Voz de perplexidade e sentimento de revolta ainda tomam conta do mecânico que ficou 16 dias preso por engano no lugar de um traficante morto há seis anos e que era considerado foragido da Justiça.
“Foi um pesadelo na minha vida”, disse ao Metrópoles André Bernardo Rufino Pereira, de 31 anos, nesta quarta-feira (16/2), um dia depois de sair da prisão em Goiás.
O mecânico foi solto horas depois de o Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão (TJMA) revogar o mandado de prisão contra ele. André Bernardo contou que foi preso, no trabalho, no dia 31 de janeiro deste ano, no bairro Jardim Presidente, a 8 km do setor Jardim Europa, onde mora com a esposa e a filha, na região sudoeste de Goiânia.
“Eu estava trabalhando. Os policiais militares chegaram ao meu serviço, pediram meus documentos e me deram voz de prisão por decisão da Justiça de São Luís do Maranhão. Fiquei paralisado. Achei que era brincadeira e liguei para meu patrão e minha esposa para avisar e pedir para correr atrás do advogado para me tirar daquela situação”, lembrou ele.
Traficante morto
O mecânico nasceu em Açailândia (MA), mas mudou-se para Goiânia em busca de trabalho. Na capital do estado, conheceu sua esposa, a cozinheira Lúcia Aparecida Leite Alves, de 36, com quem vive há 10 anos e tem uma filha, de 3.
Com auxílio do advogado Humberto Vasconcelos Faustino, a família descobriu que o mecânico havia sido preso no lugar de Rômulo Sobral da Costa, que usou o nome de André Bernardo durante um bom tempo e foi morto a tiros no dia 28 de janeiro de 2016, em Goiás. O trabalhador já teve documentos roubados antes, mas, mesmo assim, ele continuou na prisão.
“Filme de terror”
O mecânico relatou como viveu o pior “filme de terror” de sua vida desde a sua prisão, já que disse nunca ter praticado qualquer crime. A Polícia Civil de Goiás informou que não há registro criminal contra André Bernardo. “Me senti humilhado demais. Fui preso dentro da empresa, na frente de colegas de trabalho, isso foi muito frustrante”, afirmou.
“Fui algemado dentro da empresa, com as mãos para trás, e [os policiais] me colocaram no porta-malas do carro de polícia. O tempo todo eu perguntava para Deus porque aquilo estava acontecendo comigo porque tinha certeza de que não era eu. Chorei várias vezes, dentro da viatura e no presídio”, afirmou o mecânico.
André Bernardo contou, ainda, que ficou com outros 18 presos em uma cela apertada, com proporção de 10 metros de comprimento e 5, de largura. “Quando cheguei [ao presídio], rasparam minha cabeça e me levaram para a cela”, disse o mecânico, ao lembrar com detalhes as cenas que ele não queria ter na memória.
“Quando a gente entra na cela, eles [os presos] perguntam o que a gente fez. Eu expliquei tudo certo, e eles disseram que não era para estar lá porque era um erro grande da Justiça. Eu já estava querendo dar depressão, sem saber quando iria sair”, relatou ele.