Entre as vítimas de abuso sexual do médium João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, estariam crianças e adolescentes. Um dos casos, — ocorrido na Casa de Inácio de Loyola em Abadiânia (GO), onde o médium atendia, — é o de uma jovem, que diz ter sido violentada pelo menos dez vezes quando tinha apenas 11 anos. O relato foi mostrado ontem pelo “Fantástico”.
“Ele pediu para eu colocar a mão para trás e eu senti uma coisa estranha e comecei a chorar e disse: ‘O que é isso?’. Ele falou: ‘É o que vai te curar’. Aí, ele veio na minha frente e fez o que fez comigo. Tudo o que você pode imaginar”, disse a mulher hoje com 41 anos. A ameaça, segundo ela, era tanto física quanto psicológica. “Fica de costas, fecha os olhos e não abra em hipótese alguma. Se você abrir, vai ficar cega, porque a luz é muito forte”.
“Eu falava o tempo todo: ‘Quero a minha mãe. Tá doendo’. E ele mandava eu ficar quieta: ‘Fica quieta, senão eu mato a sua família’”, lembra ela, chorando.
Ao todo, 25 vítimas procuraram o “Fantástico” para relatar abusos sofridos. Segundo elas, os crimes ocorriam desde a década de 1980. Uma delas revela ter sido vítima de João de Deus, quando tinha 15 anos. Os pais foram pedir ajuda para o médium porque a menina estava depressiva e não saia da cama. Na primeira consulta, ele teria pedido para ficar sozinho com a adolescente. “Ele mesmo pegava a mão dele e fazia eu manipular o seu pênis. De repente, pegou na minha cabeça e a abaixou para que eu fizesse sexo oral nele”.
Outro caso ocorreu em 2012, segundo relato do pai da jovem ao EXTRA. A adolescente tinha 17 anos na época. A família, que mora no Rio Grande do Sul, frequentava também uma filial da Casa no estado, localizada em Três Coroas, que deixou de receber visitas do médium após diversos relatos de abuso sexual chegarem ao conhecimento dos frequentadores do local já naquele ano.
As primeiras denúncias de abuso contra o médium foram reveladas na edição de sábado do EXTRA e no programa “Conversa com Bial”, da TV Globo, na noite de sexta-feira.
MP vai investigar novos casos
O Ministério Público de Goiás confirmou, ontem, que João de Deus já vinha sendo investigado pelo órgão desde o primeiro semestre de 2018. Nessa época, a procuradoria de Abadiânia começou a receber as primeiras denúncias. Há pelo menos dois procedimentos abertos contra ele no órgão. Em 2012, o médium foi denunciado pelo MP por abuso sexual, mas, por falta de provas, a Justiça o considerou inocente.
A partir dos casos relatados pela imprensa, uma nova frente de investigações será aberta. O MP convocou uma coletiva para a manhã de hoje para explicar como será feito esse trabalho.
Procurada pelo EXTRA, a assessoria de João de Deus não atendeu às ligações. Ao “Fantástico”, o advogado do médium, Alberto Toron, afirmou que vai às autoridades de Abadiânia para dizer que seu cliente está à disposição da polícia, do juiz e do Ministério Público para ser ouvido em qualquer momento. “Achamos que tudo isso deve ser objeto de uma investigação marcada pela seriedade”.