Acostumado com o ambiente estressante de emerg?ncia hospitalar, o m?dico cirurgi?o Davi Celso Rodrigues, 41 anos, chegou a conclus?o de que poderia fazer mais por seus pacientes. Quando assumiu a diretoria do HRGU (Hospital Regional do Guar?), decidiu que n?o iria fazer apenas o trabalho administrativo. Ap?s o pedido de licen?a de dois m?dicos, ele acumulou o trabalho administrativo com o of?cio para o qual se formou. Atendendo aos pacientes na Ala de Observa??o da Emerg?ncia, teve uma inquietude dos tempos de estudante.
? Quando eu ainda estava na faculdade resolvi chamar alguns colegas da medicina e da psicologia para fazer um projeto social. A ideia era se vestir de palha?o e passar pelas alas do hospital tentando levar um pouco de alegria aos pacientes. Mas n?o tive coragem de tocar o projeto adiante. Fiquei com vergonha e engavetei a ideia.
Os anos se passaram e as obriga?es aumentaram. A rotina corrida do m?dico o absorveu, mas n?o eliminou a vontade de transformar o ambiente de trabalho em um lugar mais agrad?vel. No dia que sentou na cadeira do consult?rio para atender os pacientes no Guar?, a ess?ncia do ?m?dico palha?o? veio ? tona.
? Eu olhei para o teto e pensei que talvez pudesse instalar caixas de som na ala. Fui numa loja, comprei al?m das caixas, um amplificador, um aparelho de DVD e um microfone. Dal? em diante esta ala n?o foi mais a mesma. E n?o foi mesmo. Rodrigues colocou uma m?sica para tocar e a chamar os pacientes pelo nome no microfone. Era o que ele precisava para explorar o lado extrovertido da sua personalidade e levar mais do que rem?dios aos pacientes.
Enquanto conversava com a reportagem, a m?sica de Djavan acabou e ele pediu licen?a para trocar de can??o. E deu uma demonstra??o pr?tica do que faz todos os dias no Hospital do Guar?. Com o microfone ele anunciou, ?esta m?sica vai para o Felipe, torcedor do Internacional?.
O paciente, acamado por causa de uma pneumonia, gritou do outro lado da sala, ?valeu doutor?. E Rodrigues n?o oferece s? m?sicas. Ele brinca com os colegas, pede para o acompanhante beijar o paciente e at? pede dan?a no meio da sala onde normalmente se ouve gemidos de dor.
? Foi a forma que eu encontrei para melhorar a nossa rotina e a experi?ncia do paciente dentro do hospital. E certamente o maior beneficiado sou eu. N?o h? nada que pague ser abordado na rua e ser reconhecido como o m?dico do microfone, aquele que canta no hospital.
Por causa de um gesto simples, Davi Rodrigues foi o servidor mais elogiado na ouvidoria da Secretaria de Sa?de do DF. O t?tulo lhe rendeu o Pr?mio Reconhece SES 2013 e a certeza de que estava fazendo a coisa certa. Felipe Urio Fonseca, o torcedor do Internacional, tamb?m tem certeza disso.
? Eu nunca havia me internado em um hospital p?blico. Quando o dia amanhece e o doutor Davi chega, tudo muda por aqui. O clima fica mais tranquilo, os funcion?rios atendem com mais calma e a m?sica ajuda muito a gente a n?o ficar pensando s? na doen?a. Se todos fossem assim, os hospitais p?blicos seriam bem melhores.
A t?cnica de enfermagem Neusilene Souza trabalha h? nove anos no Hospital do Guar?. J? passou por v?rias gest?es, mas faz quest?o de dizer que hoje a m?sica ? uma aliada no tratamento dos pacientes.
? A gente chega aqui e encontra um ambiente estressante. Muitos pacientes, muitos atendimentos e muita gente sofrendo. A ideia do doutor Davi s? ajudou a gente, porque quando a gente vai atender o paciente ele j? est? mais tranquilo e passa menos tempo internado. O bom humor ajuda, responde sorrindo.
Agora, doutor Davi quer expandir o projeto. Ele pretende instalar aparelhos de TV na Ala de Observa??o da Emerg?ncia, mas n?o para deixar nos canais comuns. Ele quer montar um DVD com show de humoristas e filmes de com?dia sem apelo sexual. Para isso pede ajuda.
? A gente quer transformar a estada do paciente aqui dentro em algo que traga menos sofrimento. Por isso quero instalar as TVs aqui dentro. Se algu?m puder ajudar pode enviar mensagem para o meu e-mail (davisouzacruz@bol.com.br).