Mensagens bíblicas tiram cinza de muros na zona Norte de THE

Transformar o cotidiano, mudar a paisagem, tirar o cinza

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Transformar o cotidiano, mudar a paisagem, tirar o cinza. Emplacar uma cor, uma mensagem, um aspecto, um vulto. Uma mensagem de paz, de esperança. Escrita por homens, mas, dizem, confessada por um Deus.

É em muros localizados na Rua Barras com José Marques da Rocha, no Bairro Mocambinho, zona Norte de Teresina, que alguém transcreveu o divino para o cotidiano.

Mas a atitude desta pessoa divide opiniões. É que, enquanto alguns entendem como uma mensagem de paz, outros veem como uma imposição religiosa. Mas afinal, é melhor um muro vazio ou um muro com posições religiosas?

Alguns veem a ação como liberdade de expressão e desejo da maioria. “Isso se chama liberdade de expressão”, enfatiza Haroldo Azevedo. “O Brasil é um país de maioria, se ninguém fala nada, pode. Se o dono [do muro] aceitar também”, reflete Cândido Luiz. Outros acreditam que é melhor chamar a polícia, ou perceber o verdadeiro significado do termo “Estado laico”.

“Acho que a polícia deveria prender esses pichadores, isso é malandragem”, afirma Jeffrey Lima. “De qualquer forma, o fato de o Brasil ser um país laico não invalida a livre manifestação religiosa. Ser laico, pelo contrário, significa multiplicidade religiosa”, explica Lia Portela.

Ressignificar a situação também ajuda a pensar sobre a questão. “É normal, assim como um muro cheio de piadas ou figurinhas de chiclete seria. Afinal, tinha que ser alguém muito fraco das ideias para parar em um muro e, de repente, se converter.

Tem gente que vai achar que é arte, tem gente que vai achar que é religião, depende da interpretação de quem vê”, afirma Izabel Cordeiro.

Frases bíblicas no muro: grafite ou pichação?

Pichação é como chamam o ato de rabiscar em muros, fachadas, ruas e monumentos com tinta, geralmente com aerossol e estêncil. Geralmente, são frases de protesto, insulto, declarações de amor ou que trazem alguma ideia, tal qual as mensagens bíblicas. A pichação tem várias vertentes, que pode ser o charpi - uma assinatura elaborada - ou o picho propriamente.

O grafite, por sua vez, tende a ser mais aceito pela sociedade pelo caráter mais "artístico", mas isso não quer dizer que o picho não pode ser arte e o grafite, não ser ofensivo. A interpretação dada ao signo desenhado no muro, ou à frase, é particular para quem vê.

Arte ou religião?

Como aponta Graça Proença, em seu livro "História da Arte", estamos repletos de objetos à nossa volta com alguma finalidade, e a arte, em sua "inutilidade", provoca transformação social, reflexão e, sim, comunica. Tal como o picho, tal como o grafite, tal como a frase bíblica pintada no muro do Mocambinho.

Como disse a autora, a "inutilidade útil" da arte também é subjetiva por demais para conclusões precipitadas. Se é arte ou não, se é protesto ou não, cabe ao discernimento particular de cada espectador deste muro. "Se o intuito for causar bem-estar, ou um questionamento a quem observa, acredito que seria arte, sim", explica Lia Portela. "Arte é expressão, e o muro expressa", diz Cândido Luiz.

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