Eurípedes Humberto Higino dos Reis, que também se apresenta como filho adotivo, embora não reconhecido pela 1ª Vara de Família de Uberaba.
O único ainda vivo detentor da senha é Eurípedes Higino, responsável por cuidar do médium nos últimos anos de vida. Nenhuma mensagem recebeu a confirmação do código secreto. Muitos, porém, desconfiam da história. O médium Carlos Baccelli, autor de quase uma dezena de livros em parceria com Chico, garante já ter se comunicado com o espírito do médium.
— Tivemos vários contatos. Muitos através de sonhos. Sonhos que não podem ser classificados como sonhos. Desdobramentos mesmo. Porque tivemos oportunidade de conversar e também através da psicografia, da escrita. Ele escreveu algumas mensagens por nosso intermédio. Publicamos alguns livros: “Chico Xavier responde”, “O espírito de Chico Xavier” e “Doutrina viva”. São três livros da lavra de Chico Xavier espírito por nosso intermédio — observa Baccelli.
Mas será que essas obras contaram com a apresentação da senha? Baccelli vê com reservas a existência de um código para validar as mensagens póstumas atribuídas a Chico Xavier.
— Jesus Cristo não deixou senha nenhuma. Não acredito que Chico se colocasse numa condição melhor do que Cristo. Pode ser que tenha havido até essa conversa dele, quando encarnado, temendo que quando ele desencarnasse virasse um carnaval em torno disso. Mas senha mesmo nós não admitimos — diz.
Após a morte de Chico, mais mistérios vieram à tona, como a suposta reencarnação de Emmanuel, o mentor de Chico, em uma família do interior de São Paulo. O jovem estaria hoje com pouco mais de 20 anos e manifestaria fortes dons mediúnicos. Na versão divulgada por parentes e amigos, os papéis se inverteriam. Agora, Chico seria o mentor de Emmanuel. Alguns jovens já foram apontados como Emmanuel.
O nome de Chico Xavier também está envolvido na profecia da data limite, um prazo que a humanidade teria para fazer o dever de casa e evitar o seu fim. Segundo Geraldo Lemos Neto, que preside a Casa de Chico Xavier, a data se encerrou em julho de 2019, marcando o início de um período de profundas mudanças, até a nova era, a partir de 2057, com fantásticos avanços tecnológicos e até o encontro com vida inteligente de outros planetas. A teoria ganhou força na internet depois que o Pentágono confirmou a autenticidade de três vídeos de caças americanos perseguindo “fenômenos aéreos não identificados”.
Os dons mediúnicos de Chico já foram alvo de muitas pesquisas acadêmicas. O Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde (Nupes), da Universidade Federal de Juiz de Fora, analisou um conjunto de cartas psicografadas para duas famílias. A intenção era detectar se havia como Chico obter as informações por meios comuns, como em conversas com outras pessoas, pesquisas em documentos e até leituras de jornais.
A pesquisa fazia parte de uma tese de pós-doutorado do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, dos pesquisadores Denise Paraná e Alexandre Caroli Rocha.
— As cartas investigadas possuíam um grande número de informações específicas, muitas vezes mais de 20, e elas eram grandemente precisas, corretas. Informações de nomes das pessoas, circunstâncias da morte, hábitos desses indivíduos. Por exemplo, um pai enlutado que ia escondido diariamente orar e chorar no túmulo do filho, inclusive pensando em suicídio. Essa informação era desconhecida pela esposa e pelos outros filhos. E isso aparece na carta — conta Alexander Moreira-Almeida, diretor do Nupes.
O estudo mostrou que algumas informações até poderiam ter sido passadas por algum parente do morto ou ter sido publicada.
— Chico teria de ter lido nos jornais e guardar . Algumas informações que nem os familiares sabiam.
Outra pesquisa que reforça a curiosidade nos fenômenos mediúnicos está em um mestrado e doutorado em Teoria Literária, na Unicamp. Também de autoria de Alexandre Caroli Rocha, o estudo analisou livros e poemas que o Chico Xavier psicografou atribuindo a escritores e poetas falecidos.
— O pesquisador analisou cinco poetas que alegadamente teriam escrito através do Chico Xavier depois de falecidos. Ele comparou o estilo, a métrica, conteúdo, uma série de questões literárias entre os poemas psicografados pelo Chico e os poemas desses autores enquanto vivo. E foi realmente muito impressionante o grau de similitude, de semelhança estilística e de conteúdo, uma série de detalhes significativos que apenas um especialista em cada um desses autores conhece e que estão reproduzidos nesses poemas — assinala Alexander.
O doutorado, explica Alexander, abrangeu Humberto de Campos, jornalista e escritor, morto em 1934. Pouco depois, Chico Xavier começou a psicografar novos textos que seriam do escritor.
— É muito impressionante o quanto Humberto de Campos pelo Chico reproduz o estilo de personalidade, o estilo de literatura.