Criadas pelo professor Utônio, que acrescentou a mistura de açúcar, tempero e tudo o que há de bom, por descuido, o elemento X, Lindinha, Florzinha e Docinho voltaram a combater o crime na última semana.
Após uma década fora do ar, as Meninas Superpoderosas, sucesso no fim da década de 1990 e início dos anos 2000, têm uma nova temporada de 40 episódios. Se na primeira versão elas já tinham um discurso até certo ponto avançado sobre igualdade de gênero, agora o feminismo é o foco.
Um pouco mais velhas e ainda mais poderosas, elas estão mais modernas também. Atendem aos chamados num smartphone e aventuram-se como youtubers. Segundo os produtores, as meninas estarão ainda mais atentas e lutarão não somente contra o crime, mas, também, contra o machismo. No vídeo de divulgação dos novos episódios, Docinho derrota um lenhador que quer devolver as “raízes de macho” da cidade e solta um infame “Por que você não vai brincar com suas bonecas, princesa?”.
Pequenas mudanças nos traços dos desenhos, como detalhes nos elásticos de cabelo de Lindinha e no penteado de Docinho aparecem, mas a essência de quebrar estereótipos de gênero de forma implícita está mantida e de forma mais acentuada.
Desde a criação, o desenho já trouxe discussões de gênero. Quem faz as tarefas domésticas é o “pai”. Quem combate o mal são as três meninas. Essas foram duas das mudanças nos tradicionais papeis dos desenhos animados. Em meio a vilões como o “Ele”, de identidade de gênero fluida e personificador de todo mal, e Sedusa, uma mulher delicada que se transforma em lutadora implacável e feroz, o trio de irmãs com nomes no diminutivo rompe os estereótipos do que é “coisa de menininha”.
Por vezes, as personagens usam roupas do sexo oposto sem problemas. Além disso, a figura paterna do professor Utônio é plural: carinhoso e dedicado, o pai de Docinho, Florzinha e Lindinha brinca com as filhas e até já apareceu vestido de mulher em temporadas anteriores.
As novidades são o foco no desenvolvimento das personagens, na relação entre as irmãs – da qual fazem parte discussões como Florzinha reclamar do temperamento de Docinho – e nos conflitos típicos de garotas jovens.
Coisa de menino, coisa de menina
A volta da animação trouxe discussões sobre o perfil dos atuais desenhos animados. A famosa Peppa Pig foi chamada de feminista por políticos conservadores. Na Austrália, a porquinha – que é idolatrada por grande parte das crianças do mundo – virou assunto de discussões políticas e chegou a ser censurada por um tempo por ser muito feminista. Tudo porque as questões de gênero e de constituição familiar são mais flexíveis do que em outros programas infantis. Em um dos episódios, a Mamãe Pig trabalha no computador enquanto Papai Pig faz o jantar. Já George Pig, o irmão mais novo da Peppa, adora brincar com a irmã. Inclusive, a brincadeira favorita dos irmãos é de casinha e de tomar chá. Segundo entrevista de Neville Astley, um dos produtores da animação, à impressa americana, a ideia é reforçar que não existe brincadeira de menino e de menina.
Segundo Nick Jennings e Bob Boyle, produtores das Meninas Superpoderosas, a paridade de gênero faz parte também dos bastidores. Em entrevista à revista Wired, eles afirmaram que as mulheres são mais da metade da equipe por trás do desenho animado. Para eles, equilibrar os bastidores é uma forma de refletir a realidade fora deles, e também o público telespectador. A julgar pela recepção, a volta de Florzinha, Docinho e Lindinha tem tudo para captar o imaginário de uma nova geração e ensiná-la a lutar como uma garota.