Mais de 11 mil empresas foram abertas em 2016 no Piauí

Os dados são da Junta Comercial do Piauí

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A crise política do país afetou as expectativas do cenário econômico brasileiro. As incertezas que as constantes mudanças políticas ocasionaram provocaram uma retração do mercado, e a redução da demanda ocasionou o fechamento de empresas também em todo o Brasil. Entretanto, de acordo com dados da Junta Comercial do Piauí (Jucepi), a média de empresas encerradas, no Estado, no ano de 2016, proporcional mês a mês, é inferior ao saldo de 2015, e o saldo de aberturas também foi melhor para este ano até o momento.

Durante todo o ano passado, 16.359 empresas foram registradas e 1.194 fecharam suas portas. Já em 2016, o primeiro semestre contabilizou 11.026 aberturas de empresas e até o final do mês de outubro foram fechadas 927.

A presidente da Jucepi, Alzenir Porto, enxerga os dados de 2016 com bons olhos. “Veja que o número de fechamentos foi proporcionalmente menor em relação ao anterior. Além disso, houve uma série de mudanças na forma como as empresas encerram suas atividades, desburocratizando o processo. Antes ela só podia ser encerrada mediante o pagamento total de todas as suas contas. Hoje os débitos do CNPJ podem ser passados para o CPF e o fechamento acontece.

Alzenir credita parte dos fechamentos à incerteza política e econômica do país. “As pessoas ficam com medo de investir ao verem outros que já estão no mercado fechando suas portas. É um ciclo vicioso. Eu sempre me preocupo, a gente tem que ser otimista sempre. Você vai subindo uma ladeira de bicicleta empolgada, de repente alguém à sua frente desce e vai empurrando a própria bicicleta – isso desestimula quem segue atrás, acaba contaminando. Se ele não conseguiu, como eu vou conseguir? Tem é que motivar”, alerta Porto. “A gente sabe que 2016 não foi um dos melhores para as empresas, mas temos que nos esforçar para elas continuarem crescendo. Como cidadã e empresária, cada empresa que fecha a porta me entristece porque são empregos a menos”, ela declara.

O economista, professor e comentarista de economia Fernando Galvão explica a retração da economia do país. “O Brasil expandiu a renda, o consumo, tornando a demanda maior que a oferta, o que causa uma pressão no aumento dos preços dos setores. Então se compram carros mais caros, casas mais caras. No momento de bonança, as pessoas estão mais dispostas a pagar mais, essa é a hora do vendedor. O problema é que as pessoas deveriam ser mais cautelosas no momento de fartura, fazendo poupança para aproveitar os momentos de queda, pois a economia é cíclica”, disse.

Como contraponto, ele esclarece que os momentos de crise deveriam ser o momento do comprador, uma vez que há pressão pela queda dos preços. “O detalhe é que nem todo mundo se prepara nos momentos de bonança para os momentos de crise, e acaba faltando caixa. Quem pagava R$ 2 mil de aluguel quer reajustar para pagar menos, o que causa uma queda financeira e muitas empresas chegam a decretar falência. É uma falta de planejamento”, ele alerta.

Crise política pode prejudicar ainda mais a economia

Na economia existem os fatores do risco e da incerteza. O primeiro caso é passível de cálculos probabilísticos, enquanto o segundo dificulta a orientação. “É como uma estrada cheia de neblina, em que a gente não consegue enxergar muito à frente e acaba tendo mais cuidado, andando bem devagar por não conseguir prever o que pode encontrar. É o caso da crise política pela qual passamos, que não aumenta o risco, mas a incerteza, o que pode prolongar um momento de crise econômica. Acredita-se que nossa economia deve voltar a uma fase boa a partir de 2021, mas com as medidas que estão sendo tomadas, que podem comprometer ainda mais a capacidade de crescimento de receitas para o governo, esse período pode se prolongar ainda mais”, alerta o economista.

“Temos constantes 'bombas' envolvendo os governos, o que compromete ainda mais o horizonte. Isso causa uma expectativa negativa, e a economia funciona baseada em expectativas. Se elas são boas, há mais vendas e investimentos. Mas quando o ciclo é de baixa, a incerteza contamina, reduzindo tudo, inclusive a manutenção do trabalho, com o receio de demissões. Isso faz com que a economia funcione em marcha lenta”, ele pontua.

Galvão explica que o que falta são lideranças que possam alimentar expectativas positivas. “Os partidos estão em crise, todo o sistema político está, e as expectativas não são boas. O novo governo vai por caminhos que não aumentam a estabilidade nem dão credibilidade. Como será feita a reforma trabalhista? Qual será o caminho dado à previdência? As medidas propõem garantias de controlar os gastos públicos por vinte anos, mas gera incertezas em relação às receitas, pois controla gastos, mas não mostra como a economia pode crescer”, ele critica.

Setor imobiliário também sofre queda

O proprietário de imobiliária, Pedro Nogueira, conta que a demanda por salas comerciais em 2016 sofreu uma queda, mas no final do ano conseguiu se estabilizar. Durante todo o ano, ele teve redução de 10% de salas ocupadas em relação a 2015. “A crise política que refletiu na economia não deixaria de afetar Teresina também. Além da diminuição da procura por salas comerciais, genericamente o valor do aluguel também caiu, porque as pessoas não estavam mais dispostas a pagar o mesmo preço que se pagava antes. Nessas condições, não adianta muito lançar mão de estratégias publicitárias, temos que esperar a economia voltar a crescer”, ele aponta.

Já Cristina Verçosa, gerente-geral de imobiliária, conta que não teve dificuldades com locações em 2016, mesmo com a redução de 30% nas salas comerciais. “Nós não deixamos de alugar muito, mas algumas pessoas que têm algum dinheiro para investir em negócios acaba ficando com receio de abrir um negócio, diante da crise. Não deixamos de alugar, o que tivemos foi uma entrega maior de salas que já estavam alugadas. As pessoas estão cautelosas. Algumas que poderiam abrir um negócio bem maior têm optado por abrir algo mais simples, de menor custo, remodelando seus projetos para ampliar somente quando tiver algo mais seguro, com receio de a receita não ser tão boa”, ela conta.

O contador Alexandre Barbosa é um dos empreendedores que encerraram suas atividades este ano. Há dois anos com uma loja de presentes geek em Teresina, o empreendimento migrou para o shopping, mas sofreu encolhimento de receitas com a crise econômica. “Fazendo uma projeção, a sociedade viu que as contas não abaixavam e íamos acabar quebrando”, ele conta.

Ele decidiu, então, sair da sociedade e passou a trabalhar com prestação de serviços em sua área de formação. “Eu pensei em retornar ao empreendedorismo quando a economia estabilizasse, mas o fluxo natural das coisas me levou para fora do ramo do comércio, e o retorno ficou cada vez mais difícil. Hoje eu não tenho mais interesse em voltar”, Barbosa declara.

Repórter: Mayara Valença

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