Médica suspeita de eutanásia avisava famílias sobre estado de paciente

Recados sobre suposto quadro de saúde irreversível eram dados antes de desligar os aparelhos

Defesa de Virgínia diz que não há provas que liguem a médica às mortes | Reprodução/Rede Record
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Conversas telefônicas da médica Virgínia Helena Soares de Souza com funcionários, gravadas pela polícia, com autorização da Justiça, mostram a chefe da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) falando sobre o desligamento de aparelhos que mantinham pacientes vivos. Ela está presa desde o dia 19 deste mês por suspeita de antecipar a morte de pessoas internadas no setor que ela coordenava, no Hospital Evangélico de Curitiba.

Em um dos trechos que o Jornal da Record teve acesso com exclusividade, Virgínia orienta uma funcionária. ?O próximo que vamos desligar é o Ivo?, diz a médica. A funcionária pergunta, ?só esperar a família??. A médica conclui, ?a mulher dele é de muito longe, mas pelo visto eles já sabem?.

Em outra gravação, Virgínia orienta a funcionária a chamar a família e dizer que o paciente não vai sobreviver. Ela acrescenta uma observação. ?Infelizmente, é a nossa missão. Intermediá-los do trampolim do além?, diz.

Médica presa por suspeita de eutanásia escreveu livro sobre bom funcionamento do ambiente hospitalar

A chefe da UTI aguarda o julgamento de um pedido de habeas corpus, que o advogado dela apresentou na quarta-feira (27), no Tribunal de Justiça do Paraná. O CRM-PR (Conselho Regional de Medicina do Paraná) também investiga o caso.

Entenda o caso

A chefe da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba (PR) foi presa no dia 19 de fevereiro por policiais do Núcleo de Repressão aos Crimes Contra a Saúde. Virgínia Helena Soares de Souza, de 56 anos, é suspeita de ter praticado eutanásia ? antecipar a morte de pacientes internados na unidade.

As investigações começaram há um ano, após denúncias de funcionários do próprio hospital, que é considerado um dos mais importantes da cidade. Ela foi indiciada por homicídio qualificado, por não haver chance de defesa das vítimas.

Virgínia chefiava, desde 2006, a UTI geral do Hospital Universitário Evangélico de Curitiba. O setor fica no quarto andar do prédio, local onde a vigilância sanitária encontrou, em 2012, cinzeiros com cinzas e também bitucas de cigarro.

Em nota divulgada no dia da prisão, o Hospital Universitário Evangélico disse que abriu sindicância interna para apurar os fatos, que reconhece a competência profissional de Virgínia e que ?desconhece qualquer ato técnico dela que tenha ferido a ética médica?. Toda a equipe do setor foi trocada.

Também por meio de nota, a médica se disse vítima de ex-funcionários. O filho dela, Leonardo Marcelino, e o advogado, Elias Mattar Assad, disseram que tudo ?é um grande erro da polícia? e que as denúncias ?são baseadas em depoimentos e não em provas?.

Apesar de estar na UTI do hospital desde 1998 e chefiar o setor há sete anos, Virgínia não era especialista na área. Segundo a polícia, quem assinava por ela como chefe da unidade era outro médico. Ela assumiu o cargo, que era do marido, depois que ele morreu.

No dia 23 de fevereiro, a Justiça expediu quatro mandados de prisão para três médicos e uma enfermeira. Os anestesistas Edson Anselmo da Silva Júnior, Maria Israela Boccato e Anderson de Freitas foram levados à delegacia no mesmo dia. A enfermeira Laís Grossi se apresentou no dia 25 do mesmo mês.

Os médicos presos negam qualquer conduta antiética e foram orientados pelo advogado de Virgínia a ficarem calados. Foi iniciada uma investigação dentro do hospital, inclusive com membros do Ministério da Saúde, para constatar eventuais irregularidades praticadas pela médica ou por outros profissionais.

Nove dias após ser presa, Virgínia Helena foi transferida do Centro de Triagem para o presídio feminino de Piraquara, cidade na região metropolitana de Curitiba. Junto com ela, foi a médica Maria Israela Boccato, também suspeita de envolvimento nas mortes.

Assista ao vídeo:

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