Uma das vítimas das enchentes em Itaóca, no interior de São Paulo, sabia que poderia não voltar a ver a família. Isso é o que diz o marido dela, Verci Adão Szwarc, que ouviu uma triste despedida da esposa enquanto ela era levada pela enxurrada: "Se cuida, meu amor".
As chuvas que atingiram a pequena cidade localizada no Alto Ribeira deixaram, segundo a Defesa Civil, pelo menos 13 mortos. Outras 13 pessoas permanecem desaparecidas. A tempestade do último domingo (12) também afetou algumas cidades vizinhas, como Apiaí. Em Itaóca, ainda há 332 pessoas desalojadas e 20 desabrigadas.
Szwarc conta que, quando a água do rio começou a subir, em uma "velocidade assustadora", ele e a esposa tentavam tirar o carro da rua. Em questão de segundos, a zeladora Ziza Maria Dantas Martins, de 44 anos, desapareceu. "A viagem para Itaóca era um dos desejos dela. Aproveitamos para organizar tudo e conseguimos sair de férias juntos. Então nós passeamos por Campo Mourão, Cianorte, Irati e, para completar o passeio, descemos até o sítio do pai dela. Muitos parentes foram para lá. Infelizmente aconteceu essa fatalidade", lamenta.
Ziza, que é natural de Itaóca, morava em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, com o marido. O casal está junto há 14 anos. Emocionado, Verci conta como a esposa desapareceu. ?Na hora em que a chuva apertou, ela tinha pedido para tirar o carro, pois estava perigoso ficar ali no sítio. Mas alguma coisa estava atrapalhando e ela não conseguiu chegar no carro. Pedi para que todo mundo saísse da casa, mas antes disso, a enxurrada veio muito forte. No meio dessa confusão, eu fui parar no meio da rua. Achei que seria levado pela correnteza, pois a chuva foi arrastando as árvores e tudo. Não consegui sair e as árvores foram me levando, mas bati em uma cerca de arame e voltei, nem eu sei como. Daí, eu tentei voltar para salvá-la. Uma caminhonete que estava passando também tentou ajudar, mas não foi possível. Antes de sumir, levada pela água, só lembro de ela gritar: ?se cuida, amor??, relata.
Hospedado na casa de parentes de sua mulher, em Apiaí, cidade vizinha a Itaóca, o armador de serragem está muito abalado com a situação. Sem uma notícia definitiva sobre o que aconteceu com ela, Verci Szwarc não tem mais esperanças de encontrá-la com vida. ?A dor é muito grande por não saber onde ela está. Mas Deus vai ajudar para que a encontrem e possamos dar um enterro digno para ela. Eu a amava muito. Quero que ela seja enterrada na cidade onde passamos grandes momentos, construímos as nossas vidas e fomos felizes. Ela merece todas as homenagens pela mulher que era e pela esposa maravilhosa que foi para mim, durante todos esses anos?, destaca.
Ziza Martins era mãe de dois filhos, Diego e Thais, de um relacionamento anterior. A filha esteve em Apiaí, mas não pôde esperar o fim dos trabalhos de buscas dos bombeiros porque precisou voltar para Curitiba, onde mora com o marido.
Destruição
A cidade de Itaóca, que possui 3.332 habitantes, ficou parcialmente destruída por causa do temporal. Várias pontes e ligações viárias foram danificadas por causa das cheias. Segundo a Defesa Civil, o Rio Palmital subiu mais de cinco metros e causou a inundação de mais de 100 casas. Além disso, o município ficou durante várias horas sem fornecimento de energia elétrica e água. A luz voltou ao município no início da tarde de segunda-feira.
Prefeito lamenta situação
O prefeito Rafael Camargo conversou na segunda-feira (13) e afirmou estar em "estado de choque" com a situação da cidade. "Eu nunca vi isso nem em filme. A situação chega a ser desesperadora. Fico imaginando as consequências que a população está enfrentando. A maioria da cidade está em choque. Perdemos muitos amigos que convivíamos no dia a dia", disse.