Praça 16 de Agosto, mais conhecida pelos teresinenses como Praça do Prefeito, no bairro São Cristovão, na zona Leste de Teresina, funciona como um excelente espaço de lazer para a população do entorno. Após recente reforma, os vizinhos costumam usar o local para fazer caminhadas durante o fim de tarde. Porém, um grupo de moradores de rua passou a ocupar os bancos da praça, e estão morando lá já há algum tempo.
O senhor João Orlando da Silva, alcoólatra, com seu inseparável “celular” de cachaça, está há dois anos nesta situação. “Não tenho família nenhuma, e nem para onde ir. Por isso que a gente fica aqui. De vez em quando aparece um e dá uma comidinha pra gente, mas a gente vive aqui desse jeito mesmo”, diz.
Já o casal composto por Lourdes Maria Pereira e Gean Pereira da Silva, ambos toxicômanos em razão do crack, vivem como nômades. Antes eles estavam abrigados em outra praça, mas após algumas desavenças resolveram se mudar, e hoje fazem companhia a João Orlando. “Eu não tenho lugar para ficar, e a prefeitura quer tirar a gente pra levar pra abrigo, e não queremos ficar presos”, diz Lourdes.
Para tomar banho e fazer necessidades, eles passam por muita dificuldade. “Quando chove a gente fica embaixo de uma tenda que tem ali na frente, e pra ir tomar banho a gente caça uma torneira que tem ali perto de um hotel”, afirma a mulher. “Mas ninguém aqui mexe com ninguém e nem com as coisas de ninguém”, garante Gean.
Mas dos dias de terror em que vivem, os sonhos deles não são dos mais impossíveis: eles só querem viver com dignidade. “Ia ser bom demais ter uma casa e eu ter um emprego para morar com ele [apontando para Gean]. Se a gente conseguisse, a gente levava até o seu João com a gente, nem que fosse pra vigiar a casa”, diz Lourdes.
Questionados sobre o medo de viverem na rua em uma região em que é um verdadeiro marasmo durante a noite, por ser uma área bastante residencial, eles dizem que nunca foram agredidos, mas que já receberam ameaças. “Vem um pessoal de moto que passa fazendo barulho alto, acho que para acordar a gente. Mas graças a Deus nunca mexeram com a gente não”, relata Gean.
Centro Pop diz que Lourdes, Gean e João preferem morar na rua
Procurada pela reportagem, Joyce Nogueira, gerente do Centro Pop, garante que Lourdes, Gean e João estão sendo acompanhados por uma equipe de agentes. “Temos conhecimento dessas pessoas, tanto que elas estão sendo acompanhadas. O Centro dispõe de agentes de proteção social, e eles estão sempre na rua identificando pessoas em situação de vulnerabilidade social”, esclarece.
Porém, segundo Joyce, eles se recusam a passar a noite no espaço oferecido pelo Centro Pop. “Essas pessoas já foram encaminhadas por nós, inclusive para tratar questões de saúde. Também oferecemos a pernoite no albergue da cidade, na Casa do Caminho, mas eles não aceitaram. Preferem ficar na rua”, declara a gerente.
Moradores das casas do entorno vivem temerosos
Segundo a aposentada M.S.T, residente de uma casa próxima à Praça 16 de Agosto, a situação deixa um clima de insegurança entre os moradores. “A gente não os conhece, não sabemos quem são e sabemos que não podemos confiar. Mas eles nunca mexeram com ninguém, e eu e o pessoal sempre oferecemos comida para eles”, diz.
O também aposentado M.G.L. concorda com M.S.T.. “Aqui tem muitos assaltos, mas pelo que sabemos não foram os moradores de rua que cometeram, são outros bandidos que a polícia deveria estar em cima. Esse pessoal já mora aí faz tanto tempo que não nos incomoda, além, é claro, de ser uma cena bem triste”, finaliza.