O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, classificou como um "lamentável incidente" a morte do músico Evaldo dos Santos Rosa, no Rio de Janeiro, por militares do Exército. O carro em que Evaldo estava com a família foi alvo de mais de 80 tiros. Segundo perícia da Polícia Civil, “tudo indica” que os militares confundiram o carro da família com o de assaltantes.
O ministro participou de uma audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados para apresentar programas e prioridade da pasta.
“Lamentável incidente. Agora, foi um incidente, vamos apurar e cortar na própria carne, como estamos fazendo agora”, disse Azevedo e Silva.
“Foi um acidente lamentável, triste, mas foi um fato isolado no contexto das operações que os militares brasileiros foram envolvidos até agora, e será apurado até as últimas consequências”, completou o ministro.
O ministro ressaltou que as tropas brasileiras em missões de paz pelo mundo são reconhecidas pelo zelo no cumprimento das “regras de engajamento”.
“Eu fui chefe de operações no Haiti. Peguei o contingente no início. Fazíamos um esforço para seguir as regras de engajamento ao máximo para não ter alguma perda civil, particularmente de jovens, crianças, mulheres, e por trezes anos não aconteceu nada. A missão de paz nossa em todos os lugares é muito elogiada exatamente por esse item”, declarou.
"Nós não tivemos nenhum caso de assédio, dano à população local e eu faço também as mesmas coisas no GLO (Garantia da Lei e da Ordem) nosso. Infelizmente no Rio de Janeiro aconteceu”, disse o ministro.
A morte de Evaldo é investigada pelo Exército. Na segunda-feira (8), dez militares foram presos.
As cinco pessoas que estavam no carro iam para um chá de bebê: Evaldo, a esposa, o filho de 7 anos, o sogro de Evaldo (padastro da esposa) e outra mulher. O caso ocorreu no domingo (7), em Guadalupe, na Zona Norte do Rio.
O sogro, Sérgio, foi baleado nos glúteos. A esposa, o filho de 7 anos e a amiga não se feriram. Um pedestre que passava no local também ficou ferido ao tentar ajudar.
Fernando Azevedo e Silva disse ainda que a Justiça Militar é célere e vai tratar o caso com a rapidez necessária.
“Estão sendo investigados e vai se chegar [a um resultado]. Porque não seguiram as regras. 80 tiros não é normal. Mas não posso dizer se foi A, se foi B, se foi C, se não está conclusa a investigação”, afirmou.
"Tem um civil morto. Não estou escondendo isso. Acho que nós fomos muito rápidos e muito precisos em ouvir todos em uma noite. Falei com o presidente isso e o presidente disse: 'Apure o que tem de ser apurado' ", disse Azevedo e Silva.
Milícias e intervenção no Rio
Ao ser questionado sobre as milícias no Rio, o ministro disse que elas surgiram com a intenção de “proteger a comunidade”.
Ele foi confrontado pela deputada Talíria Petrone (PcdoB-RJ), que afirmou se tratarem de grupos que mantêm “domínio armado sobre territórios, com corrupção vinculada à policiar e aos militares”.
“A origem que eu digo são nos meus tempos de tente capitão, há muito tempo. Mas desvirtuou, você tem razão. São bandos armados”, declarou Azevedo e Silva.
O ministro afirmou que as milícias foram mapeadas durante a intervenção federal na segurança pública do Rio e que os dados foram entregues ao setor de segurança pública do estado.
Ainda sobre a intervenção no Rio, o ministro disse considerar a estrutura montada pelo plano estratégico de segurança pública o maior legado da operação.
“Foi uma atenção maior à polícia militar, polícia civil, à secretaria de segurança à época. A polícia do Rio de Janeiro vai ficar com outra estrutura”, afirmou.Evaldo dos Santos Rosa.