A morte da pediatra e sanitarista Zilda Arns Neumann (75) deixou órfãs 1,4 milhão de famílias pobres atendidas pela Pastoral da Criança, criada por ela. Também ficam órfãos os quatro filhos de Zilda. Um deles, Rogério Arns, conversou com o R7. Ele falou sobre os últimos dias de Zilda com a família: os preparativos para o Natal, as brincadeiras com os netos e sua última conversa antes de viajar para o Haiti. Ele também conta sobre a crença de Zilda de que sua missão era ajudar os mais pobres.
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Confira, abaixo, trechos da entrevista:
A tragédia:
?A programação estava toda planejada, mas quando se chega a uma comunidade, as coisas mudam de última hora. Minha mãe estava em uma igreja fazendo sua palestra ao lado de um militar que traduzia o que ela dizia. A programação deveria acabar às 16h, mas ela ainda estava lá quando aconteceu o terremoto, às 17h...?
Haiti:
?Ela fez planos para o Haiti. Minha mãe já tinha ido anteriormente pra lá, e agora voltou porque queria fortalecer as ações da Pastoral com as crianças de lá. Já havia um embrião formado. Ela estava na praia com a família, mas precisou deixar tudo e ir para o Haiti porque ela sabia que o povo de lá precisava.?
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Natal em família:
?A previsão da família era ir para a praia logo depois do Natal, mas ela foi no dia 22, mais cedo. Ficou o Natal e o Ano-Novo. Ela estava extremamente contente com a família reunida.?
A mãe:
"Como mãe, ela também era muito engajada. Ela se preocupava com os detalhes. No Natal e no Ano-Novo na praia, ela era quem fazia a compra do supermercado, preparava o peixe, ia para a cozinha cuidar de tudo. Ela queria ser uma pessoa presente sempre. Ela era bem matriarca."
A avó:
"Ela era a vózona dos [dez] netos. Meus dois filhos eram apaixonados porque ela estimulava atividades, brincava e cantava com eles. Com ela, o mundo era lúdico."
A viagem:
?Ela não queria deixar a família, mas estava preocupada com seu discurso no Haiti. Então ela voltou para Curitiba na quinta-feira (6) à tarde. Deixou tudo pronto e foi para o Haiti no domingo bem cedo.?
A despedida:
?Eu encontrei com ela em casa na quinta. Saí do carro, dei a volta por trás dele e conversamos um pouco. Eu perguntei se ela precisava mesmo viajar para o Haiti no meio das férias. Ela falou que também não queria deixar a praia, mas que a viagem era importante porque essa era a missão dela. Ela sempre falava disso... Foi quando nos despedimos.?
A Pastoral sem Zilda Arns:
?Ela planejou tudo para que a Pastoral continuasse caminhando sem ela. No começo de tudo, sua preocupação era que as ações pelas crianças acontecessem em campo, com os lideres comunitários. A Pastoral continua suas atividades, mas é claro que a perda é grande porque ela era uma inspiração. Ela animava muito as comunidades, mas sabia que não seria eterna.?
Substituto:
?Ela sempre dizia que ninguém substitui ninguém, as pessoas se sucedem. A incógnita é quanto ao futuro da Pastoral fora do Brasil, porque ela tinha uma autoridade moral diante de entidades e da Igreja lá fora.?
Homenagens:
?A gente tem um grupo de amigos que está ajudando a organizar as homenagens, mas ela era simples e só gostava de ser lembrada pelo trabalho. Também vai ter uma missa, que era a vontade dela.?