A liberação da Mercedes McLaren de Thor Batista, horas após o atropelamento que matou o ajudante de caminhão Wanderson Santos, de 30 anos, no sábado passado (17), divide a opinião de especialistas. Peritos ouvidos pelo R7 para avaliar a decisão da Polícia Civil do Rio não concordaram com a medida.
Horas depois do acidente, o advogado da família levou o carro, com a promessa de manter as condições em que o veículo ficou após o atropelamento. Segundo os agentes da Delegacia de Xerém (61ª DP), como não havia medida administrativa para apreender o veículo e não houve recomendação por parte da perícia para que isso fosse feito, o Mercedes foi liberado após perícia.
Segundo Sérgio Leite, ex-perito do ICCE (Instituto de Criminalística Carlos Éboli) que atuou na perícia do carro do ex-presidente Juscelino Kubitschek, morto em acidente na via Dutra em 1976, a decisão pode comprometer o trabalho dos peritos.
- O carro foi liberado sob uma condição esdrúxula. Evidentemente, a influência [da família] foi grande. Eles liberam com o compromisso de não mexer no carro. Isso é um absurdo. Às vezes, um detalhezinho bobo... Você muda a posição no carro e joga tudo no espaço, compromete a perícia totalmente.
Já o especialista em perícia criminal de acidentes de trânsito Rodrigo Kleinübing evita críticas à polícia, mas afirma que o ideal seria ter mantido o carro apreendido.
- Geralmente, em um caso desses, eles apreendem o veículo, porque podem precisar de mais alguma informação, como já aconteceu. O delegado disse que, talvez, vá pedir um terceiro exame. O ideal é o carro ser apreendido, ficar sob a guarda do Estado e não ser liberado para a parte envolvida. Tem que ter uma guarda para preservar o veículo. Mas, essa decisão de liberar o carro ou não é do delegado. Eu acho que o ideal seria manter o carro apreendido para se completar todos os exames.
Segundo o delegado Mario Roberto Arruda, titular da Delegacia de Xerém (61ª DP), o resultado da perícia feita no carro do filho do empresário Eike Batista deve sair entre 15 e 30 dias.
Entenda o caso
A batida ocorreu no sábado (17) à noite, na altura do km 101 da BR-040, que liga o Rio de Janeiro a Juiz de Fora, no distrito de Xerém, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Em depoimento na quarta-feira (21), Thor disse que o ajudante de caminhão atravessou no meio da pista.
Segundo o delegado Mario Roberto Arruda, tudo indica que a vítima não estava no acostamento no momento do acidente e que Thor seguia dentro da velocidade permitida.
Exames realizados com o sangue da vítima identificaram a concentração de 1,55 grama de álcool por litro de sangue. De acordo com cálculo feito pela Operação Lei Seca, isso equivale a pouco mais de sete latinhas de cerveja ou taças de vinho. O máximo de concentração tolerado pelo Código de Trânsito Brasileiro é de 0,2 grama de álcool por litro de sangue. Acima disso, considera-se a pessoa sem total domínio dos sentidos.
Outro lado
O R7 procurou a Polícia Civil para saber se a liberação do veículo de Thor Batista não comprometeria as investigações. A reportagem também questionou a rapidez na devolução do carro à família após o acidente. No entanto, até a publicação desta reportagem, a assessoria de imprensa da polícia não havia se manifestado.
Os advogados Celso Vilarge e Márcio Thomaz Bastos, que representam o empresário, também foram procurados. Até a publicação desta reportagem, ninguém havia retornado as ligações. O R7 entrou em contato com o advogado da família de Wanderson, que também não respondeu ao chamado.