Entender uma cidade e a forma como ela se relaciona através do seu dinamismo permeia as relações históricas, sociais e culturais de um povo. Os traços arquitetônicos de uma cidade revelam muito mais do que apenas forma e beleza, mas também contribui para a preservação do patrimônio e da memória de um povo.
Teresina completa 160 anos e vive um momento que pede um pouco mais de reflexão em relação aos seus marcos históricos e a preservação de seus prédios, que contam através de suas paredes, praças, ruas e fachadas a história de amor e conflito entre preservação e modernidade.
Teresina já nasceu planejada, em 1852, segundo o Plano Saraiva, que estruturava o tecido urbano a partir de uma estrutura viária, da localização de edificações, seus padrões construtivos e foi incorporado às leis urbanísticas, com posteriores códigos de posturas, onde se incluíam normas para a arborização e os logradouros públicos.
A cidade verde, como é chamada, não parou mais de crescer. Em momentos mais acelerados, outros menos, mas sempre de forma contínua e dinâmica. O fruto desse desenvolvimento pode ser visto e mensurado através das linhas arquitetônicas e das suas construções ao longo dessas décadas, desde a sua fundação até os dias atuais. Lugares como o centro comercial, o mercado velho, o cais do Rio Parnaíba, o passeio da Avenida Frei Serafim e tantos outros pontos da capital, fazem parte do imaginário coletivo das pessoas e são componentes importantes da nossa identidade cultural.
Teresina sempre foi uma cidade em transformação. Prova disso é o conjunto arquitetônico da capital, no qual o passado e o presente convivem de forma nem sempre harmoniosas. Os contrastes e também traços da memória arquitetônica de Ribeirão ainda impressos em prédios antigos.
Atualmente, muitos dos prédios que ainda resistem ao tempo e à especulação imobiliária no Centro são de um período glorioso, situado entre metade do século 19 e do 20, auge da eferverscência em torno da nova capital, que foi transferida de Oeiras para Teresina. ?A Frei Serafim até hoje preserva a estrutura de seus grandes casarões e foi construída com influência nos bulevares franceses. Abrigou por um bom tempo as famílias da alta sociedade piauiense, mas com a expansão e crescimento da cidade para a zona Leste deixamos de olhar para o centro?, analisa o arquiteto Sanderlan Ribeiro, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Piauí (CAU-PI).
Sanderlan, Ribeiro analisou as mudanças nas fachadas dos imóveis do centro provocadas pelo crescimento urbano e pela falta de uma fiscalização mais efetiva. Entre uma análise histórica e outra, o arquiteto identifica os estilos arquitetônicos característicos de cada período histórico da cidade e faz observações pouco favoráveis ao rumo que a cidade vem tomando.
?Sinto falta de um interesse maior do poder público em estimular os teresinenses a compreenderem o valor desse patrimônio histórico, que, às vezes, por nos depararmos com ele todos os dias do nosso cotidiano, não conseguimos mais vivenciá-los junto com as características mais intrínsecas da cidade?, pontua, defendendo que ocorram em Teresina iniciativas que já existem em outras cidades do país e do mundo.
Curiosamente, Sanderlan observa que Teresina tem uma decoração marcante, com prédios importantes que fazem parte da nossa identidade coletiva e dos nossos marcos históricos. Sendo que vários períodos de desenvolvimento da cidade podem ser identificados através das linhas arquitetônicas das suas construções. ?Deveria haver uma orientação técnica por parte da Prefeitura, mas a sociedade também tem que se apoderar das suas referências, cuidando e preservando esses espaços que são tão peculiares para todos nós e o Conselho de Arquitetura e Urbanismo já está trabalhando para pontuarmos essas questões?, argumenta.