Fundado há menos de um ano, o Projeto MetaReciclagem está cheio de vitórias para contar. Desenvolvido através de uma parceria entre o Movimento pela Paz na Periferia (MP3), Secretaria de Assistência Social e Cidadania (SASC) e a Fundação Banco do Brasil, a astuta empreitada social promove um curso de montagem e manutenção de computadores que vai além de beneficiar jovens da periferia que vivem em situação de risco: o projeto também contempla o meio ambiente.
Com uma turma formada e outra em andamento, a Fábrica de Computadores da Periferia atende cerca de 80 alunos e é baseada em uma tríade de ações: a formação profissional de adolescentes da periferia, a inclusão digital destes jovens e a ajuda ao meio ambiente. O projeto é gratuito, atende jovens de todas as regiões, inclusive a zona rural da capital e pessoas de todas as idades podem participar.
?Concebemos este projeto de forma consciente, onde o meio ambiente fosse colocado em primeiro lugar?, declara Leandro Sousa, presidente do MP3. ?A iniciativa trabalha com o reaproveitamento de computadores que já estão em desuso e impede que eles sejam depositados no meio ambiente. As máquinas são devolvidas para a comunidade totalmente funcionais, prontas para uma nova jornada?, declara.
De acordo com o presidente, muitos jovens que saíram do curso já montaram suas próprias oficinas. Eles encontram na fábrica a oportunidade de se integrarem ao mundo digital e ganharem dinheiro com uma atividade construtiva que os tire dos perigos das drogas e criminalidade.
O Movimento pela Paz na Periferia tem uma parceria feliz com a comunidade do São Pedro. A sede do Centro Social Urbano do bairro foi doado para o grupo, que reativou a dignidade do centro e desenvolve trabalhos que beneficiam toda a sociedade de Teresina. Para dar suporte ao programa, o antigo prédio do CSU São Pedro foi totalmente reformado pela SASC, que investiu R$ 300 mil para melhorar toda a estrutura do local. ?Hoje contamos com equipamentos de primeira, instalações de alto nível, seguranças e funcionários qualificados?, comemora o presidente.
?O Projeto MetaReciclagem tem uma importância mister na vida de jovens necessitados porque os coloca em contato com um mercado moderno que está em alta. Não falta emprego para estas posições, os jovens que saem do curso estão prontos para iniciar uma vida de sucesso profissional.
Capacitamos cerca de mil jovens em menos de um ano e possuímos um acervo de 3000 computadores, que serão entregues para a economia solidária?, define o secretário da SASC, Francisco Guedes.
É fácil perceber que a iniciativa muda a vida de quem é tocado pelo projeto. A adolescente Joice da Silva Carvalho teve a vida transformada com o projeto. Com uma vida difícil, a jovem não possuía a menor perspectiva de vida quando entrou no grupo. Após o curso de montagem e manutenção de computadores, hoje ela trabalha na área e pretende seguir carreira na área.
Além das vidas poupadas pela criminalidade, novas oportunidades de trabalho são dadas para estes jovens necessitados. O centro fica localizado em uma área de risco onde gangues ameaçam o bom convívio social. A situação se transformou depois que o MP3 revitalizou o CSU, a ordem foi restabelecida e a comunidade agradece.
Fábrica de Costura muda a vida de mulheres carentes
Montada logo no início das operações do MP3, há 8 anos a Oficina de Costura altera a realidade social de mulheres que até então não tinham a menor perspectiva de trabalho. Deneir Rodrigues aprendeu o ofício da costura através de um grupo de mulheres em sua cidade natal no Maranhão e queria passar adiante, pois via que as mulheres de sua região precisavam de um trabalho para se ocuparem.
?No início eu só tinha uma ideia na cabeça. Quando cheguei ao MP3, falei com os meninos e eles colocaram a ideia para a frente. Batalhamos muito e conseguimos algumas máquinas de costura, graças a nossa parceria com a Fundação Banco do Brasil?, festeja Deneir.
Hoje a fábrica ministra cursos de costura para mulheres que buscam uma qualificação profissional que gere dinheiro com rapidez. A oficina é aberta e está à disposição de quem se interessar, seja homem ou mulher. Os acolhidos do projeto que moram nas regiões mais distantes da cidade recebem vale transporte para se deslocar até o MP3.
Deneir conta que a oficina recebe encomenda de grandes empresas e o ofício muda a vida de todos que entram pela porta. ?Se não fosse por isso eu nem sei onde estaria hoje. Muitas pessoas querem trabalhar, mas não conseguem emprego por falta de estudo. Essas pessoas podem nos procurar que serão muito bem recebidas?, diz.
Iniciativa do MP3 rendeu prêmio nacional
Tudo começou com a vontade de levar o cinema para as comunidades isoladas de Teresina. Com uma televisão de 14 polegadas, alguns DVDs e uma van, o projeto Cine Periferia nasceu para ajudar pessoas carentes a se sentirem mais incluídas em um sistema que não favorece os mais precisados.
?Nosso sonho era tirar o cinema dos grandes centros e levar para os extremos da cidade, uma região onde quase ninguém tem condições de se deslocar até o shopping e muito menos pagar o ingresso. Conseguimos nosso primeiro carro com a ajuda da igreja, mas hoje temos nossa kombi e funcionamos todos os dias da semana?, diz o presidente Leandro Sousa.
Com um projetor e muitas boas intenções, o Cine Periferia exibiu filmes até no sertão piauiense e sua transmissão caiu na vista das pessoas certas. Em fevereiro deste ano o projeto foi eleito uma das três melhores ações sociais no Brasil pelo Prêmio Anu. Criado pela Central Única das Favelas (Cufa), o prêmio consagra ações desenvolvidas em favelas e comunidades carentes de todo o País.
Para Leandro, o reconhecimento nacional foi uma grande felicidade para todos do MP3. ?Nossa tarefa principal é afastar jovens da violência de gangues ou do envolvimento com drogas que vem crescendo na periferia. Estamos fazendo a coisa certa e esse prêmio é a prova disso?, pontua.
MP3: uma história que continua dando certo
Poucos sabem, mas o MP3 surgiu através da união de adeptos da cultura hip hop que desenvolviam algum projeto social em seu bairro. Agindo de forma descentralizada, eles se encontravam de maneira esporádica para bolar estratégias de como poderia mudar para melhorar a vida dos que mais precisavam e realizavam atendimentos simples, como corte de cabelo e aulas de hip hop.
Foi quando receberam da Fundação Banco do Brasil uma ajuda de custo para montar um projeto piloto chamado Estação Digital, uma iniciativa que visava ministrar cursos de informática para adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Graças a estação, conseguiram uma sala no Centro Social Urbano do Bairro São Pedro e timidamente começaram a executar o projeto.
A Estação Digital teve grande procura dos populares e o CSU, até então abandonado, voltou a se encher de vida pela comunidade, que passou a frequentar o centro com frequência. O projeto se saiu tão bem que foi um dos únicos do país a ter o contrato renovado pela fundação.
Hoje uma ação é desdobrada em várias outras e nada passa batido. ?Buscamos potencializar ao máximo nossas atividades e aproveitamos cada oportunidade que nos é dada. O sucesso do projeto nos permitiu fazer uma reforma no local e investimos pesado em melhorias na infraestrutura do prédio. O CSU estava jogado às traças e hoje está um brinco?, diverte-se o presidente Leandro.
Toda a comunidade pode aproveitar a unidade do CSU. A quadra de esportes, antes abandonada, vive em plena atividade social e todos são convidados a participar das atividades desportivas que os próprios moradores desenvolvem. ?Eles criam torneios de rua e se divertem muito por aqui. Nunca tivemos problemas com gangues, pois todos se dão muito bem aqui dentro?.